Dias atrás, respondi genericamente a um amigo e
amado pastor sobre algumas perguntas históricas acerca dos movimentos cristãos
que mudaram durante os séculos anteriores até os nossos dias, a face da igreja
de Cristo. Como título de auxílio aos que estão iniciando seus estudos
teológicos posto aqui minha carta-resposta. Espero fomentar o começo de uma
jornada maravilhosa de estudos da História da Igreja.
Graça e paz te sejam multiplicadas em Deus Pai e no Senhor
Jesus Cristo
Amado, embora o assunto pareça um tento complicado, lhe
darei uma visão panorâmica dele para que possa, a partir destes pontos,
acrescentar sua pesquisa e ir tirando suas próprias conclusões. Minha visão é
bem mais histórica em virtude de meus estudos. Vamos por datas e tempos.
Igreja Primitiva – assim chamamos a igreja original dos
tempos apostólicos e que vai de Atos, capítulo 2 até meados dos anos 300 depois
de Cristo.
Pais da Igreja – são os homens de destaque do período
pós-apóstolos (100 d.C.) - Papias, discípulo de João, Irineu, discípulo antigo
e Policarpo – até Agostinho que morre em 430 d.C.
A Igreja Romana – ela nasce de forma embrionária com a
conversão do Imperador Constantino em 323 e posteriormente ele decretou o
cristianismo a fé oficial do Império. Mas dois homens são os fundadores, por
assim dizer daquela que conhecemos por Igreja Católica Apostólica Romana: Leão
I (440-461 d.C.) e Gregório I (590-604 d.C.). O primeiro lançou as bases do
primado de Roma sobre as outras cidades e o início oficial da devoção a Maria e
o segundo se autodeclarou Papa e infalível, dando origem a todos os desvios
teológicos mais grosseiros da Igreja.
A Igreja Reformada (1546) – essa é a mais conhecida de nós,
pois somos – evangélicos, protestantes ou outra coisa – filhos dela. Temos em
Lutero e Calvino, os principais nomes, mas existem outras figuras
importantíssimas além deles que contribuíram para a libertação dos cristãos do
jugo do papado e das correntes do catolicismo.
A Igreja Tradicional – este é o nome que damos a todas as
denominações que surgiram após 1800, ou seja, os Batistas, os Presbiterianos,
os Congregacionalistas (não confundir com a Congregação Cristã), estes são os
principais.
Os Pentecostais – esse grupo de cristãos foi chamado assim
por causa do Avivamento da Rua Azuza nos Estados Unidos em 1901 – alguns outros
avivamentos já aconteciam esporadicamente em alguns lugares da Europa também,
mas este foi o estopim global – sob a liderança do pregador negro Willian
Seymour, se espalhou pelo mundo. As Assembléias de Deus, as Igrejas de Deus, a
Congregação Cristã no Brasil, são os principais frutos deste movimento, mas se
inclui aí a Deus é Amor, o Brasil para Cristo e a Quadrangular, embora mais
tardiamente a sua origem.
Os Carismáticos – foi um movimento de renovação espiritual
dentro dos grupos tradicionais e protestantes – inclusive na Igreja Católica –
que se iniciou nos anos 1960 e 1970, no mundo todo, com a premissa do Batismo
com o Espírito Santo e seus dons, sendo uma bênção posterior à salvação e a
evidência do falar em línguas como marca registrada desta bênção.
Os Neopentecostais – esse é o grupo mais influente
midiaticamente que temos hoje em dia. Iniciou-se no final dos anos 1970 (são
chamados de movimento da terceira onda pentecostal) e tem como principais
representantes a Igreja Universal do Reino de Deus (Rio de Janeiro, 1977),
liderada pelo bispo Edir Macedo, e a Igreja Internacional da Graça de Deus (Rio
de Janeiro, 1980), liderada e fundada pelo missionário R. R. Soares, ambas
presentes na área televisiva, posteriormente, temos o surgimento da Renascer em
Cristo (São Paulo, 1986), da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Brasília,
1992), do Ministério Internacional da Restauração (1992), e da Igreja Mundial
do Poder de Deus (1998). Todas estas são bem conhecidas de todos, e seu
sincretismo religioso são nítidos
Movimentos de Restauração – por toda a história da Igreja de
Cristo houveram momentos onde a fé e o retorno à fidelidade foram iniciados.
