quinta-feira, 12 de maio de 2016

Passividade Cristã


PASSIVIDADE CRISTÃ

Tenham cuidado, pois os homens os entregarão aos tribunais e os açoitarão nas sinagogas deles.
Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis como testemunhas a eles e aos gentios.
Mas quando os prenderem, não se preocupem quanto ao que dizer, ou como dizer. Naquela hora lhes será dado o que dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês.
Mateus 10:17-20

Vivemos numa época em que os temas de ordem são a tolerância mais ampla, principalmente a religiosa, os direitos humanos mais plenos, principalmente na aceitação de comportamentos sexuais que antes eram tidos como imorais, e a igualdade social, onde a distribuição de renda é a principal ação para equilibrar o enorme abismo entre os que mais têm e os que menos têm, sem, contudo, criar mecanismos de avanços pessoais para os auxiliados. Todavia, todas essas agendas são reais, necessárias em muitos níveis e precisam ser implementadas dentro da lei, do bom senso e da ética.

Os cristãos evangélicos[1] em sua grande maioria são os que mais têm problemas conceituais nas situações apresentadas acima, isto porque há uma clara divisão entre nós acerca da maneira como devemos agir em relação a elas: ou nos calamos e vivemos nossas vidas tranquilamente achando que nada nos atingirá ao longo do tempo, ou nos levantamos e pelos mecanismos sociais e políticos que dispomos tentando mudar o rumo das coisas. No fundo, como diz o profeta Elias[2], estamos “coxeando entre dois pensamentos”
.
É preciso contextualizar urgentemente a época na qual vivemos para compreender a nossa maneira de agir. Quando os apóstolos e discípulos dos primeiros três séculos viviam, eles estavam debaixo de um império onde apenas o desejo de um monarca seria suficiente para que fossem mortos das maneiras mais brutais. Nos demais séculos até que viesse a Reforma, o Iluminismo e a Revolução Industrial, os cristãos estavam submissos ao Catolicismo e aos reis, príncipes e dominadores, sob os quais também não possuíam direitos assegurados em sua liberdade[3].

Também é preciso levar em consideração outras duas situações atuais. Não vivemos em países ou regiões controladas por religiosos fundamentalistas onde ser cristão ainda é considerado um crime punível com a morte, nem habitamos em países autoritários e não democráticos, onde os cristãos vivem sem direitos de culto e com a possibilidade de perderem seus bens ou de serem presos. Vivemos em países livres ou moderadamente democráticos com direitos assegurados por Carta Magna e por leis que garantem nossa segurança.

Aqui chegamos ao ponto nevrálgico do que queremos nos fazer compreender. Em países como os nossos, a batalha pelos direitos e pela paz social – no que diz respeito aos cristãos – não se dá somente no campo espiritual de guerra contra as forças espirituais da maldade[4] que atuam para destruir os seres humanos, mas também nos campos político e da legislação, na criação das leis que regem nossa sociedade[5]. É precisamente nestes dois últimos lugares que os evangélicos têm ficado confusos, ou seja, os crentes ainda não sabem o papel da igreja e do Cristianismo nestas áreas. Porém, isto só é visto entre os cristãos mais recentes, pois os do século XX para trás sabiam o que fazer.

Há um claro movimento político e legislativo com os discursos legítimos de tolerância, dos direitos humanos e da igualdade social, mas que tem uma agenda concreta de fazer calar o Cristianismo, em alguns casos de acabar de vez com a força de nossa crença. Há movimentos acadêmicos, até em faculdades e universidades de confissão de fé cristãs onde a fé nas declarações sobrenaturais da Escritura, as narrativas bíblicas e a própria Escritura são relativizadas, mitologizadas e desacreditadas. Além de um bom número de movimentos chamados sociais que têm um claro viés totalitário, comunista e socialista, nos quais o Cristianismo não goza de aceitação.

Portanto, Cristianismo, cristãos evangélicos e protestantes não podem aceitar passivamente o calar de suas vozes em nome de agendas politicamente corretas ou legítimas, mas que inequivocamente possuem intenções não ocultas de destruir a nossa fé, e para ser menos grave, de no melhor das opções, nos transformar em passivos observadores, meramente igualados num grande “ecumenismo religioso” e social no qual aceitamos que a verdade que acreditamos e pregamos é apenas um pedaço do grande mosaico da “verdade maior”, ou seja, da grande mentira religiosa gerada pela antiga serpente lá no Édem[6].

Deus nos deu as armas para o combate excelente em todos os níveis que este se nos apresente, quer no campo espiritual, quer no campo da verdade, seja no campo político e da legislação ou no campo religioso. Não podemos ser passivos e tampouco nos calar na proclamação da mensagem da fé e da verdade, mesmo que desagrade a quem quer que seja, políticos, movimentos sociais ou religiosos. Nosso papel é maior do que alguns querem nos fazer acreditar, mesmo sabendo que o mundo continuará deteriorando-se moralmente até o retorno de Cristo[7].

“...o cristianismo é uma religião de luta.”
C. S. Lewis
Cristianismo Puro e Simples


Carlos Kleber Carvalho
Teólogo, Cientista Social, e Bispo da Igreja da Cidade - CBB.
Guarulhos, SP.

Notas:

[1] Me refiro a esse termo para inserir todos os crentes protestantes e não católicos, mas não tenho por ele apreço pela forma como é banalizado em nossos dias.

[2]1 Reis 18:21.

[3] Não estou fazendo juízos de valor sobre estes temas. Houve os pontos positivos e negativos deles, mas não há espaço para essa discussão aqui.

[4] Aos efésios 6:12.

[5]1 Timóteo 2:1-2.

[6]No livro do Gênesis, capítulo 3, a serpente consegue enganar a primeira mulher relativizando e alterando o sentido das palavras ditas por Deus e lhe sugerindo o conhecimento de uma “verdade” que, segundo ela, Deus estava ocultando do ser humano. O resultado foi a morte espiritual e física dos descendentes de Adão.  

[7] Mateus 24:12

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