Devarim – as Palavras
Disse-lhes:
Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para
que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as
palavras desta lei.
Porque esta
palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra
prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir.
Deuteronômio 32.46-47
O ano é cerca
de 1400 antes de Cristo. Diante de Moisés está uma multidão incontável de
homens, mulheres e crianças, próximos do cumprimento da promessa que Yahweh
havia feito a eles de dar-lhes uma terra para que eles se tornassem uma nação.
Moisés não entrará nesta terra, mas a verá de longe. Morrerá ali no monte de
onde a olhará e aquela multidão nunca mais o verá.
Diante desta
realidade, Moisés está organizando os últimos detalhes para a empreitada na
terra prometida e, sem saber, a sua partida desta vida. Ele dá várias
orientações ao povo, aos líderes e a Josué, repete as leis e algumas
reinterpretações dela para o novo tempo que virá. Antes de saber de sua morte e
de liberar as bênçãos sobre as tribos, ele fala as palavras que destaquei
acima.
Estas palavras
foram dirigidas à congregação de Israel no deserto defronte da terra de Canaã e
são ordens expressas para o povo e para seus filhos. É certo que elas são
históricas, para um tempo determinado, mas possuem o que chamo de princípio
espiritual imutável, que ultrapassa o tempo e a cultura local para além daquele
momento específico.
Qual ou quais
os princípios que podemos encontrar neste pequeno texto que serve de
referencial para qualquer geração em qualquer época da existência humana? É
isso que tentarei demonstrar aqui em poucas sentenças. É necessário saber que a
palavra do título “devarim” é a palavra usada pelos rabinos para se referir ao
livro do Deuteronômio. Ela significa simplesmente “as palavras” ou “palavras”.
Isso é muito sugestivo para o propósito do livro.
São as
palavras ou o conteúdo dessas palavras que se revestem de extrema importância
para o povo de Deus, não somente do século XV ou XIV a.C., mas para todo o povo
de Deus em cada nação e em cada época. Portanto, as palavras que foram ditas e
posteriormente registradas são uma fonte inestimável de sabedoria e riquezas
espirituais que podem mudar a vida do que crê nelas e aquilo que está ao seu
redor. Vamos a elas.
“Aplicai o vosso coração”
Isto significa
simplesmente que as pessoas deveriam prestar atenção àquilo que estava sendo
dito (que seria escrito) com a finalidade que nunca deixassem de lado essas
orientações e que as passassem aos seus filhos com o mesmo cuidado e
reverência, pois o destino de ambos – deles e de seus filhos – dependia de como
eles se relacionassem com esses ditos.
Hoje, na Nova
Aliança não é diferente. É igualmente necessário atentar com cuidado para as
palavras do Senhor e para os escritos dos apóstolos por causa de todos os
ataques que a verdade bíblica sofre e também porque o nosso destino eterno e o
de nossos filhos dependem de como lemos, de como entendemos e de como aplicamos
essas verdades às nossas vidas. Ninguém ousaria dizer que as palavras de Jesus
não devem ser levadas em elevada conta, ao menos um cristão genuíno.
“O cuidado de cumprir”
Eles deveriam
fazer o esforço necessário para não deixar de cumprir nenhum item dos ditos e
fazer com que seus filhos reproduzissem a mesma coisa. A obediência é o que
está em foco aqui. Tanto o povo como a sua descendência deveriam viver em
obediência às palavras que estavam sendo ditas para que esta relação de “ouvir
e cumprir” trouxesse os benefícios que foram prometidos a eles.
É semelhante
nos dias atuais. Em Cristo Jesus, na Nova Aliança, somos reiteradas vezes
advertidos a cumprir e obedecer aos mandamentos do Senhor para cada indivíduo e
para a sua igreja, tanto no particular como no coletivo. Não há alternativas
atenuantes, devemos ter o mesmo princípio de obediência. Ou será que acreditamos
que receberemos as promessas celestiais e a vida eterna sem nenhuma obediência?
