sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Predestinação ou Livre-arbítrio? Spurgeon tem algo a nos dizer



Nos primeiros três anos de minha fé, na década de 1990, não possuía recursos para a compra de livros cristãos ou revistas, por isso a minha leitura da Bíblia era (e até hoje o é) diária e sólida. Lembro-me que quando recebi minha primeira visita em casa, alguns meses após minha conversão, já tinha lido a Bíblia toda uma vez e estava na leitura do livro de Josué.

Por isto, desde cedo, obtive uma visão mais bíblica das doutrinas cristãs, e mais ainda porque não tinha acesso a livros teológicos, exceto o que nos era ensinado na Escola Bíblica Dominical. Também me lembro que desde os primeiros anos de minha fé tinha desenvolvido uma concepção que considerei escriturística sobre a predestinação e o livre-arbítrio. Quando era interpelado sobre o que eu achava ou cria acerca deste assunto, falava: “Creio na predestinação com base no livre-arbítrio!”

Acreditava e ainda acredito que esses dois assuntos não são contraditórios entre si, mas complementares. Se estas são verdades bíblicas, elas não podem se contradizer, mas se ajustar para nos dar um entendimento mais pleno da verdade de Deus. Decidi este ano reler alguns dos clássicos evangélicos do passado e separei em minha biblioteca certos livretos. Em um deles encontrei um texto interessante sobre este tema e reproduzo aqui:

“O sistema de verdades revelado nas Escrituras não se constitui somente de uma linha reta, porém de duas; e nenhum homem poderá obter uma visão correta do evangelho até que ele saiba como olhar para as duas linhas simultaneamente. Por exemplo, eu leio num dos livros da Bíblia: ‘O Espírito e a noiva dizem: vem. E aquele que ouve diga: vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida’.
No entanto, sou ensinado em outra parte da mesma Palavra inspirada que ‘não é daquele que deseja, nem daquele que corre, mas de Deus que mostra misericórdia’. Eu vejo por um lado, Deus presidindo em Sua providência sobre todas as coisas e, no entanto, não posso deixar de ver também que o homem age como ele bem entende e que Deus tem permitido, em grande medida, que suas ações sejam governadas por seu livre-arbítrio.
Entretanto, se eu declarasse que o homem tem liberdade suficiente para que pudesse agir sem o controle de Deus sobre suas atitudes, eu estaria muito próximo do ateísmo. Se, por outro lado, eu declarasse que Deus controla tudo de tal maneira que o homem deixa de ser livre o suficiente para ser responsável, eu estaria muito próximo do antinomianismo ou do fatalismo. Que Deus predestina e que o homem é responsável, são dois fatos que poucos podem ver claramente. Acredita-se que eles sejam incoerentes e contraditórios, mas não são.
A falha está na nossa fraca avaliação. Duas verdades não podem ser contrárias uma a outra. Se, por um lado, eu sou ensinado em parte da Bíblia que todas as coisas foram predeterminadas, isso é verdade; se, por outro lado, eu encontro em outra parte da Bíblia, que o homem é responsável por seus atos, isso também é verdade. É somente a minha insensatez que me leva a imaginar que essas duas verdades poderiam ser contraditórias.
Eu não creio que elas possam jamais ser caldeadas em nenhuma bigorna aqui na terra, mas certamente serão unidas na eternidade. Elas representam duas quase paralelas, tão próximas, que, quando a mente humana tenta segui-las por uma grande distância, jamais descobrirá que elas são convergentes, porém na verdade elas são e elas se encontrarão em algum lugar na eternidade, num local próximo ao trono de Deus, do qual toda verdade procede.”

Precisa de mais explicação?


Bp. Carlos Carvalho
Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica, Teólogo e Cientista Social
09 de outubro de 2015

Fonte:
SPURGEON, Charles Haddon. Verdades Chamadas Calvinistas: uma defesa. Publicações Evangélicas Selecionadas: São Paulo, 1976, p. 19-20.


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