terça-feira, 8 de abril de 2014


O PODER DAS DECISÕES ERRADAS
Gênesis 12.1 – 13.4

O texto é longo para colocar aqui e recomendo que você o leia antes de iniciar este esboço. Abrão é chamado por Elohim e desafiado a ir para uma terra e peregrinar nela – Canaã – e, como resultado dessa obediência e peregrinação, o Senhor daria a descendência de Abrão a possessão legítima daquelas terras. Sua caminhada por toda a extensão dela se tornaria o marco territorial que compreenderia as fronteiras da futura nação de Israel. Ele chega ao seu destino, constrói um altar e invoca o nome do Senhor, mas algum tempo depois começa um período de fome naquelas regiões e ele decide ir ao Egito para se livrar da escassez, lá, ele deixa que sua esposa Sarai se torne uma espécie de concubina no palácio de Faraó por ter medo que os egípcios o matem, e mais tarde, o governante descobre da pior maneira – por uma praga de enfermidade – que Sarai não era irmã de Abrão como tinha lhe dito, mas sua esposa. Faraó ordena que escoltem Abrão, Sarai e todos os seus pertences para fora do Egito e ele volta para a região de Canaã e de novo, no mesmo altar, invoca novamente o nome do Senhor.

A história parece curta contada desta forma, mas ela nos traz revelações dos princípios que desejo mostrar aqui. Ela nos conta como as decisões erradas têm o poder concreto de provocar mudanças poderosas e até mesmo destrutivas em nossas vidas se permitirmos. Quero enfatizar a origem, a dinâmica e os resultados de decisões erradas e o quanto isso ocasiona mudanças em nossa caminhada. Dou a seguir cinco entendimentos ou princípios que compõem as decisões erradas e como eles se relacionam conosco hoje, utilizando esse momento histórico de Abrão.

As decisões erradas levam em consideração as circunstâncias imediatas (v.10). No caso particular de Abrão foi a fome na região onde vivia. Não sabemos dizer se ele de fato pensou no que estava fazendo, pois sua esposa e servos não passavam fome nem sede. Tinham gado, ovelhas e, portanto, a fome não os afetaria por muito tempo. Mas em qualquer que fosse o caso de sua decisão, ele a tomou levando em conta talvez a possibilidade de ela os atingir e por isso foi ao Egito.
Quase sempre conosco é a mesma coisa. Sempre que alguma coisa circunstancial com potencial negativo ou de abalar nossa aparente segurança acontece ao nosso redor, somos levados a tomar decisões baseados nestas observações. Normalmente as decisões tomadas levando em consideração os acontecimentos imediatos tendem a ser erradas, pois quando isso acontece, não estamos raciocinando a partir de uma perspectiva concreta, analítica ou por fé inteligente, mas por medo de que algo ruim nos aconteça. Isso na maioria dos casos se transforma em resultados negativos para nós como o foi para Abrão.

As decisões erradas são tomadas pelo equívoco na compreensão do passado (v.7). Isto acontece porque com frequência nos esquecemos de que lá atrás ou em algum tempo no passado próximo ou não, Deus já havia nos falado a respeito de nós ou de seus propósitos sobre a nossa vida. De alguma forma sabíamos que o Senhor já nos revelara por seus meios peculiares que em determinado lugar ou momento Ele iria nos abençoar ou responder as nossas orações, mas não nos lembramos dessas coisas em momentos difíceis ou em certas circunstâncias e tomamos decisões erradas.
Abrão ouvira não muito tempo atrás a voz do Senhor Deus lhe falar que o abençoaria ali mesmo na terra de Canaã e que sua descendência também possuiria toda a extensão de sua peregrinação como herança, mas ao primeiro sinal de dificuldade, no caso a fome, Abrão resolve sair do local em que Deus cumpriria suas promessas para ele e, por conta própria, decide erroneamente descer ao Egito, a um lugar que o Senhor ainda não havia lhe falado nada. Tudo isso por ter se esquecido do que Deus lhe tinha dito antes.

As decisões erradas nos levam para mais distantes da promessa de Deus. Abrão desce para o Egito, lugar que distava quilômetros de Canaã. Não é o caso se era perto ou longe geograficamente, mas sim que estava distante e afastado do lugar onde Deus disse que o abençoaria. Descer ao Egito era simplesmente distanciar-se da promessa e da bênção de Deus e a história nos conta que isso foi um fato para Abrão. Nada aconteceu como ele esperava e quase perdeu para sempre sua esposa e o futuro das promessas de Deus em Sarai, o seu filho que viria.
Nada mais trágico para nós se optarmos por escolher nossos caminhos quando o Senhor já nos revelou os dele para nós. Nada mais negativo e paralisante quando resolvemos sem a aprovação de Deus abrir caminho por nossa conta quando Deus já nos mostrou a rota. Nas Escrituras a rota, a direção, o destino final já foram traçados para nós e cabe confiarmos naquele que conhece o futuro, que Ele sabe nos guiar, mesmo quando não compreendemos tudo. Não podemos arriscar aquilo que não podemos perder. Decisões erradas nos afastam das promessas de Deus.

