terça-feira, 23 de julho de 2013


O caminho de Deus

“O caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; ele é escudo para todos os que nele se refugiam.”
Salmo 18.30

Como pessoas imperfeitas, que vivem em um nível de imperfeições das mais variadas, tal qual a falta do conhecimento sobre as origens do universo (que são teorias e suposições), do universo subatômico (invisível mesmo aos mais sofisticados aparelhos), da origem da vida e da própria realidade da consciência humana que é impossível ser fruto de evolução, podem entender o caminho de um Deus perfeito? Nossa cosmovisão e nossa ótica têm deficiências.

Não temos referência para fazer comparações com a perfeição. Nossas definições de perfeição são no mínimo imperfeitas por nossa própria insuficiência de referenciais. Por isso o ser humano tem tanto problema em relação a Deus, pelo simples fato de não reconhecer e aceitar que, em se tratando dele, estaremos a um abismo intransponível para o pleno conhecimento de sua pessoa.

É essa a causa de tanta incoerência, contradições, confusões, lutas acadêmicas e científicas, a imperfeição para conhecer e referenciar o perfeito. Por isso temos tantos desvios de rotas humanas, tantos choques de culturas, debates incontáveis e que jamais chegam a um consenso. Por causa disso também vemos tantos indivíduos irradiando sua ferocidade verbal e escrita contra aquele que não compreendem.

Ele deixou apenas um testemunho escrito de sua pessoa e atributos, as Escrituras bíblicas e também por isso temos problemas. Elas nos apresentam um Deus que age de maneira que não compreendemos muito bem e nos confunde em diversos momentos. Quando um ser perfeito age, nossa capacidade de entendimento imperfeita não percebe a perfeição nessas ações e quais os propósitos perfeitos por trás daquilo e nos perturbamos.

Por isso o salmista ao perceber essa perfeição em Deus, sabe que jamais poderá compreendê-la e que algumas coisas que estão escritas em sua palavra podem em algum momento nos confundir, ele faz a única coisa que é sensata a fazer diante da perfeição de Deus: refugiar-se nele. Ele descobre que se confiar nessa perfeição, mesmo que tenhamos dificuldades em compreendê-la, Deus se tornará uma defesa para nós.

Quem é que possui todas as respostas para a vida? Quem sabe como medir a perfeição para que se possa compará-la? Quem conhece todos os segredos do universo? Nenhum de nós! Portanto é mais sábio confiar naquele que é perfeito. Isso não significa que devemos parar de pensar e de investigar a criação, não significa que não existam coisas erradas no mundo ou que devemos parar de buscar por respostas.

Significa apenas que em relação a Deus podemos estar seguros que ele que é perfeito sabe exatamente o que está fazendo e o que não está fazendo no universo. Que ele age com perfeição e não compreendemos suas ações de maneira completa. Que o mundo é como é não por culpa dele, mas do próprio homem a quem ele permitiu o domínio de sua criação e que ele saberá o que fazer no momento certo, pois seu tempo não é o nosso.

Apesar de todas as tragédias humanas e naturais que enfrentamos constantemente, essas coisas não atestam contra a perfeição de Deus, atestam contra nossa imperfeição de não compreendê-lo e por causa disso fazemos as coisas do nosso jeito. Qual é o resultado que colhemos até aqui? Dê uma olhadinha no mundo por alguns minutos e verá o que criamos por achar que não precisamos de Deus.
Pense nisso!

Carlos Carvalho
Pastor Sênior da Comunidade Batista Bíblica Internacional


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Teologia & Religião

Em linhas bem gerais a Teologia é o estudo acerca das coisas de Deus, de sua revelação e de sua relação com a criação, incluindo os homens. Neste sentido a revelação de Deus assume o papel principal no contexto da análise a da forma referencial com a qual se trata os textos teológicos e suas conclusões. Teologia é uma ciência, portanto, que se ocupa de Deus, de sua natureza e seus atributos e de suas relações com o homem e com o universo.

A Religião não é a Teologia, nem a Teologia é Religião. A Religião é um sistema de doutrinas, crenças e práticas rituais próprias de um grupo social, estabelecido segundo uma determinada concepção de divindade e da sua relação com o homem; é um tipo de “fé”, um culto que se presta à divindade, consolidado nesse sistema. Também é a observância cuidadosa e contrita dos preceitos religiosos. R. C. Sproul, definiu majestosamente a diferença entre Religião e Teologia:

“Teologia é o estudo acerca de Deus, primária e principalmente, ao passo que Religião é o estudo de um tipo específico de comportamento humano.”[1]

Para esse Teólogo e Filósofo, há uma falha grave na distinção destes termos hoje e que erroneamente têm sido usados nas universidades. Não mais se diferencia a Teologia da Religião e isso traz sérios danos ao entendimento básico dos termos nas mentes dos estudantes e professores. Muitos não compreendem a diferenciação e fazem enorme confusão quando falam sobre os assuntos ou escrevem sobre eles. É preciso apontar a correta definição dos termos.


Carlos Carvalho

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Voltemos Ao Evangelho | Assista à 1ª aula do DVD “O que é Teologia Reformada?” de R. C. Sproul

Voltemos Ao Evangelho | Assista à 1ª aula do DVD “O que é Teologia Reformada?” de R. C. Sproul
Deus e o Mundo Mal
Salmo 9.10
“Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque tu, Senhor, não desamparas os que te buscam.”

