terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Comunidade Batista Bíblica

2015 – Ano I do Tempo de Colheita


Chegou 2015!

Enfim entramos no tempo profético que denominamos Tempo de Colheita. Uma espera de mais de 14 anos a partir das revelações que o Senhor pelo Espírito Santo nos mostrou por meio de seus profetas e intercessores à nossa Comunidade.

Enfim chegamos ao limiar da profecia de Sofonias 3.17-20 – profecia que fundamentou a origem de nossa comunidade de fé – e poderemos ver diante de nossos olhos Yahweh realizar seus movimentos de resgate, de cura e de libertação em amor por meio de cada um que faz parte desta igreja local.

Enfim poderemos andar mais “para dentro” deste período e palavras de profecia legítimas do Senhor e testemunhar o porquê Deus nos gerou com uma palavra da Antiga Aliança, sendo nós uma Comunidade do Novo Testamento. Teremos a partir deste ponto o discernimento necessário para cumprirmos o nosso propósito.

Este é um tempo longo, um período aberto por Deus em sua soberania e vontade reveladas de 21 anos – creio plenamente nisso! – para que unidos e diligentemente alcancemos o fruto mais importante e excelente desta colheita: vidas resgatadas e apresentadas ao altar de Deus. Este é o verdadeiro motivo de nosso trabalho espiritual.

É neste tempo que precisamos fortalecer áreas importantes da vida de nossa Comunidade. A unidade, a Adoração individual e coletiva, o Discipulado de cada membro da igreja, a Libertação como prática e seminário contínuos, os Ministérios com treinamento ininterrupto da liderança formada da Comunidade e a Missão de implantar novas comunidades na visão da Grande Comissão e Evangelização ordenadas por Cristo.

Este é o tempo de alcançar a multidão prometida desde nosso nascimento e cuidar das vidas através do Discipulado Celular, dos Cultos nos Lares, nas Congregações, nos cultos específicos, nas orações, pelas mídias sociais e de todas as formas possíveis, para ministrar a elas a Palavra, o poder e o consolo de Deus para suas necessidades.

É tempo de crescer espiritual e numericamente, é tempo de ter uma organização e estrutura internas de excelência para Deus, é tempo de viver o melhor de Deus mesmo em meio às dificuldades e perseguições, é tempo de crescer mais na graça e no conhecimento do Senhor, é tempo de ter mais experiências com Deus, é tempo de andar no Espírito, manifestar mais seus dons e talentos para a glória dEle. E há muito mais...

Este é nosso tempo!


Carlos & Cristina Carvalho

Bispos

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A Dádiva da Vida Eterna


A DÁDIVA DA VIDA ETERNA
Lucas 18.18-30

Este é aquele famoso texto onde Jesus conversa com o moço rico que queria saber o que deveria fazer para herdar a vida eterna. O que está em evidência é a vida eterna, ou seja, a garantia da vida após a morte e a certeza que esta se dará ao lado de Deus e não no inferno ou na condenação eterna. as palavras originais que são traduzidas como vida eterna por si só já demonstram que é a vida vindoura e não a vida vivida aqui.[1]

Se tomarmos um quadro geral como expressão dessa perícope selecionada do capítulo dezoito, veremos que toda a conversa e as nuances que se desenvolvem a partir dela se concentram na questão da vida porvir. O versículo 18 e o versículo 30 iniciam e terminam o texto com a vida eterna como tema central. O moço faz uma pergunta sobre ela e Jesus finaliza a conversa dando a perspectiva correta sobre a mesma.

O jovem vê a vida eterna na perspectiva da legalidade e de sua relação com a Lei de Deus. Ele está acostumado com essa visão legalista e da justiça que os homens de Israel tentavam alcançar pelo cumprimento integral dos mandamentos – embora nenhum ser humano conseguiu – e, a partir dessa relação, pensa que o assunto que possivelmente lhe angustia, está centrado nas mesmas bases legais que sua própria sociedade culturalmente vivia.

Ao percebermos o início da conversa e como Jesus lhe questiona sobre o seu relacionamento com a Lei, depois de o jovem ter indagado o Senhor sobre como ele poderia “herdar” a vida eterna, logo vemos que sua perspectiva sobre o futuro estava fundada nos mesmos princípios legais que geriam as questões das heranças entre o povo[2]. Ele entendia perfeitamente o princípio de herança que era uma questão legal da sociedade, mas equivocadamente pensava que a vida eterna seria uma coisa de “direito” ou de “legalidade”.

