segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Tabernáculos 2013

Deuteronômio 16.13-17

Oficialmente este ano a comemoração de Tabernáculos foi no mês de setembro, mas em nossa Comunidade, preferimos anualmente uma data posterior. Já há mais de sete anos festejamos esse tempo incomparável de alegria e celebração da provisão de Yahweh em nossas vidas, e neste ano, a festa de revestiu de imensa importância para nós.
Durante dois dias (sábado e domingo) compreendemos o que é Tabernáculos na ótica de Deus quando da sua instituição e para alguns que desconhecem o texto bíblico, saibam que Jesus participou da festa de Tabernáculos em João 7 e uma de suas mais famosas declarações sobre o Espírito Santo foi durante essa festa (João 7.37-39).
Tabernáculos na Escritura de Deuteronômio significa:

1.      Que é um tempo de alegria – essa é a palavra mais significativa no texto acima.
2.     É um tempo de colheita daquilo que se plantou e de bênçãos na vida profissional. Como o versículo 15 nos informa.
3.      É tempo de reconhecer as bênçãos que o Senhor nos dá pelo ato da oferta. Portanto, ninguém deveria se irritar pelo ato de ofertar continuamente, pois é reconhecimento contínuo que Deus nos abençoa.

Tendo entendido isso, passamos a ouvir o que significa para nós como comunidade de fé, neste tempo presente, a festa de Tabernáculos:

A.    É um tempo de anúncio de um novo ano – este ano está encerrando e um novo ano de aproxima daqui a dois meses. Tabernáculos anuncia um novo ano.

B.     Um tempo de plantar novas sementes – como na agricultura, quando a colheita termina, é necessário iniciar o processo de por novas sementes no solo. Também ouvimos que se estamos insatisfeitos com a colheita que tivemos até aqui, serão necessárias novas sementes para que haja uma colheita diferente no próximo ano.

C.     Tempo de começar a falar novas palavras – isso significa que agora que o ano está terminando precisamos mudar nosso linguajar para o de declarar aquilo que desejamos para o futuro que está vindo.

D.    Tempo de esperar novidades – também o agricultor na sua jornada de replantio das sementes para o novo ano espera que a colheita seja melhor ou superior a que teve. Nós também devemos esperar as coisas novas que Deus nos trará, pois Ele é o Deus das coisas novas (Apocalipse 21.5)

E.     Um tempo de reorganizar as coisas e refazer os planos – Tabernáculos proclama que é preciso rever as coisas e os planos perto do final do ano. Se for necessário mudar as estratégias ou refazer os planos para alcançar alguns objetivos que ainda não conseguiu, não hesite em agir.

F.      Tempo de transição de momentos – quando uma colheita termina, aquele momento passou para o próximo momento, o de se preparar para a seguinte safra. Por quanto tempo Deus continuará tentando nos levar ao próximo momento porque ainda estamos presos no momento anterior? Transicione!

G.    É um tempo de preparativos para terminar o ano bem – se as circunstâncias em sua vida atualmente te levarão a terminar bem o ano, Deus seja glorificado! Mas se não, prepare-se para criar novas circunstâncias afim de que seu ano não seja infrutífero.

Ao final, oramos declarando que estamos prontos para 2014. Dissemos que ele pode vir que cada um de nós, nossa casa, nossa igreja, estamos prontos para ele. Faça o mesmo!

© Bp. Carlos Carvalho
Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica Internacional


segunda-feira, 21 de outubro de 2013


Mateus 5.17-48

A importância da Lei moral e o seu verdadeiro significado

Há algumas semanas temos nos debruçado em Mateus capítulo 5. Desde o primeiro momento, vimos que o reino pertence aos que estão em relacionamento de bem-aventurança com Deus na prática da vida diária (v.1-11) e que esse é o caminho para a verdadeira felicidade. Saltamos as questões sobre o sal da terra e luz do mundo, pois é assunto bem conhecido entre nós. Em um segundo momento, fomos à importância da lei moral de Deus e sua correta relação conosco que estamos na graça. Aprendemos que:           
  •   Jesus não veio modificar ou alterar a Lei, mas veio para revelar o verdadeiro significado da lei moral de Deus aos homens (v.17)..      
  •  Jesus estabeleceu a plena validade dessa lei moral do Antigo Testamento e nos mostra que o Novo Testamento não é uma substituição ou anulação dessas leis do Antigo Testamento. É uma substituição da aliança baseada em sacrifícios de animais e não das leis morais de Yahweh (v.18).
  •  O maior no reino de Deus é aquele que pratica e ensina as leis morais de Deus. Aqueles que desconsideram o menor desses mandamentos são tidos como insignificantes em seu reino (v.19).
  •   Jesus nos pede uma santidade muito mais profunda e uma prática dessa lei moral maior que apenas uma mera concordância exterior (v.20).

