O Dia dos Namorados – do obscurantismo antigo aos nossos
dias
Esta é mais uma das comemorações que foram
sincretizadas por nós (ocidentais) e transformada em um excelente propulsor do
comércio para o capitalismo. Um dia interessante para se pensar e perceber as
nuances históricas e religiosas associadas a ele e refletir mais claramente
sobre a validade ou não desta data.
A intenção não é jogar um “balde de água
fria” nos sentimentos de ninguém, mas trazer reflexão histórica e individual
sobre o tema, isto porque para cada pessoa em particular, este dia pode ter um
significado diferente. Poderá significar tristeza pelo rompimento de um
relacionamento ou casamento, pode significar solidão por estar buscando uma
companhia e não ter achado ainda, saudade por não estar perto de quem se ama ou
pode significar alegria por estar com alguém.
A história do Dia de São Valentim remonta a
um obscuro dia de jejum tido em homenagem a São Valentim. A associação com o amor romântico chega depois do final da Idade Média, durante o qual o conceito de amor romântico foi formulado. O bispo Valentim lutou contra as ordens do imperador Cláudio II, que havia proibido o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros
eram melhores combatentes.
Além de continuar celebrando casamentos, ele
se casou secretamente, apesar da proibição do imperador. A prática foi
descoberta e Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto estava preso,
muitos jovens lhe enviavam flores e bilhetes dizendo que ainda acreditavam no
amor. Enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sua sentença, ele se
apaixonou pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a
visão. Antes da execução, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para ela, na
qual assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”.
Considerado mártir pela Igreja Católica, a data de sua morte - 14 de fevereiro - também marca a
véspera das Lupercais, festas anuais celebradas na Roma antiga em honra de Juno (deusa da mulher e do matrimônio) e de Pan (deus da natureza). Um dos rituais desse festival
era a passeata da fertilidade, em que os sacerdotes caminhavam pela cidade batendo em
todas as mulheres com correias de couro de cabra para assegurar a fecundidade
(já pensou se fizessem ainda assim?).
No século XVII, ingleses e franceses passaram a celebrar o Dia de São Valentim como a
união do Dia dos Namorados. A data foi adotada um século depois nos Estados Unidos, tornando-se o The Valentine's Day. Na Idade Média, dizia-se que o dia 14 de fevereiro era o
primeiro dia de acasalamento dos pássaros. Por isso, os namorados da Idade
Média usavam esta ocasião para deixar mensagens de amor na soleira da porta
do(a) amado(a).
Atualmente, o dia é principalmente associado
à troca mútua de recados de amor em forma de objetos simbólicos. Símbolos
modernos incluem a silhueta de um coração e a figura de um Cupido com asas. Iniciada no século XIX a prática de recados manuscritos deu lugar à troca de cartões de felicitação
produzidos em massa.
O dia de São Valentim era até a algumas
décadas uma festa comemorada principalmente em países anglo-saxões, mas ao
longo do século XX o hábito estendeu-se a muitos outros países. No Brasil, a data é comemorada no dia 12 de Junho, por ser véspera do 13 de junho, Dia de Santo Antônio, santo português com tradição de
casamenteiro.
A ênfase deste dia recai sobre os presentes e
cartões, sobre as declarações e ações que demonstram sentimentos. Todavia um
evidente fato se apresenta: o comércio. É o comércio dos bens de capital o
maior estimulador desta comemoração e não o amor entre as pessoas. Será que se
retornássemos um pouco apenas, ao passado e, somente fizéssemos declarações e
cartinhas de amor, sem comprar nada na praça, como reagiria todo o comércio ao
nosso redor?
Haveria as propagandas especiais agressivas
para conquistar os clientes nas ruas e shoppings?
Haveria todo o marketing da mídia na TV e na Internet? Fariam promoções de
viagens e pacotes para dois apenas pelo propósito do dia? Estimularia o
comércio e os comerciantes antecipadamente em um ou dois meses a compra de seus
produtos? A resposta é óbvia: Não! Não é o amor quem faz a propaganda do Dia
dos Namorados, é o vendedor que espera sua comissão e o dono do negócio que
espera retorno dos seus investimentos.
E antes que pensem algo contrário, declaro:
aprovo o capitalismo e a livre concorrência nos moldes de Max Weber e Adam Smith
e acredito na visão socialista de Karl Marx (o problema é unir isso), também
não tenho nada contra os vendedores e comerciantes, estou apenas fazendo uma
constatação da substituição que nossa sociedade fez das origens da data até
aqui.
Também constato que, ao substituirmos o
paganismo pelo cristianismo católico, e ao mantermos com isso as práticas pagãs
somente “cobertas” pelo simbolismo e panteão romano, ainda em certo nível
“adoramos” aos mesmos deuses. Ou seja, mudamos os nomes dos deuses para os
nomes dos “santos” e trocamos Juno por Mamon.
Pense nisso e não deixe de usar esta data
para demonstrar realmente que quem você ama é importante para você, com ou sem
presentes!
Carlos Carvalho
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