Por isso Jesus passa a descrever em outros termos o que é a vida eterna em sua perfeita ótica, na tentativa de alterar a perspectiva do jovem sobre o assunto. Deste ponto em diante, veremos por outras vias, a verdade ensinada pelo Senhor sobre a vida eterna. Podemos compreendê-la de quatro maneiras:

Primeira – a vida eterna é o reconhecimento de que a pessoa não tem o que realmente necessita para possuí-la (veja v.22,23).

Aquele moço possuía tudo o que qualquer pessoa na face da terra compreende como as coisas mais excelentes que o dinheiro e a posição podem comprar ou ter, porém, mesmo assim, Jesus diz a ele que lhe falta algo. Certamente para o moço a única coisa que lhe faltava era a garantia de viver para sempre, mas o Senhor lhe assevera que ele não tem o que realmente precisa para ganhar a eternidade.

Com estas palavras Jesus lhe diz que a vida eterna só pode ser alcançada por pessoas que sabem que são profundamente necessitadas. Quando o Senhor lhe fala que ele só compreenderá a vida eterna quando se desfizer de tudo o que tem e passar a viver na total dependência dele, o jovem começa a perceber que a vida eterna não é um assunto para gente imatura e sem bom senso, mas para pessoas que estão dispostas a ir muito além do comum.

Segunda – a vida eterna não pode ser conquistada pelos recursos pessoais (veja v.24,25).

Jesus faz uma fortíssima declaração após ver a profunda tristeza de semblante que tomou conta do jovem rico quando percebeu que a vida eterna estava distante dele. Ele disse que um rico não pode entrar no reino dos céus, ou seja, receber a vida eterna, pelo simples fato de que suas riquezas lhe impedirão de alcançar esta vida porque elas se tornarão a única vida com a qual essa pessoa passará a reconhecer e viver e da qual dependerá.

Claro que à luz das Escrituras[3] sabemos que o Senhor não está vaticinando que nenhum rico vai para o céu e só os pobres têm lugar lá, mas que qualquer pessoa que põe sua confiança no dinheiro ou nas riquezas não irá possuir a vida eterna, porque as riquezas serão o próprio “deus” da pessoa e esta irá servi-lo sem perceber que se tornou escravo de um sistema que tem sua própria autonomia e independência de Deus. Mamon[4] é o seu deus e sua vida.

Terceira – a vida eterna é uma impossibilidade humana (veja v. 26,27)

Os discípulos ouvindo as declarações de Jesus logo pasmaram com o grau de seriedade e indagaram que, sendo esses os termos, quem poderia ser salvo? O Senhor responde que a salvação, neste caso, a vida eterna, não é uma coisa que os seres humanos podem alcançar por conta própria, por esforços próprios ou por seus recursos pessoais, mas é algo que apenas Deus pode conceder, ou seja, é um presente, uma dádiva, um dom. a vida eterna é concedida por graça, pela graça, não é uma conquista ou direito humano.

Jesus demonstrou claramente por suas palavras que a vida eterna não é “herança” de direito humana, que ela não pode ser adquirida por nenhuma riqueza material, por nenhum preço que se possa estipular pelos processos de valoração desta existência, mas que a vida que ultrapassa o nosso próprio tempo cronológico e biológico de vida está para além de nossas vontades e desejos, e apenas podendo ser concedida por favor divino em sua soberania.

Quarta – a vida eterna está fundamentada na renúncia (veja v.29,30)

Jesus encerra sua fala respondendo não mais à pergunta do jovem rico – que à essa altura já não participava mis da conversa – mas aos discípulos que também introduziram questionamentos sobre a impossibilidade da salvação, e que pela segunda vez interrogaram Jesus dizendo que se eles mesmos haviam deixado tudo para segui-lo, qual seria a sua recompensa? O Senhor os responde com uma de suas máximas mais contundentes: que a renúncia é o preço para se viver uma vida abençoada aqui e no porvir.