Na última fase do capítulo 5 compreendemos o verdadeiro significado desta lei moral de Deus. Após ter-nos ensinado sobre a vigência da lei moral, Jesus passa a descrever qual a verdadeira intenção de Deus ao deixar escritos esses mandamentos éticos. Dos versículos 21 ao 48 portanto, temos a abordagem do Senhor em relação a um grupo específico de situações que chamei de pecados de relacionamento. Os judeus estavam acostumados com a explicação rabínica para certos textos da lei, mas Jesus dá o verdadeiro sentido deles.

Primeiro – a questão dos homicídios (v.21-26) – Jesus declara que a lei diz para não matar outra pessoa e quem matar será julgado pelo crime que cometeu. Isso é correto, mas ele vai além disso, e ensina que o verdadeiro problema não está no produto final (o homicídio), mas no interior daqueles que se recusam a reconciliar-se com o próximo por causa da ira, ou seja, matar alguém é o resultado de um coração que rejeita a paz com o outro e desconsidera a possibilidade de conviver pacificamente com o próximo.

Segundo – os adultérios (v.27-32) – não podemos achar que é somente uma questão de adultério aqui, mas de toda a relação sexual fora dos padrões de Deus. Jesus crê no que a lei afirma, mas dá um passo a mais no entendimento. Ele declara que o verdadeiro problema não é o adultério, mas a falta de controle pessoal dos desejos que foram influenciados pela luxúria. Em outras palavras, o nosso desejo sexual não controlado vai nos levar a cometer atos que ultrapassam os limites da santidade de nosso corpo.

Terceiro – sobre os juramentos (v.33-37) – desde a antiguidade somos levados a jurar de alguma maneira para que a verdade seja estabelecida e diante de tribunais também fazemos juramentos. O que o Senhor diz aqui é que o problema não está necessariamente nos juramentos, mas na intenção com a qual os fazemos, ou seja, quando intencionamos criar enganos com nossas mentiras e fazemos juramento depois, somos muito malignos em nosso coração. Por isso ele diz que devemos ser honestos em nossas declarações, apenas com um sim ou não e já será suficiente se somos verdadeiros.

Quarto – a vingança (v.38-42) – a lei de talião prescrevia o mesmo tipo de castigo para quem ferisse ou matasse o próximo ou seu animal: olho por olho, dente por dente. Essa lei é anterior aos judeus e foi posta na Torá com algumas alterações, mas o princípio continuou o mesmo. Jesus diz que o problema não é se essa lei é válida ou não, mas que, por causa da possibilidade de provocarmos injustiças por nossos atos de retaliação pessoal, não devemos dar vazão aos nossos impulsos vingativos. Oferecer a outra face, dar a capa, andar a segunda milha e emprestar são atos não de fracos e “capachos”, mas de pessoas que desejam a verdadeira justiça ao invés da vingança.

Quinto – sobre o amor ao próximo (v.43-48) – aqui se encerra o discurso das leis morais e não poderia ser mais difícil. Nossa constituição psíquica e emocional normalmente não tende ao perdão, mas sim a reações de ira, raiva e ressentimentos quando nos fazem mal, isso faz parte de nós. O Senhor declara que o verdadeiro problema nosso está na falha em compreender quem são os alvos de nossos atos de amor. Quem nos ama e gosta de nós são pessoas maravilhosas de nos relacionar, mas quem tem uma visão contrária sobre nós e nos despreza, e mais, fazem coisas para nos prejudicar, essas deveriam ter as nossas mais afetuosas considerações. Não sei se para mostrarmos a elas que estão erradas sobre nós ou se para mostrarmos a Deus nosso comprometimento com sua palavra, mas Jesus nos ordena que assim o façamos.

No versículo 48, o Senhor faz uma declaração que destrói toda nossa estrutura de confiança em nós mesmos e põe definitivamente uma gigantesca pedra irremovível sobre nossas expectativas de superação de nosso ego. Ele ordena que sejamos perfeitos como Deus é perfeito, isso parece brincadeira, não? Mas é exatamente isso que ele pede. E porque faz isso? Para nos mostrar a nossa incapacidade de realizarmos uma façanha tão impossível. Jamais conseguiremos ser perfeitos como nosso Pai celestial.

