domingo, 2 de março de 2014


CRUZ, SEGUIR E SER DISCÍPULO

“E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.”
Lucas 14.27

Estas são as três expressões mais importantes e contundentes neste versículo. São as imagens mais cristãs do próprio Cristianismo: a cruz, uma pessoa seguindo Jesus e se tornando um discípulo dele. Esta é a essência da fé cristã. A fé em Jesus Cristo está diretamente relacionada com o carregar a cruz pessoal que indica e demonstra o compromisso da própria vida com ele. Da mesma forma, esta fé é absorvida pelo seguidor e entranhada em seu ser a ponto de sua caminhada diária ser drasticamente afetada por isso. E por fim, o seguir a Jesus e carregar a cruz-compromisso, leva este indivíduo a se reconhecer e ser reconhecido como um discípulo de Jesus.

O contexto no qual está esta fala é bem plural. Nele a tríplice expressão cruz-seguir-discípulo está relacionada com outras três coisas. Fala da construção de uma torre, de um Estado em guerra e do sal. Jesus nos diz que a fé comprometida com ele é como quando alguém começa a construir algo e precisa ter a certeza que terá os recursos necessários para terminá-la, sob a pena de ser envergonhado se não completa-la. Igualmente, isto está conectado a um Estado que pretende ir à guerra, mas antes precisa ter a certeza de que seu exército é poderoso o suficiente para enfrentar seu oponente, senão deverá mandar proposta de paz. E ao final, estar comprometido com Jesus é ser como o sal que mantém a sua propriedade e seu sabor, pois do contrário será jogado fora.

Jesus encerra sua fala com a famosa e desconcertante frase: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. Isto porque as expressões que ele utiliza para tratar de um assunto tão sério e difícil de digerir são igualmente reveladoras e graves. Carregar a cruz pessoal, seguir Jesus independente de qualquer coisa e tornar-se seu discípulo é uma questão tão séria, profunda e de difícil aceitação para aqueles que não estão dispostos a viver a vida desta forma, que é necessário levar em conta o preço envolvido nesta decisão. Ser envergonhado por não conseguir terminar o que começou por falta de sabedoria e recursos, ser obrigado a rever sua decisão por perceber que não conseguirá suportar a pressão e a “guerra” que envolve andar com Jesus e ser rejeitado ao final por não ter mantido a essência de sua fé e não ter sido fiel é imensamente grave. Eternamente grave.

O Cristianismo foi vituperado, envergonhado e manchado por causa daqueles que não compreenderam a dimensão da responsabilidade que ele representa. A verdade da Palavra de Deus foi diluída nas filosofias de vida, nas expressões de autoajuda, de “verdades” alternativas, dos conceitos pós-modernistas e de uma teologia fraca e desejosa de ser aceita por todos. A fé em Cristo foi enfraquecida por vidas corrompidas, por uma liderança oportunista e gente não preparada, por ministros profissionais, por pecadores e imorais na pele de ovelhas e por alguns que rejeitam o sobrenatural de Deus porque desejam alterar a realidade do julgamento do Senhor contra eles. Mas como afirmou o apóstolo Paulo:

2  E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem.
3  E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?
4  Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?
5  Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus;
6  O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:
7  A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
8  Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade;
9  Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego;
10  Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;
11  Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.
Romanos 2.2-11

Já ouvi muitas vezes de líderes de várias denominações que quando falamos muito enfaticamente sobre essas coisas é porque temos algo a esconder, porque queremos afastar os olhares dos outros dos nossos pecados e coisas semelhantes. Estes homens e mulheres somente deixam passar uma importante questão: só quem já caiu em desgraça, quem já foi envergonhado ou teve sua arrogância julgada por Deus é quem sabe a real potência da destruição que uma vida fraca, uma liderança corrompida e uma verdade diluída podem causar no reino, na igreja, na família e na própria vida. Portanto, é preciso falar sobre estas coisas a qualquer tempo para que a próxima geração de cristãos viva uma vida mais plena na presença de Cristo no meio de um mundo que se esfacela e se destrói no pecado a cada dia que passa.

Outros nos interpelam dizendo que este tipo de mensagem é dura, não atrai ouvintes e não dá crescimento à igreja nos dias de hoje. Estou tentado a concordar com estes, mas quem nos disse que o Evangelho ganharia os corações dos homens e mulheres do mundo todo? Quem nos informou que ter uma multidão em nossos cultos é sinal que Deus está presente lá? Embora acredite sinceramente que existiram e existem lugares que Deus abençoa grandemente com multidões que não temos explicações naturais para isso (e a maioria dos pastores querem que suas igrejas cresçam), os números jamais foram os indicadores da bênção do Senhor.

É preciso um equilíbrio no entendimento. Nas Escrituras encontramos Deus guiando multidões no Antigo e no Novo Testamento, mas também vemos Deus agindo e se importando com poucos e mesmo com um ou dois. Tudo isto é para nos dar equidade, pois nosso Deus é o Deus do mundo, das multidões, mas de um também! Voltando ao nosso texto, termino dizendo que cada um de nós precisa procurar compreender a dimensão do preço que está sendo exigido por Jesus no caminhar com ele. É certo que alguns acharão o preço muito alto, mas ele não está disposto a fazer concessões por causa de ninguém e o risco de apostar numa possível mudança de pensamento do Senhor por causa de seu “amor” é elevadíssimo e com resultados eternamente indesejáveis.

Após Jesus ter ensinado aos muitos discípulos iniciais que andavam com ele sobre sua carne e seu sangue intimamente ligados ao compromisso de servi-lo em João 6: 41-68, um grupo grande deixou de acompanhá-lo por considerar o discurso muito duro. Lucas nos informa que a princípio Jesus tinha setenta discípulos (Lc 10.1), se estes ainda estavam com ele em João 6, então, 58 o deixaram, restando apenas 12. O Senhor não se irrita com eles e ainda faz aos doze a pergunta se eles também não desejavam fazer o mesmo, com a famosa resposta de Pedro de que eles não tinham intenção de deixá-lo, pois reconheciam que somente ele era a resposta para os seus mais profundos anseios (João 6.68-69).
         
           A pergunta continua a mesma para mim e para você: “Quereis vós também retirar-vos?” (João 6.67). O preço é bem alto, mas a recompensa vale o custo!

© Carlos Carvalho

Teólogo, graduando em Ciências Sociais e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica

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