Os discípulos precisavam compreender que a renúncia a tudo o que nos é mais importante, seja família, casa ou bens, é o fator decisivo e definitivo do seguir e do andar com Deus. Seguir a Jesus implicaria em abrir mão de tudo, tudo mesmo para depois receber de volta tudo o que renunciou em medida multiplicada. Esse é o segredo da vida com Jesus: renunciamos a tudo, entregamos tudo a ele, e agora, sendo dono de tudo, ele nos faz mordomos daquilo que é seu. É como se Cristo nos disseste: “Tudo que você tem é meu, agora eu te dou o que é meu para que você cuide para mim por um certo período de tempo!”

Somos apenas mordomos dos bens de Deus. Tudo que temos ou viermos a ter, nossa casa ou casas, nossa família, nosso trabalho, nossos bens e dinheiro, já não são mais nossos, são dele. E ele por infinita misericórdia e graça nos ofereceu a honra de cuidar de todas essas coisas até o dia de sua volta ou de nossa morte. Aos mordomos espera-se que somente sejam fiéis administradores dos bens de seu Amo e Dono, o Senhor.

Queremos ouvir naquele dia: “Muito bem, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mateus 25.21). Ansiamos de Deus em Cristo Jesus a vida eterna!

Bp. Carlos Carvalho
Teólogo, Cientista Social, Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica e fundador da ONG ABAN Brasil.




Notas:

[1] As palavras gregas são: zoen aionon – literalmente vida eterna.

[2] Na Torá as questões sobre a herança tornaram-se parte da cultura do povo de Israel, por exemplo, em Números 27.6-11.

[3] Em Marcos 10.24, Jesus usa a expressão “quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!”. A expressão “confiam” nos faz entender o ponto que descrevo.

[4] Mateus 6.24.

domingo, 30 de novembro de 2014

A Família em Deus


A Família em Deus


Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus,
Efésios 2.19 (grifo nosso)

Através de nossa comunhão com Jesus Cristo e pelo reconhecimento de seu sacrifício em nosso lugar na cruz fazendo-o Senhor de nossas vidas, fomos recebidos na família de Deus. Cada cristão na face da terra em Cristo é membro da grande família de Deus. Nesta família só há filhos e filhas gerados pelo Unigênito Filho de Deus, Jesus nosso Salvador.

Quão importante é o tema da família para Deus que desde o livro do Gênesis nos mostra que no início Deus no jardim estabeleceu as duas coisas mais importantes coexistindo pacificamente: a família (Adão e Eva) e o culto (Deus todos os dias comungava com eles). Alguns desejam nos fazer escolher entre a família e a igreja, mas esta escolha não precisa ser feita.

Em Deus, através de Jesus, na Palavra de Deus as duas coisas são essenciais para uma pessoa. Tanto o culto (ou a igreja hoje) como a vida familiar são inseparáveis na visão do Senhor. Por isso devemos sempre agir com sabedoria, interceder, clamar continuamente para que nossos inimigos espirituais e as falsas amizades não levem vantagem sobre nós, nos enganando e impedindo nossa comunhão com Deus (nossa devocional e nosso culto a Ele na reunião da igreja) e afastando nossa família de nós e de Deus (pela influência maligna).

Escolhemos a melhor parte: servir a Deus com nossa família.



Bp. Carlos Carvalho

domingo, 9 de novembro de 2014

segunda-feira, 27 de outubro de 2014


Eleições e Vontade de Deus

Muitos pensam que em nossos dias, nas nações ocidentais e democráticas, que os governantes são postos por Deus. Isto não é a verdade bíblica.

Pensamos assim porque confundimos a forma de governo dos povos bíblicos e a forma de governo ocidental. Na Bíblia, os governos eram monarquias ou impérios e, em nosso caso, os governantes são postos pelo voto direto.

Lá, o governante era posto por direito de nascimento ou por conquista militar, aqui, pela vontade do povo. As monarquias eram vistas como empossamento divino desde a antiguidade, no Ocidente é a vontade do povo que prevalece.

Quando o povo de Deus quis um governante semelhante aos povos ao seu redor, Deus disse a Samuel que eles O estavam rejeitando (1 Samuel 8.7). Portanto, a vontade do povo não é a vontade de Deus.

