Mateus 5.17-48
A importância da Lei
moral e o seu verdadeiro significado
Há algumas semanas temos nos debruçado em Mateus capítulo 5. Desde o primeiro momento,
vimos que o reino pertence aos que estão em relacionamento de bem-aventurança
com Deus na prática da vida diária (v.1-11) e que esse é o caminho para a
verdadeira felicidade. Saltamos as questões sobre o sal da terra e luz do
mundo, pois é assunto bem conhecido entre nós. Em um segundo momento, fomos à
importância da lei moral de Deus e sua correta relação conosco que estamos na
graça. Aprendemos que:
- Jesus não veio modificar ou alterar a Lei, mas veio para revelar o verdadeiro significado da lei moral de Deus aos homens (v.17)..
- Jesus estabeleceu a plena validade dessa lei moral do Antigo Testamento e nos mostra que o Novo Testamento não é uma substituição ou anulação dessas leis do Antigo Testamento. É uma substituição da aliança baseada em sacrifícios de animais e não das leis morais de Yahweh (v.18).
- O maior no reino de Deus é aquele que pratica e ensina as leis morais de Deus. Aqueles que desconsideram o menor desses mandamentos são tidos como insignificantes em seu reino (v.19).
- Jesus nos pede uma santidade muito mais profunda e uma prática dessa lei moral maior que apenas uma mera concordância exterior (v.20).
Na última fase
do capítulo 5 compreendemos o verdadeiro significado desta lei moral de Deus.
Após ter-nos ensinado sobre a vigência da lei moral, Jesus passa a descrever
qual a verdadeira intenção de Deus ao deixar escritos esses mandamentos éticos.
Dos versículos 21 ao 48 portanto, temos a abordagem do Senhor em relação a um
grupo específico de situações que chamei de pecados de relacionamento. Os judeus estavam acostumados com a
explicação rabínica para certos textos da lei, mas Jesus dá o verdadeiro
sentido deles.
Primeiro – a questão dos homicídios (v.21-26) – Jesus declara que a
lei diz para não matar outra pessoa e quem matar será julgado pelo crime que
cometeu. Isso é correto, mas ele vai além disso, e ensina que o verdadeiro
problema não está no produto final (o homicídio), mas no interior daqueles que
se recusam a reconciliar-se com o próximo por causa da ira, ou seja, matar
alguém é o resultado de um coração que rejeita a paz com o outro e desconsidera
a possibilidade de conviver pacificamente com o próximo.
Segundo – os adultérios (v.27-32) – não podemos achar que é somente
uma questão de adultério aqui, mas de toda a relação sexual fora dos padrões de
Deus. Jesus crê no que a lei afirma, mas dá um passo a mais no entendimento.
Ele declara que o verdadeiro problema não é o adultério, mas a falta de
controle pessoal dos desejos que foram influenciados pela luxúria. Em outras
palavras, o nosso desejo sexual não controlado vai nos levar a cometer atos que
ultrapassam os limites da santidade de nosso corpo.
Terceiro – sobre os juramentos (v.33-37) – desde a antiguidade
somos levados a jurar de alguma maneira para que a verdade seja estabelecida e
diante de tribunais também fazemos juramentos. O que o Senhor diz aqui é que o
problema não está necessariamente nos juramentos, mas na intenção com a qual os
fazemos, ou seja, quando intencionamos criar enganos com nossas mentiras e
fazemos juramento depois, somos muito malignos em nosso coração. Por isso ele
diz que devemos ser honestos em nossas declarações, apenas com um sim ou não e
já será suficiente se somos verdadeiros.
Quarto – a vingança (v.38-42) – a lei de talião prescrevia o mesmo
tipo de castigo para quem ferisse ou matasse o próximo ou seu animal: olho por
olho, dente por dente. Essa lei é anterior aos judeus e foi posta na Torá com
algumas alterações, mas o princípio continuou o mesmo. Jesus diz que o problema
não é se essa lei é válida ou não, mas que, por causa da possibilidade de provocarmos
injustiças por nossos atos de retaliação pessoal, não devemos dar vazão aos
nossos impulsos vingativos. Oferecer a outra face, dar a capa, andar a segunda
milha e emprestar são atos não de fracos e “capachos”, mas de pessoas que
desejam a verdadeira justiça ao invés da vingança.
Quinto – sobre o amor ao próximo (v.43-48) – aqui se encerra o
discurso das leis morais e não poderia ser mais difícil. Nossa constituição
psíquica e emocional normalmente não tende ao perdão, mas sim a reações de ira,
raiva e ressentimentos quando nos fazem mal, isso faz parte de nós. O Senhor
declara que o verdadeiro problema nosso está na falha em compreender quem são
os alvos de nossos atos de amor. Quem nos ama e gosta de nós são pessoas
maravilhosas de nos relacionar, mas quem tem uma visão contrária sobre nós e
nos despreza, e mais, fazem coisas para nos prejudicar, essas deveriam ter as
nossas mais afetuosas considerações. Não sei se para mostrarmos a elas que
estão erradas sobre nós ou se para mostrarmos a Deus nosso comprometimento com
sua palavra, mas Jesus nos ordena que assim o façamos.
No versículo
48, o Senhor faz uma declaração que destrói toda nossa estrutura de confiança
em nós mesmos e põe definitivamente uma gigantesca pedra irremovível sobre
nossas expectativas de superação de nosso ego. Ele ordena que sejamos perfeitos
como Deus é perfeito, isso parece brincadeira, não? Mas é exatamente isso que
ele pede. E porque faz isso? Para nos mostrar a nossa incapacidade de
realizarmos uma façanha tão impossível. Jamais conseguiremos ser perfeitos como
nosso Pai celestial.
Se Jesus nos
pede algo inatingível, com que propósito ele faz isso? Para que ao final
chegássemos a duas simples conclusões:
1º Padrões tão elevados de conduta são
inalcançáveis a qualquer ser humano.
2º Precisamos desesperadamente confiar em
Cristo, em seu sacrifício e ressurreição para que por meio dele, possamos ser
cobertos nessa insuficiência. Em outras palavras, a perfeição que Jesus
alcançou cobre as minhas deficiências e Deus me olha através dele e de sua
perfeição e não de minha deficiência e insuficiência em alcançar o seu padrão.
Isso é um
alívio para cada um de nós que depositamos fé em Cristo Jesus. Também não
significa que não precisamos mais buscar uma vida prática dentro dos padrões
das leis morais de Deus, mas que agora, nossa incapacidade recebeu um poderoso
aliado para vivermos como ele intentou: o Espírito de Cristo, que foi colocado
em nós, nos transformou em novas criaturas (Romanos 8.1-11,14 / 2Coríntios 5.17
/ Gálatas 5.16-26) e nos capacita a viver esse padrão.
Soli Deo gloria
Bp. Carlos Carvalho
Pr. Sênior da CBBI
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