segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Um Estudo sobre a Obediência Bíblica


Um Estudo sobre a Obediência Bíblica


Esta é uma palavra bem conhecida na Escritura Sagrada. Em linhas gerais, com suas variantes, ela aparece mais de 120 vezes nos dois Testamentos. Desde o livro do Gênesis quando o Senhor diz a Adão e Eva para que não tomem do fruto proibido e o casal lhe desobedece até Deus ordenar a Abraão que deixe sua terra e seus parentes para peregrinar em lugares que ele antes não tinha ido ou quando Abraão vai sacrificar seu próprio filho ao Senhor para demonstrar o extremo de sua obediência a Ele, vemos a obediência implícita e explícita nas páginas do livro.

Desde que o Senhor envia Moisés ao Egito como libertador de seu povo e o conduz ao deserto e os prova ali por tantos anos – precisamente por causa da sua resistência a obedecer aos mandamentos dele – até depois de estabelecidos na terra de Canaã, Deus lidou com a desobediência deles por causa de sua imoralidade, rejeição aos comandos de Deus para que não se misturassem com os povos pagãos e nem adorassem seus deuses e ídolos e causando finalmente a expulsão de Israel da terra prometida, vemos em tudo isso a obediência ou a desobediência como o centro das atenções.

No Novo Testamento, esta palavra aparece 48 vezes, portanto, quase metade das vezes de toda a Escritura. A obediência vem com uma série de significados e implicações:

A.    Em Jesus, a palavra assume a perspectiva de que os que creem nele devem “cumprir” ou “praticar”, que significa o mesmo que obedecer, as suas palavras (Mateus 7.24-27). Portanto, nos quatro Evangelhos, a obediência em relação a Jesus está relacionada com a ordem de praticar o que ele ensinou (veja Mateus 28.19,20 e João 15.14).

B.     Em Atos dos apóstolos a obediência tem quatro sentidos. Os apóstolos dizem que vão obedecer a Deus mesmo quando o Sinédrio tenta impedi-los de pregar a mensagem de Cristo (At.5.29); o Espírito Santo só está na vida daqueles que obedecem a Deus (At.5.32); muitos sacerdotes obedeciam a fé em Cristo (At.6.7); e Paulo até mesmo diz que não foi desobediente a uma visão espiritual eu recebeu (At.26.19).

C.     Nas epístolas, a obediência tem vários significados:

Em aos romanos, a obediência está conectada à luta contra o pecado. Ou se obedece ao pecado ou se obedece à justiça (Rom.2.8 e 6.12,16,17) e com a obediência da fé (Rom.10.16 e 15.18).

Em aos coríntios, Paulo estabelece os limites da vida cristã em várias áreas (1 Cor.10.23, por exemplo); faz menção da obediência dos crentes de corinto (2 Cor.2.9 e 7); e ensina que a finalidade da batalha espiritual é a obediência das mentes conquistadas a Cristo (2 Cor.10.3-6).

Em gálatas, a questão está na desobediência dos crentes ao evangelho de Cristo quando eles aceitaram obedecer a certos ritos da Lei, a exemplo da circuncisão, como garantia da salvação. Eles são repreendidos por não obedecerem à verdade de Cristo Jesus (Gál.5.7).

Em efésios, a obediência assume um caráter bem mais prático nas relações humanas, como a relação dos pais e filhos (Ef.6.1) e de patrão e empregado (Ef.6.5).

Em filipenses, o apóstolo descreve o nível de obediência sacrificial de Jesus (Fil.2.8), assim, os crentes devem desenvolver a salvação na obediência prestada ao que lhes foi ensinado (Fil.2.12).

Em colossenses, a questão retorna ao nível mais prático dos relacionamentos (Col.3.20,22).

Em tessalonicenses, a desobediência ao evangelho será julgada (2Tes.1.8) e que a igreja deve notar os que não obedecem às palavras dos apóstolos (2Tes.3.14,15).

Em Tito, os crentes devem ser ensinados a obedecerem as autoridades (Tit.3.1), que é um eco de Romanos 13.

Em hebreus, o autor descreve as consequências da obediência de Cristo a todos os que lhe obedecem (Hb.5.8,9); fala da obediência de Abraão (Hb.11.8) e da obediência aos pastores humanos (Hb.13.17)
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Em Tiago o foco é a prática da palavra de Deus (Tg.1.19-25) e da relação dos crentes com a Lei moral de Deus (Tg.2.8-13).

Pedro também dá ênfase a uma obediência mais prática que os crentes devem observar (veja, 1Pe.1.2,14 e 3.1,6).

Judas é uma carta que proclama quase que totalmente contra as formas de desobediência dos falsos cristãos e falsos líderes do povo de Deus (v.5-23).

E Apocalipse sinaliza o fim dos que não obedecem a Palavra de Deus nem se santificaram nesta obediência (Ap.21.8 e 22.15).

Por isto é que não podemos tratar a questão da obediência/desobediência como sendo algo de foro íntimo na vida dos cristãos ou somente como coisa de escolha pessoal, pois toda obediência será recompensada e toda desobediência será castigada ao final da história. Quando o profeta Samuel repreendeu o rei Saul por sua desobediência, aquilo não se constituiu apenas como o registro histórico da rejeição de Deus a um rei rebelde, mas a Escritura ali estabeleceu um princípio para além do contexto, que serve a qualquer tempo e a qualquer pessoa. O próprio Jesus se referiu ao princípio em outra ocasião totalmente diferente (leia Mateus 9.13).

Samuel, porém, respondeu: Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros.
Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria. Assim como você rejeitou a palavra do Senhor, ele o rejeitou como rei.
1 Samuel 15.22,23

Diferentemente do que alguns cristãos e cristãs pensam, a maioria dos pastores e líderes evangélicos – no sentido mais pleno da palavra – não os guiam debaixo de submissão cega ou exigindo obediência irracional (exceções existem, mas são facilmente percebidas). É igualmente importante saber que por mais livre que alguém seja em Cristo, isto não é sinal nem autorização para se agir em insurreição, rebeldia ou para a destruição dos fundamentos da harmonia do corpo de Cristo ou da comunidade de fé local a qual pertence.

Em Cristo.


Bp. Carlos Carvalho
Teólogo e Cientista Social

Comunidade Batista Bíblica

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