O Novo Testamento nos ordena a sermos sujeitos às autoridades quaisquer que sejam (era um império quando Paulo escreveu isso) e a orarmos por qualquer que esteja em posição de governo sobre nós por estes motivos simples:

"Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens;
Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade;
Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,
Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.
O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo."
1 Timóteo 2:1-6

Em Apocalipse 18, a Babilônia, a representação do governo do homem em detrimento ao governo de Deus será julgada e destruída e, ao final, as nações serão eliminadas no Armagedom (Ap. 20). Um novo governo será implantado para todo o sempre em Apocalipse 21. Aí, a plena vontade de Deus será estabelecida por toda a eternidade.

Bp. Carlos Carvalho

Outubro de 2014

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O Poder Transformador do Evangelho I


O Poder Transformador do Evangelho I


Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego.
Romanos 1.16

          Assim está escrito na carta aos romanos em seu capítulo 1, versículo 16. E esta é a essência do Evangelho e do verdadeiro cristianismo, que não pode ser traduzido como uma religião entre as demais, mas como o andar num caminho inaugurado por Jesus.


          A palavra salvação contém em si mesma, vários significados, entre eles, libertação e preservação da vida. Paralelo a isso, o Evangelho traz também a ação de uma transformação interior, com características visíveis para a pessoa que o recebe e nele crê. A isso igualmente na carta aos romanos está escrito:

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:2

          Uma das senhoras que moram em nossa rua tem um histórico de alcoolismo crônico bem conhecido por nós. Numa tarde, passando em frente à sua residência, vendo em sua porta uma das pessoas que constantemente lhe visitam, algo inusitado me chaga aos ouvidos. Ele exclama para sua visitante:

          - Agora sou uma mulher de Deus, eu não bebo mais!

          A visitante se surpreende com a resposta da senhora, mas demonstra em palavras sua admiração pela decisão dela.

          Os críticos do Evangelho e do cristianismo esquecem-se propositalmente de dizer o quanto a nossa fé é benéfica aos seres humanos e o quanto milhões de pessoas têm sido livres de comportamentos autodestrutivos por causa da fé em Jesus Cristo todos os dias.



Carlos Carvalho
Teólogo, Cientista Social, fundador e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica e fundador da ONG ABAN Brasil


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Os sem igreja e o niilismo


Os sem igreja e o niilismo

No mundo de hoje (diga-se no Ocidente) cresceu e cresce o número de pessoas que se declaram cristãos ou evangélicos, mas não têm ou desejam participar ativamente da membrezia de uma igreja local, a qual chama de institucionalizada. Aproximadamente existem, só no Brasil, mais de 4 milhões destes, segundo os últimos dados do IBGE[1].

Notadamente, estes “irmãos” criticam basicamente a forma da igreja (templo / oficiais / dinheiro) ou estão decepcionados por algum tipo de sofrimento que passaram com a liderança dos locais onde pertenciam. Não são membros de longa data, pois estiveram na “igreja” por menos de 6 anos na sua maioria (média mundial)[2], portanto, são pessoas oriundas da última geração de indivíduos fortemente influenciados pelo pós-modernismo cultural e o neoliberalismo[3] das três décadas passadas

São considerados como evangélicos nominais, termo que sociologicamente se assemelha aos católicos nominais, este último, um contingente gigantesco entre os que se declaram católicos no Brasil. Esses católicos nominais não freqüentam a igreja, não vão à missa, não são devotos de nenhum santo ou o são de santos por escolha pessoal, limitadas ao seu interesse, como Santo Antônio, para obter casamento, Expedito, para conseguir emprego, e por aí vai. São plenamente descompromissados com sua fé declarada e não se comportam como seria exigido de um fiel desta religião.

O “movimento” não é novo na história da igreja, havendo, desde o início da cristandade, muitos casos de deserção, e alguns deles, extremamente heréticos, ou seja, por implantação de doutrinas, conceitos e comportamentos nocivos à verdadeira fé e à vida cristã saudável, como por exemplo, o gnosticismo, doutrina perniciosa que tem tentáculos até os nossos dias[4]. Mas a igreja contra qual esses movimentos pregavam e vociferavam continuou e continua a existir, e a maioria destes desapareceu.

Gostaria de tecer somente dois pequenos comentários sobre isso, um bíblico e outro histórico. Faço isto na tentativa de responder a mim mesmo, se eu estivesse na situação oposta á minha, a de desigrejado com um sincero e profundo desejo de compreender a vontade de Deus e de não viver em engano que pode comprometer a minha eternidade com Cristo.