Pode apenas parecer que este seja um assunto fácil de tratar, mas não é. Todos os que de alguma maneira questionam a existência de Deus usam argumentos de que se Deus existisse de fato, muitas das coisas ruins do mundo não aconteceriam ou o mal não teria a forma destrutiva que tem aos nossos olhos, porque, se Deus é bom, como o mal parece prevalecer neste mundo criado pelo bom Deus?
Da mesma forma, eles intencionalmente se esquecem de que a maldade do homem e suas consequências são originadas no próprio ser humano e não em Deus. A noção sociológica defendida por alguns de que o homem nasce essencialmente bom e é desvirtuado pelo meio onde vive[1], não encontra respaldo nas Escrituras, que asseveram a maldade intrínseca no homem desde o nascimento após a queda[2].
Portanto, temos um dilema: como conciliar as duas faces da moeda? Um Deus bom, criador do homem e do mundo, com um homem mal, gerador de um mundo mal? Aqui reside toda a virtude da questão. O fato de Deus ser quem é não anula o que o homem é, nem tampouco anula as consequências dos atos dos homens sobre os homens. Não é o caso que Deus se ausentou[3], como afirmam outros, mas um caso de responsabilização pelos atos.
Jamais aceitaríamos o fato de alguém não ser punido pelos crimes que cometeu, nunca acharíamos normal uma pessoa não ser penalizada por uma infração de trânsito, não concordaríamos com a liberdade de um criminoso de guerra, não receberíamos como normal e “acidental” a morte de alguém causada por imperícia médica. Os casos se multiplicariam a números absurdos se continuasse neste pensamento, não?
Pelo simples fato de que Deus responsabiliza o homem pelos seus atos contra o seu semelhante é que não vemos Ele agindo como um fictício juiz daqueles filmes futuristas em que essa pessoa assume todas as credenciais de juiz, júri e executor da pena sobre os criminosos[4]. Porque Deus não faz assim e permite que o homem puna e penalize o próprio homem, não podemos inferir que Ele não se importa ou não está interessado em nós.
Agora, passo à parte do Salmo que chamou minha atenção. Esse texto diz que Deus não desampara a nenhum daqueles que conhecem o seu nome e confiam nele. É importante notar que, como cristãos, acreditamos em toda a dimensão desta Escritura. O que quero dizer com isso é: cremos que de fato Deus jamais desampara e nunca abandona quem o conhece e confia nele. Como posso descrever isso de maneira que qualquer leitor possa entender isto? Deixe-me tentar!
Para um genuíno cristão, a morte e todas as mazelas e problemas da vida não são um problema de fato. Para nós, sofrer um acidente de carro, perder uma pessoa querida, passar pela falência, perder nossos bens, ser furtados ou roubados, ficar paralíticos, doentes ou acamados em um hospital não é fim de nossa vida ou de nossa jornada, cremos que em Deus, a dimensão do sofrimento nos elevará para mais perto dele e aproximará nosso encontro.
Quando os cristãos primitivos morriam nas dez perseguições romanas[5] nos dois primeiros séculos de nossa era, eles não temiam a morte por mais dolorosa, humilhante e violenta que fosse, pois sabiam que ao morrer aqui, estariam imediatamente nos braços do seu Senhor. Essa esperança e fé os faziam enfrentar a morte com coragem e honra. Não é diferente de nós e de nossos dias. Hoje precisamos compreender toda a dimensão de nossa declaração de fé em Deus para não sermos enganados por nós mesmos.
Se um cristão sofrer a morte por um acidente de avião, morrer em acidente de trânsito por causa de terceiros, perder alguém por causa de uma bala perdida, perder sua esposa, marido ou filho(a) numa mesa cirúrgica, morrer por doença terminal, ficar paralítico por acidente vascular cerebral, ter a vida ceifada numa guerra ou por qualquer outro meio moderno de morrer, isso não será um problema, pois confiamos no Senhor.
Isto significa que mesmo que iremos ficar tristes, com raiva, frustrados ou sem motivos para continuar por um tempo, depois nos levantamos em confiança porque conhecemos a Deus e sabemos que ao morrermos passamos para um nível mais pleno e elevado de vida, pois temos a certeza da vida que está por vir. Para nós então, essas questões sobre morte violenta, sofrimento e perdas não são motivos para não crer, e sim para crer em algo melhor no porvir.
Por isso o apóstolo Paulo pode dizer:
“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos.”
Romanos 14.8
E:
“Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”
1 Coríntios 15.55

Portanto, Nietzsche estava errado[6], o cristianismo não nos enfraquece, ao contrário, nossa fé nos torna mais fortes.

Carlos Carvalho
Teólogo e Pastor Sênior da Comunidade Batista Bíblica Internacional
Julho de 2013




[1] Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) – A Origem da Desigualdade Entre os Homens. Editora Escala, 2007. Rousseau acreditava que o homem no estado natural era um ser livre, com o coração em paz com o corpo em saúde, mas que não era nem bom nem mau, nem com vícios nem virtudes, sem relação moral nem de deveres (pp.49-50).
[2] Gênesis 6.5,11,12
[3] Forma atual do Deísmo originado pelo Lord Herbert de Cherbury, na primeira metade do século XVII – Enciclpédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã – Vida Nova, 1993. Vol 1, p.402.
[4] Judge Dredd, filme de ação norte-americano de 1995, dirigido por Danny Cannon, baseado no personagem de mesmo nome das histórias em quadrinhos de Willian Wisher Jr. E Michael De Luca, interpretado por Sylvester Stallone.
[5] O Livro dos Mártires de John Fox (1517-1587). CPAD, 2002, p. 7ss.
[6] O Anticristo, Friedrich Nietzsche (1844-1900). L&M Pocket, 2009. P.22.