domingo, 22 de novembro de 2015

Afirmações de celebridades podem ser contestadas?


Afirmações de celebridades podem ser contestadas?
Daniela Mercury afirma na ONU que "Deus não é homofóbico"

Esta é a frase que aparecia em veículo de comunicação social na internet. A frase foi declarada pela cantora Daniela Mercury, que é embaixadora do UNICEF e afirmou que "Deus não é homofóbico" durante um evento na sede das Nações Unidas para defender os direitos das pessoas LGBTI (cada vez mais a sigla aumenta) na América Latina.

O estranho é que seu papel de embaixatriz da UNICEF não corresponde a esse tipo de agenda.  O Fundo das Nações Unidas para a Infância (em inglês United Nations Children's Fund - UNICEF) é um órgão das Nações Unidas que tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar resposta às suas necessidades e contribuir para o seu desenvolvimento, portanto, não é uma agenda homoafetiva.

Como suas declarações foram mais que públicas, foram veiculadas ao mundo, acredito que questionar qualquer uma delas não deva me trazer processo judicial, nem ser tomado como um “palatino preconceituoso em defesa do arcaico conceito religioso e fundamentalista homofóbico”. Acho que dá para me livrar desta, espero. Analisemos as frases da cantora:

“Deus não é homofóbico”

Ela está certíssima em fazer esta afirmação. Nenhum cristão em sã consciência diria tal aberração acerca de Deus. Deus não é homofóbico, simplesmente porque não é. Porém, aqui temos um dado importante: Deus não ser homofóbico, não significa que apóia a homoafetividade. São duas coisas bem diferentes, em outras palavras, não ser homofóbico, no caso de Deus, não o transforma automaticamente em defensor das uniões homoafetivas.

Quando um juiz, que tem opiniões firmes e contrárias acerca da homoafetividade, dá causa favorável a uma questão homoafetiva, ele não se transforma em defensor da orientação LGTBI, nem tampouco por ter opiniões pessoais divergentes se torna homofóbico, porém, ele assume a posição neutra, pois terá que julgar de acordo com os autos e com a Lei.

O caso de Deus é extremamente semelhante. Deus está como neutro nesta circunstância pelo fato de que suas leis e estatutos já preveem suas orientações sobre o caso. Deus não é homofóbico, mas expressamente declara-se contrário à prática homoafetiva na Escrituras que inspirou. É bem simples, portanto: a declaração da cantora está correta, ela apenas não foi mais adiante no conhecimento de Deus, e isso certamente conscientemente.

Ainda teríamos, prioritariamente, que perguntar a que tipo de “Deus” a cantora se refere. Isto porque o Deus judaico-cristão, que se revela na criação e na Escritura Sagrada, que deixou parte de seus pensamentos e vontade impressos no registro histórico da Bíblia, que tem leis, ordenanças, mandamentos e desejos bem claros quanto ao comportamento do ser humano e que é anterior a tudo o que existe, inequivocadamente não esse “Deus” inventado à revelia da mente dos homens e mulheres do mundo. Depois ela soltou mais uma:

“Deus me fez como sou...”

É claro que por inferência Deus é o criador do ser humano, mas isso de forma indireta. Deus só se envolveu diretamente na criação do primeiro casal e deu a eles o privilégio de se multiplicarem sobre o planeta, e isso tem funcionado bem até hoje. Porém, Deus não fez a cantora como alguém gay, ela “descobriu” isso após muitos anos de vida, e após ter sido casada duas vezes com homens e ter filhos. Só depois disso “encontrou” a homoafetividade.

Se o Deus a quem ela se refere, já vimos que, não sendo homofóbico, não apóia a homoafetividade, então Ele não criou nem a cantora nem ninguém como LGTBI. Portanto, sua declaração é mais uma coisa solta ao vento que carece de substância para ser verdade. Deus é criador dos seres humanos, mas as escolhas deles não foram sancionadas nem aprovadas por Deus. É preciso tratar essas declarações com duplo entendimento.

Isso é o mesmo que uma pessoa psicologicamente comprometida, como um psicopata, um serial killer, um estuprador ou outro dizer que Deus o criou desta forma, isso não é verdadeiro. Mesmo que a comparação seja brutal para algumas pessoas, isso não remove o fato de que algumas vezes estas pessoas dizem exatamente isso. Elas não sentem verdadeiramente a culpa pelos seus erros, mas dizem que nasceram assim e que suas ações não poderiam ser controladas, pois são parte de sua essência. Se Deus é criador direto deles, portanto, Deus é, em última instância, o co-autor destes crimes.

Isto se converte num tremendo absurdo de declaração, mas é exatamente assim que alguns sem entendimento querem nos fazer acreditar. Por isso, dizer que Deus criou alguém de uma forma bela, educada, bondosa e afins, não anula a mesma possibilidade de dizer que Deus criou o outro como ignorante, criminoso e violento. Essa ambigüidade possível não corresponde aos fatos da criação e atenta contra o arbítrio humano que insiste em escolher uma vida separada deste Deus. Mas a cantora solta duas frases bem contraditórias:

“Queremos direitos iguais, mas não queremos ser iguais", e “diferentes nem opostos, são simplesmente pessoas".

