segunda-feira, 9 de março de 2015

Movimentos históricos na Igreja - breve relato




Dias atrás, respondi genericamente a um amigo e amado pastor sobre algumas perguntas históricas acerca dos movimentos cristãos que mudaram durante os séculos anteriores até os nossos dias, a face da igreja de Cristo. Como título de auxílio aos que estão iniciando seus estudos teológicos posto aqui minha carta-resposta. Espero fomentar o começo de uma jornada maravilhosa de estudos da História da Igreja.


Graça e paz te sejam multiplicadas em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo

Amado, embora o assunto pareça um tento complicado, lhe darei uma visão panorâmica dele para que possa, a partir destes pontos, acrescentar sua pesquisa e ir tirando suas próprias conclusões. Minha visão é bem mais histórica em virtude de meus estudos. Vamos por datas e tempos.

Igreja Primitiva – assim chamamos a igreja original dos tempos apostólicos e que vai de Atos, capítulo 2 até meados dos anos 300 depois de Cristo.

Pais da Igreja – são os homens de destaque do período pós-apóstolos (100 d.C.) - Papias, discípulo de João, Irineu, discípulo antigo e Policarpo – até Agostinho que morre em 430 d.C.

A Igreja Romana – ela nasce de forma embrionária com a conversão do Imperador Constantino em 323 e posteriormente ele decretou o cristianismo a fé oficial do Império. Mas dois homens são os fundadores, por assim dizer daquela que conhecemos por Igreja Católica Apostólica Romana: Leão I (440-461 d.C.) e Gregório I (590-604 d.C.). O primeiro lançou as bases do primado de Roma sobre as outras cidades e o início oficial da devoção a Maria e o segundo se autodeclarou Papa e infalível, dando origem a todos os desvios teológicos mais grosseiros da Igreja.

A Igreja Reformada (1546) – essa é a mais conhecida de nós, pois somos – evangélicos, protestantes ou outra coisa – filhos dela. Temos em Lutero e Calvino, os principais nomes, mas existem outras figuras importantíssimas além deles que contribuíram para a libertação dos cristãos do jugo do papado e das correntes do catolicismo.

A Igreja Tradicional – este é o nome que damos a todas as denominações que surgiram após 1800, ou seja, os Batistas, os Presbiterianos, os Congregacionalistas (não confundir com a Congregação Cristã), estes são os principais.

Os Pentecostais – esse grupo de cristãos foi chamado assim por causa do Avivamento da Rua Azuza nos Estados Unidos em 1901 – alguns outros avivamentos já aconteciam esporadicamente em alguns lugares da Europa também, mas este foi o estopim global – sob a liderança do pregador negro Willian Seymour, se espalhou pelo mundo. As Assembléias de Deus, as Igrejas de Deus, a Congregação Cristã no Brasil, são os principais frutos deste movimento, mas se inclui aí a Deus é Amor, o Brasil para Cristo e a Quadrangular, embora mais tardiamente a sua origem.

Os Carismáticos – foi um movimento de renovação espiritual dentro dos grupos tradicionais e protestantes – inclusive na Igreja Católica – que se iniciou nos anos 1960 e 1970, no mundo todo, com a premissa do Batismo com o Espírito Santo e seus dons, sendo uma bênção posterior à salvação e a evidência do falar em línguas como marca registrada desta bênção.

Os Neopentecostais – esse é o grupo mais influente midiaticamente que temos hoje em dia. Iniciou-se no final dos anos 1970 (são chamados de movimento da terceira onda pentecostal) e tem como principais representantes a Igreja Universal do Reino de Deus (Rio de Janeiro, 1977), liderada pelo bispo Edir Macedo, e a Igreja Internacional da Graça de Deus (Rio de Janeiro, 1980), liderada e fundada pelo missionário R. R. Soares, ambas presentes na área televisiva, posteriormente, temos o surgimento da Renascer em Cristo (São Paulo, 1986), da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Brasília, 1992), do Ministério Internacional da Restauração (1992), e da Igreja Mundial do Poder de Deus (1998). Todas estas são bem conhecidas de todos, e seu sincretismo religioso são nítidos

Movimentos de Restauração – por toda a história da Igreja de Cristo houveram momentos onde a fé e o retorno à fidelidade foram iniciados. Desde a possibilidade da salvação aos gentios que modificou a forma da igreja de Jerusalém ver as coisas em Atos 15, nos movimentos de santidade dos séculos VII e VIII, do rompimento da Igreja Ortodoxa em 900 d.C., da separação da Igreja Anglicana e o Catolicismo que começou em 1.200 d.C. e se concretizou plenamente em meados de 1500, nos avivamentos históricos, na própria Reforma Protestante. Todos esses movimentos e outros tiveram sua parcela de transformação na maneira que a Igreja em geral via as coisas, a vida, a espiritualidade e as Escrituras e foram pontos de restauração de diversas verdades ofuscadas pelo catolicismo medieval.

