quarta-feira, 12 de junho de 2013


O Dia dos Namorados – do obscurantismo antigo aos nossos dias



Esta é mais uma das comemorações que foram sincretizadas por nós (ocidentais) e transformada em um excelente propulsor do comércio para o capitalismo. Um dia interessante para se pensar e perceber as nuances históricas e religiosas associadas a ele e refletir mais claramente sobre a validade ou não desta data.

A intenção não é jogar um “balde de água fria” nos sentimentos de ninguém, mas trazer reflexão histórica e individual sobre o tema, isto porque para cada pessoa em particular, este dia pode ter um significado diferente. Poderá significar tristeza pelo rompimento de um relacionamento ou casamento, pode significar solidão por estar buscando uma companhia e não ter achado ainda, saudade por não estar perto de quem se ama ou pode significar alegria por estar com alguém.

A história do Dia de São Valentim remonta a um obscuro dia de  jejum tido em homenagem a São Valentim. A associação com o amor romântico chega depois do final da Idade Média, durante o qual o conceito de amor romântico foi formulado. O bispo Valentim lutou contra as ordens do imperador Cláudio II, que havia proibido o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros eram melhores combatentes.

Além de continuar celebrando casamentos, ele se casou secretamente, apesar da proibição do imperador. A prática foi descoberta e Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto estava preso, muitos jovens lhe enviavam flores e bilhetes dizendo que ainda acreditavam no amor. Enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sua sentença, ele se apaixonou pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes da execução, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para ela, na qual assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”.

Considerado mártir pela Igreja Católica, a data de sua morte - 14 de fevereiro - também marca a véspera das Lupercais, festas anuais celebradas na Roma antiga em honra de Juno (deusa da mulher e do matrimônio) e de Pan (deus da natureza). Um dos rituais desse festival era a passeata da fertilidade, em que os sacerdotes caminhavam pela cidade batendo em todas as mulheres com correias de couro de cabra para assegurar a fecundidade (já pensou se fizessem ainda assim?).

No século XVII, ingleses e franceses passaram a celebrar o Dia de São Valentim como a união do Dia dos Namorados. A data foi adotada um século depois nos Estados Unidos, tornando-se o The Valentine's Day. Na Idade Média, dizia-se que o dia 14 de fevereiro era o primeiro dia de acasalamento dos pássaros. Por isso, os namorados da Idade Média usavam esta ocasião para deixar mensagens de amor na soleira da porta do(a) amado(a).

Atualmente, o dia é principalmente associado à troca mútua de recados de amor em forma de objetos simbólicos. Símbolos modernos incluem a silhueta de um coração e a figura de um Cupido com asas. Iniciada no século XIX a prática de recados manuscritos deu lugar à troca de cartões de felicitação produzidos em massa.

O dia de São Valentim era até a algumas décadas uma festa comemorada principalmente em países anglo-saxões, mas ao longo do século XX o hábito estendeu-se a muitos outros países. No Brasil, a data é comemorada no dia 12 de Junho, por ser véspera do 13 de junho, Dia de Santo Antônio, santo português com tradição de casamenteiro.

A ênfase deste dia recai sobre os presentes e cartões, sobre as declarações e ações que demonstram sentimentos. Todavia um evidente fato se apresenta: o comércio. É o comércio dos bens de capital o maior estimulador desta comemoração e não o amor entre as pessoas. Será que se retornássemos um pouco apenas, ao passado e, somente fizéssemos declarações e cartinhas de amor, sem comprar nada na praça, como reagiria todo o comércio ao nosso redor?

Haveria as propagandas especiais agressivas para conquistar os clientes nas ruas e shoppings? Haveria todo o marketing da mídia na TV e na Internet? Fariam promoções de viagens e pacotes para dois apenas pelo propósito do dia? Estimularia o comércio e os comerciantes antecipadamente em um ou dois meses a compra de seus produtos? A resposta é óbvia: Não! Não é o amor quem faz a propaganda do Dia dos Namorados, é o vendedor que espera sua comissão e o dono do negócio que espera retorno dos seus investimentos.

E antes que pensem algo contrário, declaro: aprovo o capitalismo e a livre concorrência nos moldes de Max Weber e Adam Smith e acredito na visão socialista de Karl Marx (o problema é unir isso), também não tenho nada contra os vendedores e comerciantes, estou apenas fazendo uma constatação da substituição que nossa sociedade fez das origens da data até aqui.

Também constato que, ao substituirmos o paganismo pelo cristianismo católico, e ao mantermos com isso as práticas pagãs somente “cobertas” pelo simbolismo e panteão romano, ainda em certo nível “adoramos” aos mesmos deuses. Ou seja, mudamos os nomes dos deuses para os nomes dos “santos” e trocamos Juno por Mamon.

Pense nisso e não deixe de usar esta data para demonstrar realmente que quem você ama é importante para você, com ou sem presentes!


Carlos Carvalho

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