Bíblico
Qualquer leitor da Bíblia conhece o texto da carta aos hebreus onde o escritor sagrado nos exorta a não deixar de frequentar a reunião da igreja (Hebreus 10.25) e ele diz isso porque sabe que já em sua época, isso era um costume de alguns que outrora haviam feito a profissão de fé cristã. Não duvidamos da inspiração da carta e não rejeitamos seu conteúdo em hipótese alguma, pois ela é quem descreve com maestria a mudança da Antiga para a Nova Aliança e entroniza a Jesus, o Cristo como nosso Sumo Sacerdote eterno. Por isso, suas exortações finais também devem ser acertadamente consideradas como vontade de Deus para a igreja de Deus.

Consequentemente precisamos perguntar: Onde está escrito em todo o Novo Testamento que o convívio entre os cristãos seria perfeito, que não haveria sofrimentos, rejeições, incompreensões ou desafetos? Onde se lê que nas relações diárias e no próprio culto / reunião todas as coisas seriam simples, amáveis e plenas de amor? Onde se vê que nas relações com as lideranças na igreja, os liderados / rebanho não sofreriam qualquer tipo de abuso?

Ao contrário, se lermos atentamente e com escrutínio espiritual, iremos perceber que as cartas foram escritas justamente para regular o convívio entre os irmãos e com a sociedade ímpia ao redor da igreja. As cartas nos falam de um ideal e princípios a serem alcançados na vida prática e nas relações diárias dos irmãos. Porque se isso não for assim, onde ficam o Sermão do Monte, os ensinos de Jesus, as cartas paulinas como as de Coríntios, Efésios, Timóteo, para não dizer todas? Todas essas coisas e as demais não nos falam precisamente que as relações não são perfeitas – por nossa própria causa – e precisam ser ajustadas ao padrão de Deus?

É exatamente por isto que não devemos deixar de congregar, de ir ao local de reunião da igreja, porque não devemos fugir da responsabilidade cristã de corrigir nossas falsas percepções pessoais da vida e da igreja, não podemos igualmente deixar de levar a cruz, que indica o peso leve do compromisso com Cristo, que mesmo quando foi injuriado, incompreendido, rejeitado e ferido, mas mesmo assim, liberou o perdão aos seus ofensores[5]. Deixar de congregar é negar a terapêutica de Deus em nos fazer homens e mulheres de paz e paciência interiores.

Deixar de congregar é negar a Deus e ao seu Cristo nos fundamentos mais básicos do cristianismo, como o amor (que amor é esse, que ama somente aos que o amam e aos que não lhe fazem mal?)[6], como a fé (que tudo sofre, tudo crê, tudo suporta e tudo espera)[7] e como o perdão (não se pode exercitá-lo sem ofensas). Somos melhores que Jesus? Somos mais especiais que os apóstolos que foram feridos morreram por sua fé inabalável? Somos seres superiores que não podemos viver e expressar os textos bíblicos do amor e do perdão a quem nos fere ou injuria, mesmo sendo da igreja?

Existem muitas coisas não bíblicas com este tipo de movimento, mesmo que usem as desculpas mais comuns para manterem suas posições antiinstitucional.

Histórico
Quero me utilizar do termo niilismo como comentário histórico acerca do comportamento sem igreja ou de desigrejados atuais. Isto porque é consenso que o movimento dos desigrejados é por visto claramente como uma tendência niilista, mesmo que sem ser percebido pelos que apenas seguem as modas que a cada tempo surgem. Resumidamente poderíamos descrever o niilismo como um movimento histórico como segue.

É uma doutrina política e filosófica que se fundamenta na negação da ordem social estabelecida e de todas as formas de esteticismo, e na defesa do Utilitarismo e Racionalismo Científico. Para os niilistas, todos os males derivam de uma única fonte, a ignorância, que somente a ciência é capaz de suprimir. Kropotkin, pensador anarquista russo, definiu o niilismo como uma luta contra a tirania, a hipocrisia e artificialismos, e em favor da liberdade individual.

A doutrina niilista, que foi profundamente influenciada pelas ideias de Ludwig Feuerbach, Charles Darwin, Henry Buckle e Herbert Spencer, surgiu na antiga Rússia durante o reinado de Alexandre II (séc. XIX). O termo foi empregado pela primeira vez por Nicolai Nadezhdin e foi popularizado por Ivan Turgenev em 1862. É desde pano de fundo histórico que não apenas o termo deriva, mas seu comportamento comum entre seus seguidores[8].

