O PODER DAS DECISÕES ERRADAS
Gênesis 12.1
– 13.4
O texto é longo para colocar aqui e
recomendo que você o leia antes de iniciar este esboço. Abrão é chamado por
Elohim e desafiado a ir para uma terra e peregrinar nela – Canaã – e, como
resultado dessa obediência e peregrinação, o Senhor daria a descendência de
Abrão a possessão legítima daquelas terras. Sua caminhada por toda a extensão
dela se tornaria o marco territorial que compreenderia as fronteiras da futura
nação de Israel. Ele chega ao seu destino, constrói um altar e invoca o nome do
Senhor, mas algum tempo depois começa um período de fome naquelas regiões e ele
decide ir ao Egito para se livrar da escassez, lá, ele deixa que sua esposa
Sarai se torne uma espécie de concubina no palácio de Faraó por ter medo que os
egípcios o matem, e mais tarde, o governante descobre da pior maneira – por uma
praga de enfermidade – que Sarai não era irmã de Abrão como tinha lhe dito, mas
sua esposa. Faraó ordena que escoltem Abrão, Sarai e todos os seus pertences
para fora do Egito e ele volta para a região de Canaã e de novo, no mesmo
altar, invoca novamente o nome do Senhor.
A história parece curta contada desta
forma, mas ela nos traz revelações dos princípios que desejo mostrar aqui. Ela
nos conta como as decisões erradas têm o poder concreto de provocar mudanças
poderosas e até mesmo destrutivas em nossas vidas se permitirmos. Quero
enfatizar a origem, a dinâmica e os resultados de decisões erradas e o quanto
isso ocasiona mudanças em nossa caminhada. Dou a seguir cinco entendimentos ou
princípios que compõem as decisões erradas e como eles se relacionam conosco
hoje, utilizando esse momento histórico de Abrão.
As decisões erradas
levam em consideração as circunstâncias imediatas (v.10). No caso particular de Abrão
foi a fome na região onde vivia. Não sabemos dizer se ele de fato pensou no que
estava fazendo, pois sua esposa e servos não passavam fome nem sede. Tinham
gado, ovelhas e, portanto, a fome não os afetaria por muito tempo. Mas em
qualquer que fosse o caso de sua decisão, ele a tomou levando em conta talvez a
possibilidade de ela os atingir e por isso foi ao Egito.
Quase sempre conosco é a mesma coisa.
Sempre que alguma coisa circunstancial com potencial negativo ou de abalar
nossa aparente segurança acontece ao nosso redor, somos levados a tomar decisões
baseados nestas observações. Normalmente as decisões tomadas levando em
consideração os acontecimentos imediatos tendem a ser erradas, pois quando isso
acontece, não estamos raciocinando a partir de uma perspectiva concreta,
analítica ou por fé inteligente, mas por medo de que algo ruim nos aconteça.
Isso na maioria dos casos se transforma em resultados negativos para nós como o
foi para Abrão.
As decisões erradas são
tomadas pelo equívoco na compreensão do passado (v.7). Isto acontece porque com frequência
nos esquecemos de que lá atrás ou em algum tempo no passado próximo ou não,
Deus já havia nos falado a respeito de nós ou de seus propósitos sobre a nossa
vida. De alguma forma sabíamos que o Senhor já nos revelara por seus meios
peculiares que em determinado lugar ou momento Ele iria nos abençoar ou
responder as nossas orações, mas não nos lembramos dessas coisas em momentos
difíceis ou em certas circunstâncias e tomamos decisões erradas.
Abrão ouvira não muito tempo atrás a
voz do Senhor Deus lhe falar que o abençoaria ali mesmo na terra de Canaã e que
sua descendência também possuiria toda a extensão de sua peregrinação como
herança, mas ao primeiro sinal de dificuldade, no caso a fome, Abrão resolve
sair do local em que Deus cumpriria suas promessas para ele e, por conta
própria, decide erroneamente descer ao Egito, a um lugar que o Senhor ainda não
havia lhe falado nada. Tudo isso por ter se esquecido do que Deus lhe tinha
dito antes.
As decisões erradas nos
levam para mais distantes da promessa de Deus. Abrão desce para o Egito, lugar que distava
quilômetros de Canaã. Não é o caso se era perto ou longe geograficamente, mas
sim que estava distante e afastado do lugar onde Deus disse que o abençoaria.
Descer ao Egito era simplesmente distanciar-se da promessa e da bênção de Deus
e a história nos conta que isso foi um fato para Abrão. Nada aconteceu como ele
esperava e quase perdeu para sempre sua esposa e o futuro das promessas de Deus
em Sarai, o seu filho que viria.
Nada mais trágico para nós se optarmos
por escolher nossos caminhos quando o Senhor já nos revelou os dele para nós.