Bem ao estilo daqueles que gostam de criar confusões nos conceitos, sem, contudo, discernirem apropriadamente o que dizem. Não é preciso muito para compreender que a cantora se atrapalhou nas questões de identidade pessoal e coletiva. Somos seres únicos, porque não há ninguém como o outro, e isso atesta a nossa individualidade como pessoas, mas ao mesmo tempo, somos seres que desfrutam das mesmas características dos outros seres humanos, e isso aponta para a nossa coletividade.

Dizer que “não queremos ser iguais”, mas não sermos “diferentes nem opostos”, e ainda criarmos uma classificação para isso, chamando de “pessoas”, é fazer duas coisas: a primeira, um reducionismo da identidade a tal ponto que nos perdemos no coletivo, e, consequentemente, não saberemos quem de fato somos, e segundo, dá à coletividade, chamada apenas de “pessoas” uma prioridade e prevalecência sobre a própria individualidade, fazendo com que, ao final, os direitos pessoais desapareçam.

Uma frase desta, falada com tanta simplicidade, sem medir as consequências, é no mínimo contraditória. Opostos desta qualidade não se sustentam, se anulam a si mesmos. Não podemos afirmar que a cor preta é a mesma que a branca, pois são diferentes, ainda que possam “conviver” harmoniosamente no universo das cores, não são a mesma coisa. Cada uma guarda sua individualidade e característica própria.

Uma contradição, na lógica clássica, é uma incompatibilidade lógica entre duas ou mais declarações. Estas proposições, quando feitas ao mesmo tempo, geram conclusões que formam inversões lógicas, geralmente opostas uma da outra. A lei de Aristóteles da não-contradição afirma que "Não se pode dizer de algo que é e que não é no mesmo sentido e, ao mesmo tempo", ou seja, as afirmações acima da cantora são opostas, por isso são contradições.

Finalizando

Finalmente, a pessoa com quem a cantora se casou declarou que a homossexualidade sempre esteve presente na história da humanidade, e pediu que a sociedade se preocupasse mais com a violência e discriminação que existem no mundo e não com quem cada um ama. Parecem ser bem colocadas e verdadeiras, mas precisam de mais clareza e perspicácia.

A homossexualidade nem sempre existiu na história da humanidade. É necessário ter todo o conhecimento da história humana para fazer tal declaração e isso não é possível e jamais será. Ninguém tem o conhecimento total da história da humanidade. Portanto, dizer “que em toda a história”, não é verdadeiro, somente podemos dizer que na parte dos registros possíveis que possuímos isso ou aquilo foi verificado, não mais. Declarações totalizantes são tão ingênuas como perigosas.

Se voltarmos nos registros que possuímos da história e neles incluindo a Bíblia, veremos que a homossexualidade tem local e datas aproximadas de “aparecimento”. É quase unânime citar a Grécia antiga como ponto de partida para a maioria dos comportamentos homoafetivos, mas a Grécia surgiu de fato em uma data próxima de 700 anos antes de \Cristo, portanto, cerca de 2.800 anos atrás e com pouquíssimo erro cronológico. Ao incluirmos o relato bíblico de Sodoma, retroagimos no tempo em mais de 3.000 mil anos antes de Cristo. Neste caso, faço um favor ao movimento mostrando data tão antiga. Mesmo assim, a homossexualidade não existiu sempre na história humana, ela é antiga, mas não uma constante.

A última frase que a companheira da cantora é profundamente preocupante, não por ser perigosa, mas por ser sem nexo. Veja bem, se devemos nos preocupar apenas com a violência e com a discriminação, mas não com “quem cada um ama”, isso significa pelo menos outras duas coisas: uma é que crimes passionais não seriam em última análise crimes. Vemos e ouvimos todos os dias – todos os dias – nos meios de comunicação pessoas que amam cometerem homicídio exatamente porque a quem eles amam não lhes correspondem mais ao amor que oferecem. É precisamente esse “amor” que foi ferido, que se vinga da ferida, matando quem lhe feriu, e, ainda declaram em suas confissões que foi por amor que fizeram isso. Não vamos nem entrar nos casos de homicídio seguido de suicídio, certo?

A segunda coisa é que a definição de “amor” perde o senso de moral e sua referência maior, pois se “amar” tem seu significado a partir da pessoa e não de algo externo a ela, alguém poderá “amar” uma criança de qualquer idade e não ser pedófilo, alguém pode “amar” um gato e ter relações sexuais com ele e está tudo dentro do “amor”. Tanto a pedofilia quanto a zoofilia são comportamentos reprováveis do ponto de vista ético e moral, religioso ou não, tanto no Oriente como no Ocidente. Então, dentro do sistema civil, religioso, judicial e social, a preocupação com “quem eu amo” não é desprovida de senso, mas uma preocupação legítima. Não é um policiamento puritano, mas o resguardar de limites, que, se removidos, dão luz a todo tipo de permissividade hedionda.

Pensem nisso!

Carlos Carvalho
Teólogo e Cientista Social

Fonte da matéria na rede social:
http://www.msn.com/pt-br/entretenimento/noticias/daniela-mercury-afirma-na-onu-que-deus-n%C3%A3o-%C3%A9-homof%C3%B3bico/ar-BBng89r?li=AAaB4xI


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