O Corpus Christi de Urbano IV
Quero me
referir apenas de forma sintética a essas duas coisas que estão intrinsecamente
ligadas entre si: a celebração católica de Corpus
Christi e ao papa Urbano IV. Primeiro um pouco sobre esse homem que se
tornou papa católico em 29 de agosto de 1261.
Nascido como
Jacques Pantaléon, de família humilde, estudou teologia e direito civil em
Paris, enviado papal a várias missões diplomáticas pela Europa e Oriente, após
a morte de Alexandre IV, foi eleito papa, após três meses vago o trono papal
por dissensões internas dos oito cardeais da época.
Ativo, capaz,
confiante em si mesmo, como o descrevem biógrafos, menos de um ano de sua eleição,
criou catorze novos cardeais, destes, seis eram parentes ou subordinados que
ele tinha elegido, sete eram franceses, incluindo seu próprio sobrinho. Possuía
astúcia diplomática com predileção pela repressão, sabia como criar confusão em
seus empreendimentos, provocando dissensões entre cidades rivais. Nunca visitou
Roma – a sede do papado era em Lyon, França. Morreu no mesmo mês em que se
tornou papa, três anos depois em 1264.
Urbano IV se
relaciona com a celebração antes mesmo de tornar-se papa, quando clérigo de
Liège, na Bélgica. Lá, ele analisou o conteúdo das revelações de uma jovem do
mosteiro agostiniano de Mont Cornillon, chamada Juliana. Ela teve uma visão em
que via um disco refulgente branco, semelhante a uma lua cheia, tendo um dos
seus lados obscurecido por uma mancha, mas não compreendeu o significado disso.
Segundo se
conta, após anos de intensa oração, foi-lhe revelado o significado da “lua
incompleta”: ela simbolizava a Liturgia da Igreja, que estava falhando na
solenidade em louvor ao “Santíssimo Sacramento” e Juliana foi “escolhida” por
Deus para declarar ao mundo o desejo do céu. Após mais alguns anos, teólogos
foram consultados – Jacques Pantaléon entre estes, futuro Bispo de Verdum, Patriarca
de Jerusalém e futuro Papa – que muito se interessou pelas revelações de
Juliana.
No ano de sua
morte, chegou a Urbano IV a notícia de que na cidade de Bolsena, durante uma
missa na Igreja de Santa Cristina, em que o celebrante, que duvidava da “presença
real de Cristo na Eucaristia”, teve a visão em que a hóstia se transformava em
um pedaço de carne, que derrama muito sangue sobre corpos. A notícia do “milagre”
se espalhou, o papa foi informado dos detalhes e dezoito dias antes de morrer –
no mesmo mês de agosto – emitiu uma bula que determinava a celebração da festa
de Corpus Christi em toda a Igreja.
A partir daí,
essa celebração foi tomando porte e se espalhou pelo mundo católico até se
tornar o “centro da vida cristã” católica romana. Como de costume, além de
serem celebrações sem fundamentos bíblicos fortes – a não serem vagas citações
de textos habilmente ajustados ao contexto desejado – são baseadas em “visões”
e “revelações” que não podem ser jamais verificadas e comprovadas, porém com a
força da “infalibilidade papal” que lhes confere veracidade, tornam-se dogmas “reais”
aos fiéis católicos romanos. Coisas que outrora seriam consideradas heresias,
se revestem de “verdades celestiais” pelo poder de homens investidos de uma autoridade
que não lhes pertence e a quem o Cristo ressuscitado jamais a outorgou.