Nada mais negativo e paralisante quando resolvemos sem a aprovação de Deus
abrir caminho por nossa conta quando Deus já nos mostrou a rota. Nas Escrituras
a rota, a direção, o destino final já foram traçados para nós e cabe confiarmos
naquele que conhece o futuro, que Ele sabe nos guiar, mesmo quando não
compreendemos tudo. Não podemos arriscar aquilo que não podemos perder.
Decisões erradas nos afastam das promessas de Deus.
As decisões erradas
afetam o destino de nossa família (v.11-15). Sarai, Abrão e mesmo Isaque que ainda não
tinha nascido seriam drasticamente e definitivamente afetados pela decisão
dele. Isaque não nasceria se Abrão perdesse sua mulher e Sarai não daria a luz
ao filho de uma promessa especial de Elohim pelo fato de que todo o futuro
daquela família estava sendo afetado pela decisão de Abrão. O futuro projetado
por Deus para eles não aconteceria se Deus não tivesse intervindo.
É semelhante conosco, qualquer decisão
equivocada que o marido sozinho tome ou a esposa, tem o poder de afetar a
todos, mesmo os que não tomaram as decisões. Somos diariamente afetados pelas
decisões de pessoas que nem sequer conhecemos no governo, nos tribunais, nas
prefeituras e gabinetes de chefias e nem damos conta disso. O destino de uma
cidade é afetado por pessoas que sequer moram nelas muitas vezes. Um decreto
presidencial ou emenda constitucional por afetar diretamente nossas vidas para
o bem ou para o mal, mesmo sem desejarmos que as decisões fossem tomadas.
Pessoas morrem todos os dias por decisões
de outros de diversas formas diferentes e elas não queriam que isso
acontecesse. Se isso é verdadeiro para o que está para fora de nós e nosso dia
a dia na sociedade, também o é para o ambiente de família. A decisão de um pai
ou de uma mãe pode alterar para sempre a caminhada de um filho ou o futuro de
uma filha, mesmo que não desejassem que nada de mal viesse acontecer. As
decisões precipitadas de um homem afetam o destino de sua família.
As decisões erradas nos
fazem retroceder na vida ao invés de nos fazer avançar (13.1-4). Todo o processo e o tempo
relacionados aos eventos desse texto foram perdidos por Abrão. Ao final ele
teve de voltar ao ponto original de sua jornada com Deus, onde construíra o
altar e onde o invocara em Canaã – ele volta à Canaã. Tudo o que lhe aconteceu
apenas serviu de experiência para enxergar o que acontece quando se decide sem
considerar a vontade de Elohim juntamente. Mas isso não foi o suficiente para
ele, pois mais tarde, em Gênesis 20, na terra de Gerar, com Abimeleque, Abrão
comete o mesmo erro.
Precisamos aprender de uma vez por
todas que as nossas decisões erradas nos farão andar em círculos na vida e não para
frente, é até possível que pensemos que estamos avançando, quando de fato
estamos circulando o mesmo ponto sem perceber. Todas as vezes que decidirmos
equivocadamente ir por caminhos que nós mesmos escolhermos precisamos estar
cientes que poderemos, depois de muito tempo perdido, voltar ao mesmo lugar da
origem das decisões erradas. Voltar à casa dos pais por ter escolhido mal o
relacionamento, voltar à empresa anterior por ter ido em busca de uma ilusão
que não se concretizou, voltar à estaca zero porque perdeu tudo numa
“aventura”. O pior de tudo isso é que esses retornos sempre estão acompanhados
de vergonha.
Concluo com uma história dramática. Em
1912 o RMS Titanic fez sua viagem inaugural rumo ao Novo Mundo com cerca de
2.200 pessoas a bordo. Durante sua trajetória, o Capitão Edward Smith decidiu
ignorar todos os avisos de iceberg em sua rota e, no dia 14 de abril, o
poderoso navio afundou após colidir com o bloco de gelo no Oceano Atlântico,
matando mais de 1.500 pessoas. Independente de todas as histórias e
investigações que ainda hoje são divulgadas um fato permanece: foi a decisão
equivocada do Capitão e sua tripulação que culminou na morte de todas aquelas
pessoas.
Decisões erradas podem matar. Cabe a
cada um de nós tomarmos decisões corretas na vida, mesmo não sendo as mais
fáceis e isso só será possível eliminando as decisões erradas. Viver pela fé é
muito mais concreto e menos subjetivo do que algumas pessoas pensam, é tomar as
decisões certas levando em conta Deus e sua vontade expressa na sua Palavra e
no dia a dia avaliar nossas decisões pelos valores e princípios mais corretos.
Carlos Carvalho
Teólogo e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica
Imagem: RMS Titanic no fundo
do oceano.
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