Alguns acreditam que essas “reformas” ou “restaurações” são guiadas pelo Espírito Santo para trazer a Igreja de Cristo ao ponto original dos tempos bíblicos de Atos dos Apóstolos. Também consideram que esses movimentos restauram as funções bíblicas que a Igreja esqueceu no tempo, como os Mestres, os Profetas e os Apóstolos. Estamos em nossos dias exatamente no período em que estes acreditam na restauração apostólica, pois já vieram antes a dos Mestres e a dos Profetas, e faltava a dos Apóstolos.

Esta “reforma apostólica” tem sido a que mais recebe crítica por parte dos cristãos que não vêem as coisas desta forma. Muito mais que os ofícios anteriores, os chamados apóstolos modernos têm sido o alvo de ataques ferozes por parte da maioria dos cristãos no mundo todo. Particularmente, creio que há algum tipo de apóstolo em nossos dias, mas não investidos da pretensa autoridade que vejo na maioria. Muitos sequer têm conhecimento histórico, bíblico ou satisfatório do cristianismo e dos escritos dos pais da Igreja. Não acredito em 99% deles em minha visão particular e bíblica da coisa.

Há o que chamo de Movimento Evangélico. Isto começou pequeno nos anos 1990 e se estendeu muito hoje. São as igrejas e a criação dos ministérios que se utilizam do chamado “gospel” – verdadeiro negócio na igreja – e comercializam de tudo para os crentes da atualidade. Bares Gospel, bebidas gospel, shows e baladas gospel – nada de graça, se for, alguém está pagando alto por trás como marketing – todos os produtos são pensados para o público-alvo desses comerciantes da fé. Todos os ritmos de músicas são aceitáveis e vendáveis por esta turma, além das “conversões” super rápidas das celebridades e cantores(as) do mundo que não têm discipulado, vivem sem pastores, sem igrejas, sem conhecimento da Bíblia, sem tempo para amadurecer e rapidamente sobem aos púlpitos para darem seus “testemunhos’, venderem seus CD’s e DVD’s, mas que as igrejas também os usam para seu marketing e crescimento atraindo os crentes, não os não salvos.

Há ainda em nossos dias as chamadas Igrejas Emergentes – elas não usam muito a Bíblia em seus cultos, fazem pouca oração, desejam fazer de tudo para atrair os perdidos, até mesmo se parecer com eles em tudo, inclusive no linguajar (alguns pastores americanos são conhecidos como “pastores que xingam”), tudo para serem mais atraentes aos não cristãos. Usam muita vela, espelhos, artes cênicas – não que isso seja errado, mas usam em excesso – dramatizam as pregações de formas tão variadas que é difícil saber que está em um culto. Os pastores contam piadas, usam exemplos de pessoas não cristãs como referências boas nas pregações. É outro mundo. Neste meio também se encontram as igrejas que são inclusivas, as que fazem casamentos gays e de lésbicas.

Para piorar, apareceu um movimento Ultra Pentecostal. Este surgiu da desintegração da unidade das principais igrejas pentecostais tradicionais, como a Assembléia de Deus. Estas Igrejas Pentecostais com os nomes mais mirabolantes e esquisitos são identificadas com o excesso das profecias não inspiradas, do falar em línguas sem interpretação, de movimentos bruscos com danças e imposições de mãos ou orações para que as pessoas “caiam debaixo do poder”, de giros excessivos com o corpo semelhantes ao Candomblé e Umbanda ao som de músicas rítmicas fortes que induzem ao transe, com roupas estranhas ao uso comum evangélico, com excessivas gritarias e manipulações carnais que imitam uma falsa espiritualidade e coisas afins. Esse número tem crescido nos últimos dias.

Enfim, é isso, meu querido. Espero ter contribuído para o seu crescimento no conhecimento. Todas as fontes podem ser encontradas facilmente na internet para aqueles que não possuam uma biblioteca física como a que eu disponho.

Em Cristo Jesus, de seu conservo.


Carlos Carvalho

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