O TEMPO EM QUE VIVEMOS
Na ótica de Jesus
Mateus 24.10-13
10 Naquele tempo
muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros,
11 e numerosos
falsos profetas surgirão e enganarão a muitos.
12 Devido ao
aumento da maldade, o amor de muitos esfriará,
13 mas aquele que
perseverar até o fim será salvo.
Este é o quadro espiritual mais
vívido que temos visto neste século XXI, tanto na igreja, como ao redor dela. O
acúmulo de iniqüidades e pecados que vemos no mundo, bem como nas instituições
nos levam a pensar de maneira equivocada sobre o assunto, porque imaginamos que
são as instituições e não as pessoas que têm problemas. De fato, isto é o
normativo em termos de seres humanos, pois estamos acostumados a culpar os
outros por nossos próprios erros, desacertos e pecados na maioria das vezes.
Porém, deixando de lado essa questão por enquanto, avancemos para o cerne da
questão.
Este é claramente o mundo no qual
vivemos neste século: um mundo marcado por escândalos de todos os tipos, desde
os pessoais, familiares, aos financeiros, corporativos e governamentais. Um
mundo sufocado pelas amizades utilitárias e superficiais, onde a traição se faz
comum porque a lealdade é um item descartável, e um mundo mergulhado no ódio em
diversos níveis, desde o racial ao religioso. Acredito que jamais na história
humana tivemos uma confluência tão perfeita dessas atitudes ruins como hoje. E
isto é só o primeiro versículo da profecia de Jesus.
Na profecia do Senhor, ele nos
diz que neste tempo iremos enfrentar ainda mais dois grandes problemas. Estes
serão ataques diretos à igreja que nascerá e colidirão frontalmente contra sua
unidade, espiritualidade e salvação eterna. Cada um dos dois ataques tem
destino certo e alvos predefinidos, ou seja, desejam obter êxito em suas
realizações, destruindo internamente as marcas espirituais mais poderosas da
igreja: os dons do Espírito e o fruto do Espírito. A profecia ou o espírito da
profecia de Cristo e o amor, o ágape de Deus, que foram dados por graça aos
crentes para a edificação mútua, são os alvos prioritários do Maligno neste
tempo.
Numerosos falsos
profetas (v.11) – este é um ataque direto à espiritualidade da
igreja e dos cristãos, porque a profecia fala das ações sobrenaturais de Deus
no meio de seu povo. A profecia descreve uma parte da onisciência de Deus
quando revela fatos e atos que são ocultos ou que ainda não aconteceram. A
profecia fala dos dons do Espírito Santo que os distribui aos crentes de acordo
com o seu querer para a edificação do corpo de Cristo. Por isso o aumento do
número de falsos profetas é um alerta perigoso. Falsos profetas têm a
habilidade do engano e do engodo das almas por sua ousadia maligna de se
fazerem acreditar que falam coisas “dadas” ou “ditas” por Deus. Falsos profetas
conseguem introduzir erros, heresias e mentiras nas mentes das pessoas ao se
passarem por porta-vozes de Deus e de sua verdade. Falsos profetas podem levar
congregações inteiras a um comportamento histérico e a êxtases produzidos por
demônios e dizer que tudo isso procede do Espírito Santo. Falsos profetas são o
maior perigo interno visível que a igreja enfrenta nestes dias, e o número dos
que vão após eles não é pequeno.
Devido ao aumento da
maldade (iniquidade)... (v.12) – esta é a última fase dos ataques
contra os cristãos: a destruição de sua fonte interna de poder e graça. No caso
anterior, a destruição é visível no ambiente onde a igreja se reúne e comunga,
mas neste caso, a contaminação virulenta é no interior do “coração” de cada
crente atingido. Uma vez que o cristão seja envenenado por essa iniquidade que
ele ou ela vê proliferar no mundo e também nas pessoas da igreja, isso passa a
obscurecer o seu amor, que antes era sua maior força, agora se torna sua maior
decepção. Decepcionado, portanto, se inicia um processo interior de críticismo,
ceticismo e de questionamento de todas as suas crenças que, outrora
inabaláveis, agora, já estão num processo de deterioração. Filhos e filhas de
Deus com o amor em congelamento são como os crentes da igreja de Éfeso
(Apoc.2.1-7), eles têm o discurso correto, a doutrina correta, a teologia
correta, mas não têm a prática mais profunda e bíblica que evidencia a presença
de Cristo e do Espírito Santo dentro de si: o amor. Sem o amor, já sabemos o
que Paulo descreveu em 1 Coríntios 13, não?
O Fim e a Salvação
(v.13) – esta profecia de Jesus é o início de um conjunto de descrições
proféticas do futuro de Israel, dos crentes, das nações e do mundo. No
finalzinho desta primeira parte ele antecipa o que seria o objetivo maior de
tudo o que ele vai anunciar que acontecerá: que todos os cristãos diante de
todos esses acontecimentos devem permanecer firmes, fieis e na fé até o final
de tudo. A salvação dos crentes está diretamente conectada à sua perseverança
diante da expressão pecaminosa do tempo no qual vivem. Ser salvo, na ótica de
Jesus é ultrapassar sem se abalar, sem se esfriar, sem perder o ânimo, sem
desistir, a todo o processo de destruição da vida e da alma gerados pelo
ambiente e pelo tempo nos quais vivemos e pelas pessoas contaminadas pelo
espírito desta geração.
Para colocar um pouco mais de
lenha na fogueira, o Senhor Jesus não nos dá uma saída para os problemas e nem
nos aponta uma fórmula para vivermos num mundo assim, a não ser que nos faz uma
única e singular promessa: a salvação aos perseverantes. Não diz que o mundo
vai melhorar, que a igreja vai vencer a luta conta a iniquidade nos outros, não
diz que os falsos profetas serão eliminados nem que o amor será curado ou
restaurado naqueles que o perderam, apenas diz que os que acreditarem em sua
mensagem e permanecerem firmes serão salvos ao final.
Jesus não pode ser acusado de
pessimista ou de determinista, mas certamente ele foi espiritual e realista. A
igreja que vive neste tempo deve ter o mesmo sentimento e percepção do Senhor. E
quais percepções são essas?
Os escândalos não deixarão de acontecer.
As traições dos seres humanos são reais.
O ódio não desaparece.
Os falsos profetas continuarão a assolar a igreja de Jesus.
Muitos crentes viverão enganados.
A iniquidade no mundo só aumenta.
Mais e mais cristãos congelarão o seu amor por Deus, por
Cristo, pela igreja e pelos irmãos.
A salvação é o prêmio da perseverança na fé.
Nunca houve para nós um melhor
momento para se dizer: Oremos sem cessar e vigiemos, pois o Senhor está às portas!
Carlos Carvalho
Teólogo e Bispo da Comunidade Batista Bíblica
sexta-feira, 27 de março de 2015