“Esta palavra não é vã”
A ideia é que
nada que Deus tenha dito, neste caso por revelação especial a Moisés, deve ser
descartado como inútil ou sem sentido. Tudo o que Deus falou, tudo o que for
dito e escrito que procede de Deus, todas as suas orientações e leis são úteis
ao seu povo, pois elas são carregas de um propósito original e futuro. Por isso
seu povo deveria possuir uma atitude correta em relação a estas palavras.
É por isso que
falo de princípios supraculturais e supra-históricos, pois eles superam as
barreiras do tempo e da história e falam a nós hoje, num tempo e época
diferentes, a pessoas de culturas diferentes, mas com a mesma força de outrora.
A palavra de Deus, as palavras de Jesus e dos apóstolos são exatamente assim,
não são vãs ou inúteis, todas têm propósito e futuro.
“É a vossa vida”
Moisés disse
àquelas pessoas que as palavras ditas e escritas seriam a fonte da vida delas.
Isso é muito forte. Isto equivale a dizer que a própria existência de alguém
está diretamente relacionada com uma palavra. Isso é poderosamente absurdo e é
exatamente a ideia que Moisés queria passar. A vida de cada pessoa ali dependia
daquelas palavras proferidas até aquele exato momento.
Na Nova
Aliança é igual. A ideia de Deus permanece a mesma. Nós devemos viver, andar e
agir de acordo com as palavras do Senhor. Elas são para os cristãos a sua fonte
de vida e da própria existência. Suas palavras nos orientam e moldam nossa nova
natureza. É por elas, que qualquer que diz servi-lo e amá-lo, deve guiar-se e
conduzir-se pela vida e pela história. Ao final farei referência a algumas
delas.
“Prolongareis os dias”
Israel como
nação e cada pessoa desta nova nação somente possuiria longevidade (longos
dias) relacionando-se adequadamente com estas palavras. Isso significa que a
própria definição de vida longa para eles dependeria do cumprimento daquelas
palavras. Obedecer às palavras de Deus traria anos de vida, paz e segurança para
o povo, algo extremamente necessário para eles diante do desconhecido e do
futuro proposto ao entrarem na terra prometida.
Hoje sabemos
que os índices de mortalidade dos adolescentes e jovens por vezes superam o
infantil e o de idosos. Isto significa que uma parte significativa de nossa
geração não chegará à velhice porque têm morrido por fruto de comportamentos
irresponsáveis consigo mesma, como uso de drogas, de tabaco, de álcool, da
promiscuidade sexual e da entrada na criminalidade. Então, urgentemente nossa
geração precisa se voltar à palavra do Senhor para que seus dias se completem e
suas vidas sejam plenas.
As palavras do Senhor Jesus
Quero fazer
referência a algumas palavras ditas por Jesus e a relação delas com nossa vida,
com nossa existência e com nossa maneira de agir, para mostrar – mesmo sendo
desnecessário a cristãos genuínos – a importância que elas têm. Faremos bem ao
usarmos os mesmos princípios de “aplicar o coração e obedecer” que vimos até
aqui com elas.
Ele, porém, respondendo, disse: Está
escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de
Deus.
Mateus 4.4
Portanto ide, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Ensinando-os a guardar
todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação
dos séculos. Amém.
Mateus 28.19-20 (negrito nosso)
O espírito é o que vivifica, a carne
para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida.
João 6.63
Em verdade, em verdade vos digo que,
se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
João 8.51
Quem me rejeitar a mim, e não receber
as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o
há de julgar no último dia.
Porque eu não tenho falado de mim
mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer
e sobre o que hei de falar.
E sei que o seu mandamento é a vida
eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.
João 12.48-50
Jesus respondeu, e disse-lhe: Se
alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele,
e faremos nele morada.
Quem não me ama não guarda as minhas
palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.
João 14.23-24
Se vós estiverdes em mim, e as minhas
palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
João 15.7
Santifica-os na tua verdade; a tua
palavra é a verdade.
João 17.17
Pense nisso!
Carlos Carvalho
Teólogo e Pastor Sênior da
Comunidade Batista Bíblica
27 de junho de 2014