Se o niilismo é a fonte filosófica (não se vive sem filosofar em algum nível!) e doutrinária do movimento dos sem igreja, mesmo que estes não se considerem niilistas (na forma podem não ser, mas na prática o são!), fica claro o porquê que este tipo de movimento conta com um número crescente hoje. Qualquer pessoa que não estiver satisfeita com as organizações estabelecidas, como as igrejas, ou que particularmente se sentirem feridas e abusadas por qualquer tipo de liderança, como os pais ou os pastores, encontrará no movimento um coro que justificará, não somente os seus sentimentos de repulsa e raiva, mas também justificará a sua decisão de abandoná-las.

Mais uma vez repete-se o ciclo anterior que desemboca e culmina na rejeição aos maiores de todos os mandamentos: o amor a Deus e o amor ao próximo[9]. Esses mandamentos só podem ser vividos exclusivamente no convívio e não no isolamento. Poderiam ser multiplicados os textos bíblicos que nos exortam e nos ordenam ao convívio com os irmãos, mesmo que seja num ambiente institucional, pois as ordens bíblicas são para serem vividas em qualquer lugar, em casa, na empresa, na sociedade, na igreja mística e na igreja institucionalizada. Não há escolhas pessoais de locais para exercitar a fé, o perdão, e o amor cristãos.

Fim
Não é preciso dizer que a igreja institucionalizada não é perfeita, mas a igreja “espiritual” também não é. Ela é composta de pecadores arrependidos com possibilidades e sujeitos ao pecado e por isso, debaixo das mesmas imperfeições. Deixar a igreja “institucionalizada” com a desculpa dos erros que há nela é a mesma coisa que tentar extrair a mão do braço porque considera que ele esteja apodrecido. Isso não vai dar certo. Quando um órgão está doente faz-se cirurgia de remoção ou transplante – extração ou substituição – mas isso só funciona mais ou menos bem na medicina, não na vida espiritual da igreja de Cristo.

Foi Paulo quem nos ensinou a analogia do corpo e de como os membros se relacionam em sua interdependência e necessidade mútua para nos mostrar como deveria ser nossa cosmovisão em relação ao corpo de Cristo[10], a igreja. É também seríssimo considerar algo aqui: será que os que estão sem igreja pensam que somente eles são “igreja”? E os que não fizeram a opção de deixar a que chamam de institucionalizada por não acreditarem nestes mesmos postulados defendidos por eles, não fazem parte do corpo de Cristo? É muito fácil justificar posições pela Bíblia, mas não é nada fácil ser julgado por ela!

Portanto, duas coisas são parte integrante do movimento dos desigrejados: 1) há de fato aqueles que foram feridos, usados e abusados por autoridades eclesiásticas com finalidades pessoais e de enriquecimento, mas estes mesmos que foram vitimados por esse joio que cresceu no campo do Senhor, são convidados a perdoar, curarem-se pelo poder do Espírito Santo que dá o seu fruto, chamados a orar pelos que lhes fizeram mal e lutar para essas realidades sejam eliminadas no seio da amada igreja de Cristo, sem, contudo, sair dela.

E, 2) há os que não têm nenhum motivo concreto para criticá-la, a não ser sua própria insatisfação pessoal com qualquer nível de ordem, de autoridade, de organização ou de rebeldia, que naturalmente, sem receios, falam abertamente contra qualquer coisa que lhes desagrade, sem respeito ou consideração e, como, diz Pedro e Judas em suas cartas, seres irracionais, destilam seu veneno mortífero por todos os lados, na tentativa de atingir quantos puderem. A estes, o texto bíblico os chama ao arrependimento, ao cumprimento das obras de justiça, à confissão dos pecados e à mortificação de sua própria carne rebelde. As Escrituras não os convidam a sair da igreja, mas a converter-se de seus maus caminhos.

A conversão genuína é um convite a todos, aos “igrejados” e aos “desigrejados”.

Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam;
Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
Atos 17:30-31

Soli Deo gloria!

