PASSIVIDADE CRISTÃ
Tenham cuidado, pois os homens os
entregarão aos tribunais e os açoitarão nas sinagogas deles.
Por minha causa vocês serão
levados à presença de governadores e reis como testemunhas a eles e aos
gentios.
Mas quando os prenderem, não se
preocupem quanto ao que dizer, ou como dizer. Naquela hora lhes será dado o que
dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês
falará por intermédio de vocês.
Mateus 10:17-20
Vivemos numa época em que os
temas de ordem são a tolerância mais ampla, principalmente a religiosa, os
direitos humanos mais plenos, principalmente na aceitação de comportamentos
sexuais que antes eram tidos como imorais, e a igualdade social, onde a
distribuição de renda é a principal ação para equilibrar o enorme abismo entre
os que mais têm e os que menos têm, sem, contudo, criar mecanismos de avanços
pessoais para os auxiliados. Todavia, todas essas agendas são reais,
necessárias em muitos níveis e precisam ser implementadas dentro da lei, do bom
senso e da ética.
Os cristãos evangélicos
em sua grande maioria são os que mais têm problemas conceituais nas situações
apresentadas acima, isto porque há uma clara divisão entre nós acerca da
maneira como devemos agir em relação a elas: ou nos calamos e vivemos nossas
vidas tranquilamente achando que nada nos atingirá ao longo do tempo, ou nos
levantamos e pelos mecanismos sociais e políticos que dispomos tentando mudar o
rumo das coisas. No fundo, como diz o profeta Elias
,
estamos “coxeando entre dois pensamentos”
.
É preciso contextualizar
urgentemente a época na qual vivemos para compreender a nossa maneira de agir.
Quando os apóstolos e discípulos dos primeiros três séculos viviam, eles
estavam debaixo de um império onde apenas o desejo de um monarca seria
suficiente para que fossem mortos das maneiras mais brutais. Nos demais séculos
até que viesse a Reforma, o Iluminismo e a Revolução Industrial, os cristãos
estavam submissos ao Catolicismo e aos reis, príncipes e dominadores, sob os
quais também não possuíam direitos assegurados em sua liberdade
.
Também é preciso levar em
consideração outras duas situações atuais. Não vivemos em países ou regiões
controladas por religiosos fundamentalistas onde ser cristão ainda é
considerado um crime punível com a morte, nem habitamos em países autoritários
e não democráticos, onde os cristãos vivem sem direitos de culto e com a
possibilidade de perderem seus bens ou de serem presos. Vivemos em países
livres ou moderadamente democráticos com direitos assegurados por Carta Magna e
por leis que garantem nossa segurança.
Aqui chegamos ao ponto nevrálgico
do que queremos nos fazer compreender. Em países como os nossos, a batalha
pelos direitos e pela paz social – no que diz respeito aos cristãos – não se dá
somente no campo espiritual de guerra contra as forças espirituais da maldade
que atuam para destruir os seres humanos, mas também nos campos político e da
legislação, na criação das leis que regem nossa sociedade
.
É precisamente nestes dois últimos lugares que os evangélicos têm ficado
confusos, ou seja, os crentes ainda não sabem o papel da igreja e do
Cristianismo nestas áreas. Porém, isto só é visto entre os cristãos mais
recentes, pois os do século XX para trás sabiam o que fazer.
Há um claro movimento político e
legislativo com os discursos legítimos de tolerância, dos direitos humanos e da
igualdade social, mas que tem uma agenda concreta de fazer calar o
Cristianismo, em alguns casos de acabar de vez com a força de nossa crença. Há
movimentos acadêmicos, até em faculdades e universidades de confissão de fé
cristãs onde a fé nas declarações sobrenaturais da Escritura, as narrativas
bíblicas e a própria Escritura são relativizadas, mitologizadas e
desacreditadas. Além de um bom número de movimentos chamados sociais que têm um
claro viés totalitário, comunista e socialista, nos quais o Cristianismo não
goza de aceitação.
Portanto, Cristianismo, cristãos
evangélicos e protestantes não podem aceitar passivamente o calar de suas vozes
em nome de agendas politicamente corretas ou legítimas, mas que inequivocamente
possuem intenções não ocultas de destruir a nossa fé, e para ser menos grave,
de no melhor das opções, nos transformar em passivos observadores, meramente
igualados num grande “ecumenismo religioso” e social no qual aceitamos que a
verdade que acreditamos e pregamos é apenas um pedaço do grande mosaico da
“verdade maior”, ou seja, da grande mentira religiosa gerada pela antiga
serpente lá no Édem
.
Deus nos deu as armas para o
combate excelente em todos os níveis que este se nos apresente, quer no campo
espiritual, quer no campo da verdade, seja no campo político e da legislação ou
no campo religioso. Não podemos ser passivos e tampouco nos calar na
proclamação da mensagem da fé e da verdade, mesmo que desagrade a quem quer que
seja, políticos, movimentos sociais ou religiosos. Nosso papel é maior do que
alguns querem nos fazer acreditar, mesmo sabendo que o mundo continuará
deteriorando-se moralmente até o retorno de Cristo
.
“...o
cristianismo é uma religião de luta.”
C.
S. Lewis
Cristianismo
Puro e Simples
Carlos Kleber Carvalho
Teólogo, Cientista Social, e Bispo da Igreja da Cidade - CBB.
Guarulhos, SP.