Cristãos bíblicos
não celebram a festa de Corpus Christi
porque, além de não ser uma celebração bíblica, o Corpus de Cristo é a igreja viva e dela participam todos os que
possuem verdadeira fé nele e nas doutrinas neotestamentárias. Paulo escrevendo
aos efésios nos deixou bem claro isto:
17 Rogo ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória,
vos dê um espírito de sabedoria que vos revele o conhecimento dele;
18 que ilumine os olhos do vosso coração, para que compreendais
a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança que ele
reserva aos santos,
19 e qual a suprema grandeza de seu poder para conosco, que
abraçamos a fé. É o mesmo poder extraordinário que
20 ele manifestou na pessoa de Cristo, ressuscitando-o dos
mortos e fazendo-o sentar à sua direita no céu,
21 acima de todo principado, potestade, virtude, dominação e de
todo nome que possa haver neste mundo como no futuro.
22 E sujeitou a seus pés todas as coisas, e o constituiu chefe
supremo da Igreja,
23 que é o seu corpo, o receptáculo daquele que enche
todas as coisas sob todos os aspectos.
Efésios 1:17-23 (Versão
Católica, grifo nosso)
Esquecem-se os
teólogos católicos que quando o Senhor celebrou a Santa Ceia e disse aos
discípulos “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue dado por vós”, dois
simples entendimentos não poderiam ser deixados de lado:
O primeiro – é que o sacrifício do
corpo e do sangue do Senhor fazia referência aos sacrifícios anteriores
exigidos pela lei para a purificação e perdão de pecados cometidos pelos homens
contra Deus. Os sacrifícios instituídos eram insuficientes para de fato
libertar o homem do jugo do pecado (Hebreus 10.1-18), por isso um sacrifício
perfeito foi gerado por Deus em Cristo Jesus. Portanto “corpo e sangue” falam
da oferta de Cristo para gerar a mudança da Aliança entre Deus e os homens.
O segundo – e mais simples ainda é que
quando o Senhor Jesus disse as palavras “meu corpo e meu sangue”, ele ainda
estava presente e não havia morrido. É muito óbvio que se trata de um
simbolismo poderoso do sacrifício que ainda não havia sido realizado. Como alguém
pode dizer que o pão é seu corpo e o vinho é o seu sangue se era ele mesmo quem
os estava repartindo ali, a não ser que se trate de um símbolo ou uma
referência?
Em nenhum
momento das Escrituras do Novo Testamento o Senhor nos disse que estaria
presente conosco através do pão e do vinho da Eucaristia, mas disse que estaria
conosco “até a consumação dos séculos” (Mateus 28.20) quando, depois de
ressuscitar, ordenou aos discípulos que fossem pelo mundo fazendo discípulos,
batizando e depois subiu aos céus. Isso não tem nada a ver com a Ceia ou com a
Eucaristia, mas sim com a Grande Comissão.
Na Ceia
(Eucaristia para os católicos), o Senhor com todas as palavras – mais claras
impossível – disse que deveríamos celebrar a Ceia “em memória de mim” (Lucas
22.19; 1 Coríntios 11.23-26) e não que aqueles elementos se “transformavam” em
partes vivas de si mesmo, pois a própria Escritura não pode se contradizer com
o texto já referido aos efésios onde o “corpo” do Senhor é a igreja dele. Talvez
seja muito fácil para teólogos não comprometidos com a verdade bíblica
manipular textos à sua vontade para se adequar aos seus interesses – coisa comum
nas religiões, seitas e até mesmo entre os “evangélicos” – mas a Palavra de Deus
não se curva a homens.
Sola Scriptura
C. K. Carvalho
Teólogo
Referências
Disponível em: http://ec.aciprensa.com/wiki/Papa_Urbano_IV#.U6Lk-JRdX3Q.
Acessado em 19/06/2014
Disponível em: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/PPUrban4.html.
Acessado em 19/06/2014
Disponível em: http://www.daemon.com.br/wiki/index.php?title=Papa_Urbano_IV.
Acessado em 19/06/2014
Disponível em: http://maradentro.com.br/amor-eucaristico-origem-da-festa-de-corpus-christi.html.
Acessado em 19/06/2014
Disponível em: http://maradentro.com.br/amor-eucaristico-origem-da-festa-de-corpus-christi.html#sthash.B8iYtS0P.dpuf.
Acessado em 19/06/2014