Nos primeiros
três anos de minha fé, na década de 1990, não possuía recursos para a compra de
livros cristãos ou revistas, por isso a minha leitura da Bíblia era (e até hoje
o é) diária e sólida. Lembro-me que quando recebi minha primeira visita em
casa, alguns meses após minha conversão, já tinha lido a Bíblia toda uma vez e
estava na leitura do livro de Josué.
Por isto,
desde cedo, obtive uma visão mais bíblica das doutrinas cristãs, e mais ainda
porque não tinha acesso a livros teológicos, exceto o que nos era ensinado na
Escola Bíblica Dominical. Também me lembro que desde os primeiros anos de minha
fé tinha desenvolvido uma concepção que considerei escriturística sobre a
predestinação e o livre-arbítrio. Quando era interpelado sobre o que eu achava
ou cria acerca deste assunto, falava: “Creio na predestinação com base no
livre-arbítrio!”
Acreditava e
ainda acredito que esses dois assuntos não são contraditórios entre si, mas
complementares. Se estas são verdades bíblicas, elas não podem se contradizer,
mas se ajustar para nos dar um entendimento mais pleno da verdade de Deus. Decidi
este ano reler alguns dos clássicos evangélicos do passado e separei em minha
biblioteca certos livretos. Em um deles encontrei um texto interessante sobre
este tema e reproduzo aqui:
“O sistema de
verdades revelado nas Escrituras não se constitui somente de uma linha reta,
porém de duas; e nenhum homem poderá obter uma visão correta do evangelho até
que ele saiba como olhar para as duas linhas simultaneamente. Por exemplo, eu
leio num dos livros da Bíblia: ‘O Espírito e a noiva dizem: vem. E aquele que
ouve diga: vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a
água da vida’.
No entanto,
sou ensinado em outra parte da mesma Palavra inspirada que ‘não é daquele que
deseja, nem daquele que corre, mas de Deus que mostra misericórdia’. Eu vejo
por um lado, Deus presidindo em Sua providência sobre todas as coisas e, no
entanto, não posso deixar de ver também que o homem age como ele bem entende e
que Deus tem permitido, em grande medida, que suas ações sejam governadas por
seu livre-arbítrio.
Entretanto, se
eu declarasse que o homem tem liberdade suficiente para que pudesse agir sem o
controle de Deus sobre suas atitudes, eu estaria muito próximo do ateísmo. Se,
por outro lado, eu declarasse que Deus controla tudo de tal maneira que o homem
deixa de ser livre o suficiente para ser responsável, eu estaria muito próximo
do antinomianismo ou do fatalismo. Que Deus predestina e que o homem é
responsável, são dois fatos que poucos podem ver claramente. Acredita-se que
eles sejam incoerentes e contraditórios, mas não são.
A falha está
na nossa fraca avaliação. Duas verdades não podem ser contrárias uma a outra.
Se, por um lado, eu sou ensinado em parte da Bíblia que todas as coisas foram
predeterminadas, isso é verdade; se, por outro lado, eu encontro em outra parte
da Bíblia, que o homem é responsável por seus atos, isso também é verdade. É
somente a minha insensatez que me leva a imaginar que essas duas verdades
poderiam ser contraditórias.
Eu não creio
que elas possam jamais ser caldeadas em nenhuma bigorna aqui na terra, mas
certamente serão unidas na eternidade. Elas representam duas quase paralelas,
tão próximas, que, quando a mente humana tenta segui-las por uma grande
distância, jamais descobrirá que elas são convergentes, porém na verdade elas
são e elas se encontrarão em algum lugar na eternidade, num local próximo ao
trono de Deus, do qual toda verdade procede.”
Precisa de
mais explicação?
Bp. Carlos Carvalho
Pr. Sênior da Comunidade Batista
Bíblica, Teólogo e Cientista Social
09 de outubro de 2015
Fonte:
SPURGEON, Charles Haddon. Verdades Chamadas Calvinistas: uma
defesa. Publicações Evangélicas Selecionadas: São Paulo, 1976, p. 19-20.
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