© C. K. Carvalho
Teólogo e Cientista Social
Pastor Sênior da Comunidade Batista Bíblica
Fundador da ONG ABAN Brasil

Notas





[1] Utilizei-me das informações contidas no Censo Demográfico do IBGE de 2010. Lá estão as características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/94/cd_2010_religiao_deficiencia.pdf

[2] Na revista online Teologia Brasileira há uma matéria com o título: Niilismo eclesiástico: uma análise do movimento dos desigrejados, do Pr. Idauro de Oliveira Campos Júnior. Disponível em: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=390

[3] Do artigo: Assalto ao Estado e ao mercado, neoliberalismo e teoria econômica, do Prof. Luiz Carlos Bresser-Pereira da Fundação Getúlio Vargas, publicado em 2009 em Estudos Avançados. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v23n66/a02v2366.pdf

[4] Só para se ter uma ideia simples de como isso chegou aqui, deixo o link da Igreja Gnóstica do Brasil. Disponível em: http://www.gnose.org.br/

[5] 1 Pedro 2.21-24 descreve exatamente isso.

[6] Sermão do Monte. Mateus 5.46.

[7] 1 Coríntios 13.7. Chamo este capítulo de Salmo do Amor.

[8] Extraído da Enciclopédia Barsa, volume 10, de 1977, pois considero que esta e a Britânica são as melhores fontes de compreensão de termos mais antigos e originais.

[9] Marcos 12.28-31

[10] 1 Coríntios 12.12-27.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Deus é violento?


Deus é violento?

Reproduzo abaixo um texto que escrevi como resposta de uma pergunta que foi feita aos alunos virtuais do curso de integralização de créditos na Universidade Metodista, dos quais eu faço parte. Ao final do texto, acrescento um pequeno parágrafo e um texto bíblico.


É extremamente infantil e desonesto tentar analisar os relatos de violência e guerras descritos na Bíblia acerca das ações dos homens da antiguidade com os olhos da perspectiva tolerante, solidária e antiviolenta do Ocidente do século XXI e tampouco, não compreendendo que essas práticas eram perfeitamente normais e aceitáveis ao estilo de vida deles. E é claramente óbvio que os povos se utilizariam de sua fé particular em qualquer deus que fosse para justificar ou não suas vitórias militares. Mais comum que isso impossível.

O profetismo por sua vez, não revela um Deus violento, mas um Deus que estabeleceu suas leis e nelas, prescreveu as conseqüências muito antes delas acontecerem. Quando as circunstancias que atraíam essas conseqüências foram praticadas pela nação, os profetas foram enviados por anos a fio para fazer com que o povo de Deus retornasse à obediência, isso não acontecendo, o básico era a manifestação do “juízo”, ou seja, da concretização das conseqüências.

Até os nossos dias vemos isso costumeiramente. Há aplicação de penas e de punições das mais variadas por aquilo que os homens e mulheres cometem contra as leis estabelecidas para o bom convívio social. Estas leis, muitas delas, foram escritas e promulgadas há séculos ou décadas e têm valor real para uma nação. Se elas forem quebradas ou violadas, a punição ou o “juízo” penal virá sobre o indivíduo ou o grupo que assim agir.

Os escritos neotestamentários seguem os mesmos princípios. Há conseqüências, inclusive eternas, para os que violam as leis e os mandamentos de Deus, para os que rejeitam o ato de amor de Deus em Cristo na cruz e assim por diante. Isto não significa que Deus é violento, mas que Ele não é eternamente irresponsável pela violência dos homens e dará resposta a ela, seja em vida ou na pós-vida. Nós é que fomos moldados culturalmente e academicamente a pensamentos que não refletem a revelação de Deus nas Escrituras como um todo e procuramos alternativas para a verdade nelas mostradas.

Por muitas vezes, nossa mentalidade acadêmica e científica, afirma fatos, mas nega a verdade.

Acrescento o que o Deus do “Antigo Testamento” disse através do profeta Jeremias, mesmo ante a destruição que viria por meio dos babilônicos e do cativeiro ao qual o povo seria enviado. Seu desejo futuro e promessa de restauração começam com estas palavras:

Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.
Jeremias 31:3


Carlos Carvalho
Todos os direitos reservados 2014

quarta-feira, 6 de agosto de 2014


Retorno ou Avanço?