As decisões erradas afetam o destino de nossa família (v.11-15). Sarai, Abrão e mesmo Isaque que ainda não tinha nascido seriam drasticamente e definitivamente afetados pela decisão dele. Isaque não nasceria se Abrão perdesse sua mulher e Sarai não daria a luz ao filho de uma promessa especial de Elohim pelo fato de que todo o futuro daquela família estava sendo afetado pela decisão de Abrão. O futuro projetado por Deus para eles não aconteceria se Deus não tivesse intervindo.
É semelhante conosco, qualquer decisão equivocada que o marido sozinho tome ou a esposa, tem o poder de afetar a todos, mesmo os que não tomaram as decisões. Somos diariamente afetados pelas decisões de pessoas que nem sequer conhecemos no governo, nos tribunais, nas prefeituras e gabinetes de chefias e nem damos conta disso. O destino de uma cidade é afetado por pessoas que sequer moram nelas muitas vezes. Um decreto presidencial ou emenda constitucional por afetar diretamente nossas vidas para o bem ou para o mal, mesmo sem desejarmos que as decisões fossem tomadas.
Pessoas morrem todos os dias por decisões de outros de diversas formas diferentes e elas não queriam que isso acontecesse. Se isso é verdadeiro para o que está para fora de nós e nosso dia a dia na sociedade, também o é para o ambiente de família. A decisão de um pai ou de uma mãe pode alterar para sempre a caminhada de um filho ou o futuro de uma filha, mesmo que não desejassem que nada de mal viesse acontecer. As decisões precipitadas de um homem afetam o destino de sua família.

As decisões erradas nos fazem retroceder na vida ao invés de nos fazer avançar (13.1-4). Todo o processo e o tempo relacionados aos eventos desse texto foram perdidos por Abrão. Ao final ele teve de voltar ao ponto original de sua jornada com Deus, onde construíra o altar e onde o invocara em Canaã – ele volta à Canaã. Tudo o que lhe aconteceu apenas serviu de experiência para enxergar o que acontece quando se decide sem considerar a vontade de Elohim juntamente. Mas isso não foi o suficiente para ele, pois mais tarde, em Gênesis 20, na terra de Gerar, com Abimeleque, Abrão comete o mesmo erro.
Precisamos aprender de uma vez por todas que as nossas decisões erradas nos farão andar em círculos na vida e não para frente, é até possível que pensemos que estamos avançando, quando de fato estamos circulando o mesmo ponto sem perceber. Todas as vezes que decidirmos equivocadamente ir por caminhos que nós mesmos escolhermos precisamos estar cientes que poderemos, depois de muito tempo perdido, voltar ao mesmo lugar da origem das decisões erradas. Voltar à casa dos pais por ter escolhido mal o relacionamento, voltar à empresa anterior por ter ido em busca de uma ilusão que não se concretizou, voltar à estaca zero porque perdeu tudo numa “aventura”. O pior de tudo isso é que esses retornos sempre estão acompanhados de vergonha.

Concluo com uma história dramática. Em 1912 o RMS Titanic fez sua viagem inaugural rumo ao Novo Mundo com cerca de 2.200 pessoas a bordo. Durante sua trajetória, o Capitão Edward Smith decidiu ignorar todos os avisos de iceberg em sua rota e, no dia 14 de abril, o poderoso navio afundou após colidir com o bloco de gelo no Oceano Atlântico, matando mais de 1.500 pessoas. Independente de todas as histórias e investigações que ainda hoje são divulgadas um fato permanece: foi a decisão equivocada do Capitão e sua tripulação que culminou na morte de todas aquelas pessoas.

Decisões erradas podem matar. Cabe a cada um de nós tomarmos decisões corretas na vida, mesmo não sendo as mais fáceis e isso só será possível eliminando as decisões erradas. Viver pela fé é muito mais concreto e menos subjetivo do que algumas pessoas pensam, é tomar as decisões certas levando em conta Deus e sua vontade expressa na sua Palavra e no dia a dia avaliar nossas decisões pelos valores e princípios mais corretos.

Carlos Carvalho
Teólogo e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica


Imagem: RMS Titanic no fundo do oceano.

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