O Tempo que temos
Salmo 90
Este é mais um
daqueles salmos emblemáticos que falam a nós em qualquer que seja a época que
vivamos. Ele descreve a eternidade de Deus e como o tempo para Ele passa, como
diz o versículo 4, mas ao mesmo momento, descreve como o tempo passa para nós
humanos e como isso é vital para desfrutar de uma vida frutífera e com sentido.
O texto é recheado
das noções de tempo, como: geração, eternidade, dia, ontem, noite, madrugada,
tarde, anos e manhã. Tudo isso reflete a completa noção de tempo que possuímos e
sua relação conosco no âmbito da própria existência. A porção do texto que
desejo meditar especialmente são os versos 9 e 10:
Pois todos os nossos dias passam se passam na tua ira; acabam-se os
nossos anos como um breve pensamento.
Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a
oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado.
Todos têm a
sensação de que o tempo passa mais depressa e de que o nosso tempo é cada vez
menor. Isso não é subjetivo apenas, é um fato interior que comprovamos ao
passar dos dias. Essa sensação jamais passará. A transitoriedade da vida é real
e a experimentamos a todo o momento. O tempo de fato é curto para nós.
O salmista
sabe em seu coração que o tempo não está a nosso favor, ao contrário, conspira
contra nós. Ele reconhece que a vida pode passar de tal maneira, que ao
olharmos para ela ao final, diremos que voou como um pensamento e o tempo
passou e não percebemos. Para Deus o tempo não passa como passa para nós,
portanto, estamos na desvantagem.
Mas Moisés (o
salmo é dele) compreende que isto não precisa ser tão desastroso como parece. Devemos
manter em uma constante diante de nós a certeza da brevidade da vida humana,
mas sem nos deixar abater por isso. Precisamos encontrar o sentido de nossa
existência e vivermos por isso como se a própria vida dependesse disso. Isto não
é tão fácil, mas é possível.
O tempo passa,
mas pode passar para nós com qualidade. A vida se acaba, mas pode chegar ao fim
com alegria e paz. O salmista entende que são os nossos pecados e iniquidades
que fazem com que a vida se abrevie ainda mais. Nossos pecados fazem o tempo
passar como a madrugada, a manhã ou a tarde para nós como nos versos 5 ao 9. O pecado
rouba o tempo de nós e nos faz perder tempo de qualidade.
À medida que Moisés
avança em seus pensamentos ele descobre o segredo do tempo. Ele descobre a
maneira como ter o tempo ao seu favor e se beneficiar do pouco tempo que temos.
Ele entendeu que apenas o Senhor – o dono e criador do tempo – pode nos ensinar
a desfrutar melhor dele, e por isso pede no verso 12:
Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.
Eis aqui o
segredo exposto: a sabedoria que nos ensina a usar o tempo mesmo quando temos
tão pouco é a resposta. Deus nos dará essa sabedoria e nos ensinará a viver os
dias da breve vida que temos com qualidade e excelência. Isso será tão
relevante e definitivo que o tempo já não passará da mesma maneira. Sentiremos que
o tempo não nos assusta mais e o usaremos a nosso favor.
No verso 14, o
salmista faz um segundo pedido a Deus após compreender como o tempo fará
sentido. Ele pede que a cada manhã, portanto, ao se iniciar cada dia, que a
benignidade ou a manifestação de seu amor (de Deus) seja uma realidade
percebida em sua vida, porque isso trará sentido para o resto da sua vida. Assim
viverá na alegria dessa revelação.
Isto serve
para nós. Somos a geração da rapidez, das coisas instantâneas, da tecnologia,
da comunicação online global e simultânea, mas sempre reclamamos que apesar de
toda essa evolução tecnológica, temos menos tempo do que as pessoas que não
desfrutavam das coisas que possuímos tinham. Porque isso acontece? Talvez porque
saibamos lá no fundo que não temos controle sobre o tempo, e isso nos assusta.
Porém, quando
estamos em uma relação de confiança e fé com o Senhor, o tempo passa a ser a
última das nossas preocupações, porque a fé nos faz saber que vamos viver para
sempre, mesmo após esse período aqui, e que a sabedoria que vem de Deus nos dá
subsídios e recursos para vivermos um tempo de qualidade. Mesmo que seja um
pouco de tempo como setenta ou oitenta anos.
Quando descansamos
no Deus do tempo o tempo não nos amedronta mais. As tribulações, os problemas
da vida, suas tragédias e males, já não são tão assustadores, pois quando
descobrimos a transitoriedade da vida, também descobrimos a transitoriedade das
coisas, ou seja, tudo passa, e por isso a alegria ultrapassa ao tempo, porque
ela continuará conosco após as coisas passageiras passarem.
A alegria é
permanente. Mesmo após grandes tragédias, voltamos a sorrir. Mesmo após a
morte, depois do luto retornamos a sentir alegria. Ela é perene, mesmo que por
algum tempo precisemos sentir as dores e as tristezas da vida, a alegria sempre
retornará renovada e com mais disposição ainda. A alegria pode vestir o manto
da tristeza por um tempo, mas depois, ela o remove.
No fundo,
muitos processos de depressão que levam à morte, só acontecem porque as pessoas
perderam o sentido e a vontade de viver e porque o tempo para elas se traduziu somente
em sofrimento, dor e desilusão. A alegria que vem de Deus é a solução para
isso. A alegria não permitirá que a normal tristeza se transforme em depressão
mortal.
Assim termina
o verso 15, num êxtase emocional que sabe que a alegria de Deus cobrirá o tempo
de sofrimento e será como um poderoso antidepressivo que redimirá o tempo de
aflição a adversidade pelo qual passamos. Um energético para a alma que
revigorará os anos seguintes e restaurará nossa esperança.
Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido, por tantos anos
quantos suportamos a adversidade.
© Bp. Carlos Carvalho
Pr. Sênior da Comunidade Batista
Bíblica Internacional
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