Se Jesus nos pede algo inatingível, com que propósito ele faz isso? Para que ao final chegássemos a duas simples conclusões:
      1º   Padrões tão elevados de conduta são inalcançáveis a qualquer ser humano.
     2º   Precisamos desesperadamente confiar em Cristo, em seu sacrifício e ressurreição para que por meio dele, possamos ser cobertos nessa insuficiência. Em outras palavras, a perfeição que Jesus alcançou cobre as minhas deficiências e Deus me olha através dele e de sua perfeição e não de minha deficiência e insuficiência em alcançar o seu padrão.

Isso é um alívio para cada um de nós que depositamos fé em Cristo Jesus. Também não significa que não precisamos mais buscar uma vida prática dentro dos padrões das leis morais de Deus, mas que agora, nossa incapacidade recebeu um poderoso aliado para vivermos como ele intentou: o Espírito de Cristo, que foi colocado em nós, nos transformou em novas criaturas (Romanos 8.1-11,14 / 2Coríntios 5.17 / Gálatas 5.16-26) e nos capacita a viver esse padrão.

Soli Deo gloria

Bp. Carlos Carvalho
Pr. Sênior da CBBI


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Bios, Psique e Zoe – A Vida em Detalhes

O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
João 10:10,11 (ACF)

Como estudantes da Palavra, às vezes nos encontramos em uma encruzilhada interessante, que certamente e muito mais, passaram os tradutores da Bíblia para nosso vernáculo (o idioma que falamos), quando se depararam com textos que são traduzidos por uma única palavra no português, mas que de fato são palavras diferentes no texto original. Esse é o caso da palavra “vida”. Para nós, há somente uma palavra para designar todas as coisas pertencentes à esfera da existência, tanto interior como exterior, tendo como diferença de significados apenas o sentido que se emprega nas frases. Em outras palavras, o sentido de “vida” em nosso idioma é dado pela frase na qual a palavra está e não pela própria palavra em si, ou seja, são as derivações que dão sentido a ela.

Já no grego (língua básica do Novo Testamento), existem três palavras principais para “vida” e elas possuem significados diferentes independentes das frases nas quais se encontram. É o caso do texto acima. Embora em nosso idioma a palavra seja a mesma nos dois versículos, em grego não são iguais e isso altera a percepção que deveríamos ter da sentença que lemos. Inicialmente não vamos à interpretação da tradução do texto, mas iremos às próprias palavras que aparecem no NT[1] como tentativa de entender o significado delas. Isso é muito importante para a correta compreensão dos textos. Não sou especialista em grego e nem em NT, mas com as ferramentas corretas, qualquer estudante aplicado poderá fazer uma tradução e interpretação mais acurada das Escrituras.

A primeira palavra é bioV (bios). Bios se relaciona com o viver, denota a “vida” nas suas manifestações externas e concretas. Desde o seu surgimento, se refere ao “curso da vida”, “duração da vida” ou “modo de vida”. Bios é uma palavra rara no NT, ocorre apenas 11 vezes e tem um significado claramente temporal e finito. A “vida” (bios) é, portanto, física, temporal, curta e finita. Basicamente, parece que este é o único conceito de vida que nos é apresentado nas escolas e universidades e do qual estamos bem inteirados. Mas é somente um terço do total significado da vida. Quando diminuímos o seu significado, ficamos aquém dela e passamos a pensar na vida em termos somente biológicos, químicos e mecânicos. Parece algo inteligente, mas é uma inteligência limitada.

A segunda palavra é yuch (Psichê). É de onde se deriva nossa palavra “alma”. Se examinada detalhadamente, desde seus usos mais antigos, ela significa basicamente três coisas: 1) a base impessoal da vida ou a própria vida, 2) a parte interior do homem e 3) uma alma independente do corpo. No Antigo Testamento, ela significa em linhas gerais o “hálito da vida”, o “coração”, o “homem interior” ou um “ser vivente”. No NT, ela ocorre 101 vezes e significa a sede da vida, a vida inteira de alguém. Psichê abrange, portanto, a totalidade da existência e vida do ser humano, com a qual se preocupa e da qual tem cuidado constante. Essa palavra equivale ao ego, à pessoa ou à personalidade do homem. Psichê é a vida interior do ser humano. Não nos aprofundaremos mais aqui.

