Segundo certos estudiosos vivemos
numa época chamada pós-moderna desde a década de 1960[1], e
uma das características mais marcantes dela é o pluralismo. O pluralismo é uma
visão ou mais precisamente uma cosmovisão que defende a variedade e a
diversidade. É uma perspectiva que exalta a multiplicidade e as diferenças em
vez da homogeneidade, unidade e semelhança[2]. O
pluralismo desemboca no entendimento que relativiza a verdade e a entende não
como algo absoluto, mas como uma coisa múltipla, ou seja, existem diversas
expressões da verdade.
Neste sentido, uma verdade
relativizada leva, fatalmente, as pessoas que assim pensam, a imaginar que os
absolutos não existem no mundo ou que as mais diversas expressões de opiniões
podem tornar-se verdades locais, sem importar com uma verdade mais ampla ou universal.
Portanto, a verdade passa a ser assunto de cultura, de sociedades ou de foros
íntimos, significando que a sua definição depende não mais de princípios
universais absolutos ou divinos, mas sim de como ela é compreendida ou aceita
em cada particularidade.
É claro que esta é a definição que
o espírito pós-moderno impregnado na vida de muitas pessoas de nossos dias dá
para se relacionar com a verdade, porque não está confortável com a ideia de
prestar contas de suas ações no tribunal da verdade absoluta e divina que lhes
condenará por não se ajustarem à verdade. Ainda que não saibam disso, é
precisamente por não desejarem ser confrontados com uma verdade superior que
estas pessoas abraçaram o pluralismo.
Para a Filosofia[3] a
verdade sempre foi e é uma busca. Em termos gerais, a verdade é vista como
aquilo que contrasta com meras aparências. É aquilo que corresponde aos fatos
da questão. É algo que pode ser declarado genuíno ou real. A verdade é firme
diante das aparências e mudanças, portanto, não se altera. Definida assim, a
verdade é um caminho a prosseguir e a perseguir. Para o filósofo, deve-se
trilhar este caminho até que a verdade plena ou absoluta seja encontrada, por
isso, os filósofos pós-modernistas precisaram mudar radicalmente o conceito de
verdade para ajustá-lo ao período atual, pluralista.
Para a Teologia a verdade é algo
absoluto e tem sua fonte em Deus e em sua eterna palavra. Ela é coisa
fundamental e espiritual ao mesmo tempo. A verdade está relacionada
estreitamente com Deus essa verdade espiritual e moral é tão concreta (ou
verdadeira) quando as verdades matemáticas, científicas e histórica[4].
Teologicamente, a verdade é definida nos parâmetros simples do real e concreto
da filosofia, bem como é uma questão divina. Deus é verdadeiro, sua palavra é
verdadeira e, portanto, não há divergência entre a verdade e Deus como fonte
primária de tudo o que é verdadeiro.
Aqui chegamos ao ponto decisivo:
vivemos num mundo cada vez mais pluralista em relação ao conceito da verdade,
mas possuímos o conhecimento do Deus verdadeiro e de sua mensagem verdadeira
aos homens. Essas duas realidades são irreconciliáveis, por isso, temos um
choque de cultura e de conceitos contínuo quando tratamos dos princípios e da
expressão da verdade no dia a dia. Não há como conciliar esses aspectos, ou
aceitamos a verdade plural pós-modernista ou aceitamos a verdade plena e absoluta
de Deus nas Escrituras.
É certo que alguns também tentam
fazer acreditar que este não é o ponto de cisão ou de fragmentação cultural,
filosófica ou espiritual que engloba a vida em nosso mundo, e tentam
desacreditar que não há escolhas a se fazer entre estas duas cosmovisões, mas é
também certo que não pode haver duas verdades antagônicas ou opostamente
iguais, porque elas se anulariam. Ou uma está certa ou a outra está. Vivemos
sim, num mundo onda há uma guerra intelectual e espiritual pela verdade e por
qual verdade se deve viver.
A mensagem de Jesus, o Cristo
(Messias) é única neste cenário: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém
vem ao Pai, senão por mim” (João 14.6). Esta declaração é figurativa acerca da
pessoa do próprio Jesus, mas encarna uma verdade superior representativa. Ele é
a fonte e expressão da verdade absoluta que é atemporal a acultural. Sua
verdade é única, essencial e final, ela é o término da busca filosófica. Se
tudo no universo termina e se decompõe, porque não haveria uma verdade final? E
por que ela não poderia estar nele? Não há nada que impeça isso de ser
verdadeiro!
Este Jesus nos ordenou uma tarefa
global: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos
16.15). Jesus com isso quis nos asseverar que a sua mensagem (o evangelho) é
uma verdade essencial, fundamental e absoluta, e que os homens, independente do
lugar onde vivem, da cultura que tenham aprendido e dos conceitos ou cosmovisão
que advoguem, deveriam viver por esta verdade maior. Sabemos o quanto Jesus era
coerente e o quanto ele era verdadeiro pelo testemunho que seus seguidores
deixaram escrito. Ninguém em sã consciência (em sã consciência!) ousaria dizer
que ele nos ordenaria tal empreendimento se não considerasse que fosse algo
importante.
Assim
como bilhões de pessoas neste mundo compreendem que as palavras de Jesus são
boas e benéficas para trazer a paz aos corações e a mudança da sociedade em um
lugar mais justo, verdadeiro e amável, estas suas últimas palavras ditas antes
de nos deixar são tão verdadeiras quanto as outras. Temos, portanto, uma
mensagem absoluta, um Deus absoluto, um Cristo verdadeiro, vivendo num ambiente
pluralista.
Sem desejar ofender a ninguém nem
ser acusado de causar intolerância ou implantar totalitarismo, Jesus nos
ordenou que mudássemos o mundo pela influência de sua verdade absoluta nos
corações dos seres humanos. Este é o nosso maior desafio de vida.
Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade.
II Coríntios 13.8
Uma vez que conhecemos o temor ao Senhor, procuramos
persuadir os homens.
II Coríntios 5.11 (NVI)
Carlos de Carvalho
Teólogo, Cientista Social, Pr. Sênior
da Comunidade Batista Bíblica, fundador da ONG ABAN Brasil
© Todos os
direitos reservados.
[1]
GRENZ, Stanley J. Pós-modernismo: um
guia para entender a filosofia do nosso tempo / Stanley J. Grenz; [tradução
Antivan Guimarães Mendes]. – São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 36.
[2] GRENZ,
Stanley J. Dicionário de ética: mais de
300 termos e ideias definidos de forma clara e concisa / Stanley J. Grenz,
Jay T. Smith; tradução Alipio Correio de Franca Neto, Glasfira Antas, Sandra
Mara Franca. – São Paulo: Editora Vida, 2005. p.133.
[3] Dicionário internacional de teologia do
Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.); [tradução Gordon
Chown]. – 2.ed. – São Paulo: Vida Nova, 2000. ps.2062-2063.
[4]
Enciclopédia Histórico-Teológica da
Igreja Cristã. Walter A. Elwell (Editor). [tradução Gordon Chown] – vol.III
– N-Z. São Paulo: Vida Nova, 1990. p.614.