Sofrimentos, Tragédias
e Caos no Mundo
Li hoje um
trecho de certo livro que descrevia a maldade, a doença e a morte trágica de
duas formas: como atos de Deus em punição aos humanos ou que estes mesmos males
são a demonstração de que Deus não é poderoso o suficiente para eliminá-los do
mundo. Portanto, o texto diz que Deus não liga para o que acontece com os seres
humanos, que Ele não é bom nem onipotente. Ou seja, qualquer que seja o
resultado do que aconteça por aqui, tudo é, ao final, culpa de Deus.
Mesclar uma
quantidade de exemplos dos sofrimentos de pessoas reais, sofrimentos concretos
pelos quais elas passaram e somar tudo isso ao nosso sofrimento e tragédia
particular não nos trará as respostas que procuramos, ao contrário, acumulará
mais confusão e menos discernimento sobre o foco principal de nossas questões
existenciais. Frequentemente, todas as “respostas” que encontramos a partir
dessas premissas e perspectivas serão equívocos sobre a natureza de Deus.
Um
Ao abordar o
sofrimento humano na perspectiva humana considerando Deus como um eterno
benfeitor dos homens, sem levar em consideração as próprias decisões humanas
sobre a vida como um todo, e, ao mesmo tempo, quando coisas ruins ou negativas
recaem sobre pessoas que consideramos “boas”, “inocentes” e “honestas”, sem
levar em conta que diante de Deus não há ninguém nestas condições no planeta é
cometer um tremendo equívoco quanto à santidade de Deus e quanto à distância do
homem em relação a Deus.
Dois
Colocar a
questão do sofrimento, doença e morte dos homens sobre a ótica do
“merecimento”, onde “fazer o bem traz o bem e fazer o mal traz o mal”, ou
qualificar estes mesmos males como sinais de que a bondade e o poder de Deus
são insuficientes ou improváveis, é tão grotesco quanto considerar que Deus
está obrigado a satisfazer todas as nossas necessidades e nos manter seguros e
sadios, mesmo quando não estamos dispostos a levar em conta a sua vontade ou
que Ele deva sempre agir a qualquer momento a nosso favor por apenas acharmos
que fazemos a sua vontade.
Três
Procurar
compreender a Deus de forma parcial – apenas na ótica da Lei e dos Profetas –
sem a revelação de Jesus Cristo como o Messias e Servo sofredor das Escrituras
Sagradas, somente aumentará a frustração por não entender que o próprio Deus
tomou para si a capacidade de sofrer pelos homens em seus traumas mais
profundos quando entregou seu Filho para morrer em nosso favor. Deus se
solidarizou com o nosso sofrimento e tragédias pessoais quando pessoalmente se
envolveu com a morte violenta de Jesus causada pelos homens que deveriam
amá-lo.
Quatro
Não
compreender a particular circunstância à qual Jesus foi exposto pela ação de
Deus para corrigir os erros dos homens na cruz e em como essas ações o levaram
a perceber que por causa dos pecados humanos, o próprio Deus, seu Pai, deveria
olhar para o outro lado até que tudo se consumasse, e Jesus sentisse em sua
alma a separação de Deus quando clamou: “Deus meu, porque me desamparaste?” é
não possuir a perspicácia necessária para ver o quanto Deus se importa conosco.
Cinco
Não levar, ao
final, em conta o preço do pecado original ou não acreditar que o ato de Adão
foi o causador e desencadeador de todos os males da humanidade e que isso não
foi culpa do Criador, mas da criatura que possuía o poder de escolha, é o mesmo
que acreditar que um mundo criado por Deus, com a capacidade doada do livre
arbítrio ao homem não traria com isso a possibilidade do mal, do sofrimento e
do caos social. Os avisos de Deus não foram ouvidos por Adão assim como não são
ouvidos pela humanidade de hoje.
Seis
A morte, não
importa como ela venha, com que roupa se vista ou de que maneira seja vista –
seja como doença mortal, como violência, como tragédia ou natural – sempre será
a morte, o fim da existência, e, mesmo que não gostemos disso, ela será sempre
o fruto de um erro humano que somente o sacrifício voluntário de Jesus poderia
corrigir, mas não apenas para esta vida, porém para além dela, uma vida eterna
que possibilitará vivermos sem sofrimentos, sem tragédias e sem a presença da
morte.
Concluindo
As palavras de
Deus que ecoaram no Éden naquele fatídico dia ainda podem ser ouvidas até hoje:
“...Comeste tu da árvore de que te
ordenei que não comesses?”
Gênesis 3:11
Porque Deus já
os havia avisado antes:
“Mas do fruto da árvore que está no
meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não
morrais.”
Gênesis 3:3
Portanto, a
morte, por mais que rejeitemos o fato concreto sobre ela – o fruto da escolha
equivocada do ser humano – sempre será nesta existência, a coisa mais vista,
registrada e reconhecida por todos nós, mesmo que ela altere sua configuração e
apresentação para cada tipo de pessoa ou grupo. Há no cosmo aquilo que
entendemos por “constantes” ou “forças contínuas”, como a gravidade e o tempo,
mas ouso dizer que a morte é uma das maiores constantes no universo.
E para não
perecer que sou insensível e duro demais com o sofrimento alheio digo isto: eu
e minha esposa perdemos o nosso filho (perfeito e sem doenças) por conta de um
agravamento inesperado no parto que lhe parou o coração no dia do seu
nascimento. Temos três maravilhosas filhas e desejávamos o nosso menino, porém
jamais culpamos a Deus ou a ninguém pelo ocorrido, nem jamais procuramos
“respostas” para o porquê disto ter acontecido conosco, apenas aceitamos o fato
que este tipo de coisa podia ocorrer com qualquer um num universo onde o mal e
a dor são uma possibilidade real, mesmo debaixo de grande sofrimento para minha
esposa que ecoa até hoje em sua alma.
“Tudo sucede igualmente a todos; o
mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao
que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que
jura como ao que teme o juramento.
Este é o mal que há entre tudo quanto
se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos
filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração
enquanto vivem, e depois se vão aos mortos.”
Eclesiastes 9:2-3
Para nós,
diferente daqueles que não possuem uma revelação mais plena de Deus em Jesus
Cristo, Deus é onipotente, todo-poderoso, bondoso, amoroso, pai, justo, santo,
puro e fiel. E todos os que exercem fé simples e pura em seu amor e poder sabem
que a vida não é perfeita, pois ela foi contaminada com o pecado inicial, mas
que isto será plenamente solucionado por Ele no novo universo que criará para
seus escolhidos.
“Ouvi uma grande voz do céu, que
dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e
eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
E Deus limpará de seus olhos toda a
lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as
primeiras coisas são passadas.
E o que estava assentado sobre o
trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque
estas palavras são verdadeiras e fiéis.”
Apocalipse 21:3-5
Bp. Carlos Carvalho
Teólogo e Pr. Sênior da
Comunidade Batista Bíblica
3 de julho de 2014
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