A terceira palavra é zwh (zoe). Para o grego clássico, zoe é a qualidade de vida da natureza da qual os homens, os animais e as plantas partilham juntamente. Mais tarde se tornou “luz”, algo essencialmente divino ou uma coisa indestrutível que possui poder vivificante. No Antigo Testamento a vida, em síntese, é essencialmente realista, religiosa e comunitária, ou seja, vida é a existência humana no seu dia-a-dia, com todas as suas nuanças e alternativas, e ao mesmo tempo, conectada a Javé, o Criador da Vida.  Já no NT, a vida é assunto extremamente importante, não apenas denota a existência, mas zoe se refere a própria vida de Deus comunicada aos que a receberam em Cristo. Essa vida é de qualidade superior, ilimitada (pois não é confinada ao tempo histórico) e escatológica, porque nos levará à era futura, que possui uma vida cuja duração não tem fim: a Vida Eterna.

Ao compreendermos bem esses conceitos temos diante de nós o texto inicial. Jesus se expressou de duas maneiras utilizando-se das duas principais palavras do NT:

Primeiro – ele veio para nos trazer a zoe abundante, ou seja, a qualidade da vida interior e exterior semelhante à de Deus em nós e com passagem para além desta própria existência, para a vida eterna (era futura). Essa zoe (vida) começa aqui com o ato de recebê-la pela fé na ressurreição de Cristo Jesus e se manifesta diariamente na prática do amor, da ética do reino e dos princípios da palavra de Deus.

Segundo – Jesus disse que sendo o bom pastor, ele dá a sua psichê (vida) por suas ovelhas. Numa tradução bem literal desta passagem, ela ficaria mais ou menos assim: “Eu sou o bom pastor; e o bom pastor coloca toda a sua alma em favor das ovelhas”. Muda um pouco o sentido, não? Jesus veio para usar toda a sua alma (psichê) ou toda a sua existência para dar aos que cressem nele uma vida (zoe) que não poderia se acabar mesmo em face da morte física (da bios).

Esse conhecimento expande nosso conceito de vida para além da bios (física) e para além da psichê (alma). Nos leva além da natureza humana e para além da academia. Nos coloca em patamar de conhecimento mais completo da vida, ao menos em teoria.

© Carlos Carvalho
Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica Internacional

Referências;
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.); [tradução Gordon Chown]. – 2. ed. Vol I e II. – São Paulo: Vida Nova, 2000.
Luz, Waldyr Carvalho, Novo Testamento Interlinear / Waldyr Carvalho Luz. – São Paulo, SP: Hagnos, 2010.




[1] NT – Novo Testamento

segunda-feira, 7 de outubro de 2013


REFO 500 – A Espiritualidade da Reforma

Nos dias 2 a 4 de outubro deste ano aconteceu a REFO500, o evento que marca o início das comemorações dos 500 anos da Reforma no Mackenzie. Embora não pude participar em todos os dias nem de todas as oficinas, impressionou-me positivamente os momentos que presenciei.

Os preletores aos quais tive a oportunidade de ouvir, tanto nas plenárias, como nas oficinas, foram excelentes em suas palavras e trouxe um maior ânimo e impulso para continuar acreditando que há esperança para o evangelho no mundo e no Brasil, a partir de um revigoramento dos temas centrais reformados em 1500.

Algumas das palavras de Calvino, proferidas na oficina do Dr. Herminstein Maia, me impactaram mais uma vez. Essas foram as palavras:

“A Palavra é a escola do Espírito”.
 “As Escrituras são como os nossos óculos: ajustam nossa visão”.
“A fé tem compromissos existenciais inevitáveis”.
“A Teologia está associada à vida. É um serviço comprometido”.
“As escolas teológicas devem ser um berçário de pastores”.

Estão de parabéns a Universidade Mackenzie, o Ministério e Editora Fiel e todos os voluntários e equipe de apoio do evento. Foi um sucesso!

© Carlos Carvalho

Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica Internacional

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Tempo que temos
Salmo 90

Este é mais um daqueles salmos emblemáticos que falam a nós em qualquer que seja a época que vivamos. Ele descreve a eternidade de Deus e como o tempo para Ele passa, como diz o versículo 4, mas ao mesmo momento, descreve como o tempo passa para nós humanos e como isso é vital para desfrutar de uma vida frutífera e com sentido.

O texto é recheado das noções de tempo, como: geração, eternidade, dia, ontem, noite, madrugada, tarde, anos e manhã. Tudo isso reflete a completa noção de tempo que possuímos e sua relação conosco no âmbito da própria existência. A porção do texto que desejo meditar especialmente são os versos 9 e 10:

Pois todos os nossos dias passam se passam na tua ira; acabam-se os nossos anos como um breve pensamento.
Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado.

Todos têm a sensação de que o tempo passa mais depressa e de que o nosso tempo é cada vez menor. Isso não é subjetivo apenas, é um fato interior que comprovamos ao passar dos dias. Essa sensação jamais passará. A transitoriedade da vida é real e a experimentamos a todo o momento. O tempo de fato é curto para nós.

