sexta-feira, 18 de julho de 2014


Sofrimentos, Tragédias e Caos no Mundo

Li hoje um trecho de certo livro que descrevia a maldade, a doença e a morte trágica de duas formas: como atos de Deus em punição aos humanos ou que estes mesmos males são a demonstração de que Deus não é poderoso o suficiente para eliminá-los do mundo. Portanto, o texto diz que Deus não liga para o que acontece com os seres humanos, que Ele não é bom nem onipotente. Ou seja, qualquer que seja o resultado do que aconteça por aqui, tudo é, ao final, culpa de Deus.

Mesclar uma quantidade de exemplos dos sofrimentos de pessoas reais, sofrimentos concretos pelos quais elas passaram e somar tudo isso ao nosso sofrimento e tragédia particular não nos trará as respostas que procuramos, ao contrário, acumulará mais confusão e menos discernimento sobre o foco principal de nossas questões existenciais. Frequentemente, todas as “respostas” que encontramos a partir dessas premissas e perspectivas serão equívocos sobre a natureza de Deus.

Um
Ao abordar o sofrimento humano na perspectiva humana considerando Deus como um eterno benfeitor dos homens, sem levar em consideração as próprias decisões humanas sobre a vida como um todo, e, ao mesmo tempo, quando coisas ruins ou negativas recaem sobre pessoas que consideramos “boas”, “inocentes” e “honestas”, sem levar em conta que diante de Deus não há ninguém nestas condições no planeta é cometer um tremendo equívoco quanto à santidade de Deus e quanto à distância do homem em relação a Deus.

Dois
Colocar a questão do sofrimento, doença e morte dos homens sobre a ótica do “merecimento”, onde “fazer o bem traz o bem e fazer o mal traz o mal”, ou qualificar estes mesmos males como sinais de que a bondade e o poder de Deus são insuficientes ou improváveis, é tão grotesco quanto considerar que Deus está obrigado a satisfazer todas as nossas necessidades e nos manter seguros e sadios, mesmo quando não estamos dispostos a levar em conta a sua vontade ou que Ele deva sempre agir a qualquer momento a nosso favor por apenas acharmos que fazemos a sua vontade.

Três
Procurar compreender a Deus de forma parcial – apenas na ótica da Lei e dos Profetas – sem a revelação de Jesus Cristo como o Messias e Servo sofredor das Escrituras Sagradas, somente aumentará a frustração por não entender que o próprio Deus tomou para si a capacidade de sofrer pelos homens em seus traumas mais profundos quando entregou seu Filho para morrer em nosso favor. Deus se solidarizou com o nosso sofrimento e tragédias pessoais quando pessoalmente se envolveu com a morte violenta de Jesus causada pelos homens que deveriam amá-lo.

Quatro
Não compreender a particular circunstância à qual Jesus foi exposto pela ação de Deus para corrigir os erros dos homens na cruz e em como essas ações o levaram a perceber que por causa dos pecados humanos, o próprio Deus, seu Pai, deveria olhar para o outro lado até que tudo se consumasse, e Jesus sentisse em sua alma a separação de Deus quando clamou: “Deus meu, porque me desamparaste?” é não possuir a perspicácia necessária para ver o quanto Deus se importa conosco.

Cinco
Não levar, ao final, em conta o preço do pecado original ou não acreditar que o ato de Adão foi o causador e desencadeador de todos os males da humanidade e que isso não foi culpa do Criador, mas da criatura que possuía o poder de escolha, é o mesmo que acreditar que um mundo criado por Deus, com a capacidade doada do livre arbítrio ao homem não traria com isso a possibilidade do mal, do sofrimento e do caos social. Os avisos de Deus não foram ouvidos por Adão assim como não são ouvidos pela humanidade de hoje.

Seis
A morte, não importa como ela venha, com que roupa se vista ou de que maneira seja vista – seja como doença mortal, como violência, como tragédia ou natural – sempre será a morte, o fim da existência, e, mesmo que não gostemos disso, ela será sempre o fruto de um erro humano que somente o sacrifício voluntário de Jesus poderia corrigir, mas não apenas para esta vida, porém para além dela, uma vida eterna que possibilitará vivermos sem sofrimentos, sem tragédias e sem a presença da morte.

Concluindo
As palavras de Deus que ecoaram no Éden naquele fatídico dia ainda podem ser ouvidas até hoje:
“...Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?”
Gênesis 3:11
Porque Deus já os havia avisado antes:
“Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.”
Gênesis 3:3

Portanto, a morte, por mais que rejeitemos o fato concreto sobre ela – o fruto da escolha equivocada do ser humano – sempre será nesta existência, a coisa mais vista, registrada e reconhecida por todos nós, mesmo que ela altere sua configuração e apresentação para cada tipo de pessoa ou grupo. Há no cosmo aquilo que entendemos por “constantes” ou “forças contínuas”, como a gravidade e o tempo, mas ouso dizer que a morte é uma das maiores constantes no universo.

E para não perecer que sou insensível e duro demais com o sofrimento alheio digo isto: eu e minha esposa perdemos o nosso filho (perfeito e sem doenças) por conta de um agravamento inesperado no parto que lhe parou o coração no dia do seu nascimento. Temos três maravilhosas filhas e desejávamos o nosso menino, porém jamais culpamos a Deus ou a ninguém pelo ocorrido, nem jamais procuramos “respostas” para o porquê disto ter acontecido conosco, apenas aceitamos o fato que este tipo de coisa podia ocorrer com qualquer um num universo onde o mal e a dor são uma possibilidade real, mesmo debaixo de grande sofrimento para minha esposa que ecoa até hoje em sua alma.

“Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.
Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto vivem, e depois se vão aos mortos.”
Eclesiastes 9:2-3

Para nós, diferente daqueles que não possuem uma revelação mais plena de Deus em Jesus Cristo, Deus é onipotente, todo-poderoso, bondoso, amoroso, pai, justo, santo, puro e fiel. E todos os que exercem fé simples e pura em seu amor e poder sabem que a vida não é perfeita, pois ela foi contaminada com o pecado inicial, mas que isto será plenamente solucionado por Ele no novo universo que criará para seus escolhidos.

“Ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis.”
Apocalipse 21:3-5


Bp. Carlos Carvalho
Teólogo e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica

3 de julho de 2014

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