Desde a possibilidade da salvação aos gentios que modificou a forma da igreja
de Jerusalém ver as coisas em Atos 15, nos movimentos de santidade dos séculos
VII e VIII, do rompimento da Igreja Ortodoxa em 900 d.C., da separação da
Igreja Anglicana e o Catolicismo que começou em 1.200 d.C. e se concretizou
plenamente em meados de 1500, nos avivamentos históricos, na própria Reforma
Protestante. Todos esses movimentos e outros tiveram sua parcela de
transformação na maneira que a Igreja em geral via as coisas, a vida, a
espiritualidade e as Escrituras e foram pontos de restauração de diversas
verdades ofuscadas pelo catolicismo medieval.
Alguns acreditam que essas “reformas” ou “restaurações” são guiadas pelo Espírito Santo para trazer a Igreja de Cristo ao ponto original dos tempos bíblicos de Atos dos Apóstolos. Também consideram que esses movimentos restauram as funções bíblicas que a Igreja esqueceu no tempo, como os Mestres, os Profetas e os Apóstolos. Estamos em nossos dias exatamente no período em que estes acreditam na restauração apostólica, pois já vieram antes a dos Mestres e a dos Profetas, e faltava a dos Apóstolos.
Esta “reforma apostólica” tem sido a que mais recebe crítica por parte dos cristãos que não vêem as coisas desta forma. Muito mais que os ofícios anteriores, os chamados apóstolos modernos têm sido o alvo de ataques ferozes por parte da maioria dos cristãos no mundo todo. Particularmente, creio que há algum tipo de apóstolo em nossos dias, mas não investidos da pretensa autoridade que vejo na maioria. Muitos sequer têm conhecimento histórico, bíblico ou satisfatório do cristianismo e dos escritos dos pais da Igreja. Não acredito em 99% deles em minha visão particular e bíblica da coisa.
Há o que chamo de Movimento Evangélico. Isto começou pequeno
nos anos 1990 e se estendeu muito hoje. São as igrejas e a criação dos
ministérios que se utilizam do chamado “gospel” – verdadeiro negócio na igreja
– e comercializam de tudo para os crentes da atualidade. Bares Gospel, bebidas
gospel, shows e baladas gospel – nada de graça, se for, alguém está pagando
alto por trás como marketing – todos os produtos são pensados para o
público-alvo desses comerciantes da fé. Todos os ritmos de músicas são
aceitáveis e vendáveis por esta turma, além das “conversões” super rápidas das
celebridades e cantores(as) do mundo que não têm discipulado, vivem sem
pastores, sem igrejas, sem conhecimento da Bíblia, sem tempo para amadurecer e
rapidamente sobem aos púlpitos para darem seus “testemunhos’, venderem seus
CD’s e DVD’s, mas que as igrejas também os usam para seu marketing e
crescimento atraindo os crentes, não os não salvos.
Há ainda em nossos dias as chamadas Igrejas Emergentes –
elas não usam muito a Bíblia em seus cultos, fazem pouca oração, desejam fazer
de tudo para atrair os perdidos, até mesmo se parecer com eles em tudo,
inclusive no linguajar (alguns pastores americanos são conhecidos como
“pastores que xingam”), tudo para serem mais atraentes aos não cristãos. Usam
muita vela, espelhos, artes cênicas – não que isso seja errado, mas usam em
excesso – dramatizam as pregações de formas tão variadas que é difícil saber
que está em um culto. Os pastores contam piadas, usam exemplos de pessoas não
cristãs como referências boas nas pregações. É outro mundo. Neste meio também
se encontram as igrejas que são inclusivas, as que fazem casamentos gays e de
lésbicas.
Para piorar, apareceu um movimento Ultra Pentecostal. Este
surgiu da desintegração da unidade das principais igrejas pentecostais
tradicionais, como a Assembléia de Deus. Estas Igrejas Pentecostais com os
nomes mais mirabolantes e esquisitos são identificadas com o excesso das
profecias não inspiradas, do falar em línguas sem interpretação, de movimentos
bruscos com danças e imposições de mãos ou orações para que as pessoas “caiam
debaixo do poder”, de giros excessivos com o corpo semelhantes ao Candomblé e
Umbanda ao som de músicas rítmicas fortes que induzem ao transe, com roupas
estranhas ao uso comum evangélico, com excessivas gritarias e manipulações
carnais que imitam uma falsa espiritualidade e coisas afins. Esse número tem
crescido nos últimos dias.
Enfim, é isso, meu querido. Espero ter contribuído para o
seu crescimento no conhecimento. Todas as fontes podem ser encontradas
facilmente na internet para aqueles que não possuam uma biblioteca física como
a que eu disponho.
Em Cristo Jesus, de seu conservo.
Carlos Carvalho
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