terça-feira, 1 de julho de 2014

Devarim – as Palavras

Disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei.
Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir.
Deuteronômio 32.46-47

O ano é cerca de 1400 antes de Cristo. Diante de Moisés está uma multidão incontável de homens, mulheres e crianças, próximos do cumprimento da promessa que Yahweh havia feito a eles de dar-lhes uma terra para que eles se tornassem uma nação. Moisés não entrará nesta terra, mas a verá de longe. Morrerá ali no monte de onde a olhará e aquela multidão nunca mais o verá.

Diante desta realidade, Moisés está organizando os últimos detalhes para a empreitada na terra prometida e, sem saber, a sua partida desta vida. Ele dá várias orientações ao povo, aos líderes e a Josué, repete as leis e algumas reinterpretações dela para o novo tempo que virá. Antes de saber de sua morte e de liberar as bênçãos sobre as tribos, ele fala as palavras que destaquei acima.

Estas palavras foram dirigidas à congregação de Israel no deserto defronte da terra de Canaã e são ordens expressas para o povo e para seus filhos. É certo que elas são históricas, para um tempo determinado, mas possuem o que chamo de princípio espiritual imutável, que ultrapassa o tempo e a cultura local para além daquele momento específico.

Qual ou quais os princípios que podemos encontrar neste pequeno texto que serve de referencial para qualquer geração em qualquer época da existência humana? É isso que tentarei demonstrar aqui em poucas sentenças. É necessário saber que a palavra do título “devarim” é a palavra usada pelos rabinos para se referir ao livro do Deuteronômio. Ela significa simplesmente “as palavras” ou “palavras”. Isso é muito sugestivo para o propósito do livro.

São as palavras ou o conteúdo dessas palavras que se revestem de extrema importância para o povo de Deus, não somente do século XV ou XIV a.C., mas para todo o povo de Deus em cada nação e em cada época. Portanto, as palavras que foram ditas e posteriormente registradas são uma fonte inestimável de sabedoria e riquezas espirituais que podem mudar a vida do que crê nelas e aquilo que está ao seu redor. Vamos a elas.

“Aplicai o vosso coração”

Isto significa simplesmente que as pessoas deveriam prestar atenção àquilo que estava sendo dito (que seria escrito) com a finalidade que nunca deixassem de lado essas orientações e que as passassem aos seus filhos com o mesmo cuidado e reverência, pois o destino de ambos – deles e de seus filhos – dependia de como eles se relacionassem com esses ditos.
Hoje, na Nova Aliança não é diferente. É igualmente necessário atentar com cuidado para as palavras do Senhor e para os escritos dos apóstolos por causa de todos os ataques que a verdade bíblica sofre e também porque o nosso destino eterno e o de nossos filhos dependem de como lemos, de como entendemos e de como aplicamos essas verdades às nossas vidas. Ninguém ousaria dizer que as palavras de Jesus não devem ser levadas em elevada conta, ao menos um cristão genuíno.

“O cuidado de cumprir”

Eles deveriam fazer o esforço necessário para não deixar de cumprir nenhum item dos ditos e fazer com que seus filhos reproduzissem a mesma coisa. A obediência é o que está em foco aqui. Tanto o povo como a sua descendência deveriam viver em obediência às palavras que estavam sendo ditas para que esta relação de “ouvir e cumprir” trouxesse os benefícios que foram prometidos a eles.
É semelhante nos dias atuais. Em Cristo Jesus, na Nova Aliança, somos reiteradas vezes advertidos a cumprir e obedecer aos mandamentos do Senhor para cada indivíduo e para a sua igreja, tanto no particular como no coletivo. Não há alternativas atenuantes, devemos ter o mesmo princípio de obediência. Ou será que acreditamos que receberemos as promessas celestiais e a vida eterna sem nenhuma obediência?

“Esta palavra não é vã”

A ideia é que nada que Deus tenha dito, neste caso por revelação especial a Moisés, deve ser descartado como inútil ou sem sentido. Tudo o que Deus falou, tudo o que for dito e escrito que procede de Deus, todas as suas orientações e leis são úteis ao seu povo, pois elas são carregas de um propósito original e futuro. Por isso seu povo deveria possuir uma atitude correta em relação a estas palavras.
É por isso que falo de princípios supraculturais e supra-históricos, pois eles superam as barreiras do tempo e da história e falam a nós hoje, num tempo e época diferentes, a pessoas de culturas diferentes, mas com a mesma força de outrora. A palavra de Deus, as palavras de Jesus e dos apóstolos são exatamente assim, não são vãs ou inúteis, todas têm propósito e futuro.

“É a vossa vida”

Moisés disse àquelas pessoas que as palavras ditas e escritas seriam a fonte da vida delas. Isso é muito forte. Isto equivale a dizer que a própria existência de alguém está diretamente relacionada com uma palavra. Isso é poderosamente absurdo e é exatamente a ideia que Moisés queria passar. A vida de cada pessoa ali dependia daquelas palavras proferidas até aquele exato momento.
Na Nova Aliança é igual. A ideia de Deus permanece a mesma. Nós devemos viver, andar e agir de acordo com as palavras do Senhor. Elas são para os cristãos a sua fonte de vida e da própria existência. Suas palavras nos orientam e moldam nossa nova natureza. É por elas, que qualquer que diz servi-lo e amá-lo, deve guiar-se e conduzir-se pela vida e pela história. Ao final farei referência a algumas delas.

“Prolongareis os dias”

Israel como nação e cada pessoa desta nova nação somente possuiria longevidade (longos dias) relacionando-se adequadamente com estas palavras. Isso significa que a própria definição de vida longa para eles dependeria do cumprimento daquelas palavras. Obedecer às palavras de Deus traria anos de vida, paz e segurança para o povo, algo extremamente necessário para eles diante do desconhecido e do futuro proposto ao entrarem na terra prometida.
Hoje sabemos que os índices de mortalidade dos adolescentes e jovens por vezes superam o infantil e o de idosos. Isto significa que uma parte significativa de nossa geração não chegará à velhice porque têm morrido por fruto de comportamentos irresponsáveis consigo mesma, como uso de drogas, de tabaco, de álcool, da promiscuidade sexual e da entrada na criminalidade. Então, urgentemente nossa geração precisa se voltar à palavra do Senhor para que seus dias se completem e suas vidas sejam plenas.

As palavras do Senhor Jesus

Quero fazer referência a algumas palavras ditas por Jesus e a relação delas com nossa vida, com nossa existência e com nossa maneira de agir, para mostrar – mesmo sendo desnecessário a cristãos genuínos – a importância que elas têm. Faremos bem ao usarmos os mesmos princípios de “aplicar o coração e obedecer” que vimos até aqui com elas.

Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
Mateus 4.4

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.
Mateus 28.19-20 (negrito nosso)

O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida.
João 6.63

Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
João 8.51

Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.
Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar.
E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.
João 12.48-50

Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.
João 14.23-24

Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
João 15.7

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.
João 17.17

Pense nisso!


Carlos Carvalho
Teólogo e Pastor Sênior da Comunidade Batista Bíblica

27 de junho de 2014

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