O salmista sabe em seu coração que o tempo não está a nosso favor, ao contrário, conspira contra nós. Ele reconhece que a vida pode passar de tal maneira, que ao olharmos para ela ao final, diremos que voou como um pensamento e o tempo passou e não percebemos. Para Deus o tempo não passa como passa para nós, portanto, estamos na desvantagem.

Mas Moisés (o salmo é dele) compreende que isto não precisa ser tão desastroso como parece. Devemos manter em uma constante diante de nós a certeza da brevidade da vida humana, mas sem nos deixar abater por isso. Precisamos encontrar o sentido de nossa existência e vivermos por isso como se a própria vida dependesse disso. Isto não é tão fácil, mas é possível.

O tempo passa, mas pode passar para nós com qualidade. A vida se acaba, mas pode chegar ao fim com alegria e paz. O salmista entende que são os nossos pecados e iniquidades que fazem com que a vida se abrevie ainda mais. Nossos pecados fazem o tempo passar como a madrugada, a manhã ou a tarde para nós como nos versos 5 ao 9. O pecado rouba o tempo de nós e nos faz perder tempo de qualidade.

À medida que Moisés avança em seus pensamentos ele descobre o segredo do tempo. Ele descobre a maneira como ter o tempo ao seu favor e se beneficiar do pouco tempo que temos. Ele entendeu que apenas o Senhor – o dono e criador do tempo – pode nos ensinar a desfrutar melhor dele, e por isso pede no verso 12:

Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.

Eis aqui o segredo exposto: a sabedoria que nos ensina a usar o tempo mesmo quando temos tão pouco é a resposta. Deus nos dará essa sabedoria e nos ensinará a viver os dias da breve vida que temos com qualidade e excelência. Isso será tão relevante e definitivo que o tempo já não passará da mesma maneira. Sentiremos que o tempo não nos assusta mais e o usaremos a nosso favor.

No verso 14, o salmista faz um segundo pedido a Deus após compreender como o tempo fará sentido. Ele pede que a cada manhã, portanto, ao se iniciar cada dia, que a benignidade ou a manifestação de seu amor (de Deus) seja uma realidade percebida em sua vida, porque isso trará sentido para o resto da sua vida. Assim viverá na alegria dessa revelação.

Isto serve para nós. Somos a geração da rapidez, das coisas instantâneas, da tecnologia, da comunicação online global e simultânea, mas sempre reclamamos que apesar de toda essa evolução tecnológica, temos menos tempo do que as pessoas que não desfrutavam das coisas que possuímos tinham. Porque isso acontece? Talvez porque saibamos lá no fundo que não temos controle sobre o tempo, e isso nos assusta.

Porém, quando estamos em uma relação de confiança e fé com o Senhor, o tempo passa a ser a última das nossas preocupações, porque a fé nos faz saber que vamos viver para sempre, mesmo após esse período aqui, e que a sabedoria que vem de Deus nos dá subsídios e recursos para vivermos um tempo de qualidade. Mesmo que seja um pouco de tempo como setenta ou oitenta anos.

Quando descansamos no Deus do tempo o tempo não nos amedronta mais. As tribulações, os problemas da vida, suas tragédias e males, já não são tão assustadores, pois quando descobrimos a transitoriedade da vida, também descobrimos a transitoriedade das coisas, ou seja, tudo passa, e por isso a alegria ultrapassa ao tempo, porque ela continuará conosco após as coisas passageiras passarem.

A alegria é permanente. Mesmo após grandes tragédias, voltamos a sorrir. Mesmo após a morte, depois do luto retornamos a sentir alegria. Ela é perene, mesmo que por algum tempo precisemos sentir as dores e as tristezas da vida, a alegria sempre retornará renovada e com mais disposição ainda. A alegria pode vestir o manto da tristeza por um tempo, mas depois, ela o remove.

No fundo, muitos processos de depressão que levam à morte, só acontecem porque as pessoas perderam o sentido e a vontade de viver e porque o tempo para elas se traduziu somente em sofrimento, dor e desilusão. A alegria que vem de Deus é a solução para isso. A alegria não permitirá que a normal tristeza se transforme em depressão mortal.

Assim termina o verso 15, num êxtase emocional que sabe que a alegria de Deus cobrirá o tempo de sofrimento e será como um poderoso antidepressivo que redimirá o tempo de aflição a adversidade pelo qual passamos. Um energético para a alma que revigorará os anos seguintes e restaurará nossa esperança.

Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido, por tantos anos quantos suportamos a adversidade.


© Bp. Carlos Carvalho

Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica Internacional