Frequentemente se ouve daqueles que são mais antigos na membrezia das igrejas que não há mais pregadores, mensagens, músicas e vida cristã como antigamente. Em parte esses queridos têm razão, não porque cremos em seus espíritos saudosistas, mas precisamente porque eles percebem que, na maioria das suas observações, os cristãos atuais não são quase em nada parecidos com os de sua época ou geração.

Estes amados e amadas mais velhos (de membrezia, não necessariamente em idade) não estão querendo um retorno aos seus “tempos de outrora” como forma de resolver os problemas que vêem – pois sabem que isso é impossível – mas, inconscientemente ou não, clamam por um retorno da espiritualidade, da seriedade, da mensagem mais bíblica, do testemunho da vida transformada, do louvor e adoração sem excessos carnais e comerciais que marcaram seus corações antes.

No mesmo barco que estes, vivem os mais jovens membros das igrejas modernas ou pós-modernas, que não compreendem o passado, não admitem “coisas antigas”, que dominam a tecnologia e desejam uma igreja que lhes seja relevante, agradável e atualizada. Para os tais, o louvor e a adoração precisam ser extravagantes, dinâmicos, inovadores, com toda a parafernália de som e luz e por aí vai. A mensagem precisa ser atual, sensível aos problemas sociais e dramas existenciais, utilitarista, mais cativante e interessante, por isso mesmo, o conteúdo é menos importante, desde que atinja suas necessidades mais urgentes.

Ser pastor ou líder eclesiástico num ambiente ambíguo desses é uma tarefa duplamente árdua. Por um lado, ele deseja que os membros mais antigos permaneçam na igreja e continuem sentindo-se parte da comunidade de fé sem lhes ferir a alma, por outro, também deseja que os mais novos sejam igualmente cuidados e supridos em suas necessidades, sem tampouco lhes dar razões para que seu senso de liberdade atual não prejudique a sua caminhada cristã ou seu real crescimento espiritual.

Eis um fato inquestionável: não se fazem mais pastores como antigamente, nem se gera mais crentes como antigamente, isso porque não vivemos no passado, nem como antigamente. Tudo mudou ou está mudando rápido demais. Os padrões sociais que se tinha antes estão drasticamente definhando a cada ano e novas formas de comportamentos (não necessariamente melhores) estão aparecendo e tomando lugar no mundo cada vez mais rápido. Até os governos ocidentais mudam em função destes novos tempos.

Com isso temos os maiores desafios pastorais e eclesiásticos para resolver hoje. Em primeiro lugar, encontrar uma eclesiologia que abarque, senão a todos, ao menos a maioria dos membros de nossas comunidades criando um ambiente onde possam ser estimulados à plenitude da vida com Cristo, e segundo, é necessário pregar uma mensagem atual, sensível aos problemas do ser humano e inspiradora, sem, contudo, abrir mão do conteúdo bíblico e da doutrina dos apóstolos. Isto sim são desafios contemporâneos!

E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão;
Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão.
E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho.
Lucas 5.37-39


Bp. Carlos Carvalho
Teólogo e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica


quinta-feira, 31 de julho de 2014

as Provas da Fé


As Provas da Fé


Por definição teológica a fé não é crer em algo ou em alguma coisa por ausência de provas. Jamais o conceito de fé foi ou pode ser concebido sem evidências que corroborem a própria crença na qual a fé se apóia (ao menos o conceito de fé plenamente desenvolvido no Novo Testamento). Qualquer erudito ou teólogo, estudioso ou curioso das palavras e suas definições poderia dizer que a fé é crer naquilo que não se vê, mas não por falta de evidências comprobatórias, porque isso não seria fé, estaria próxima de ilusão, utopia ou qualquer outra coisa, mas não da fé.

A fé se baseia em evidências espirituais, em evidências criacionais e em provas resultantes de seu exercício. A fé exige que provas sejam dadas para que ela se estabeleça na mente do que crê. Isso pode parecer estranho para os que não estão inteirados dos textos, das línguas originais e da ciência teológica, mas é exatamente isto que a fé significa e pede. A fé é anterior às provas e evidências, mas não deixa de exigi-las.

Claro que a crença em coisas que não podem ser estudadas, observadas ou verificadas com a tecnologia que dispomos está em voga aqui também, mas a fé vai, além disso. Ela vê e recebe literalmente o resultado por evidência, por observação daquilo em que ela se põe a buscar ou a acreditar. Ao final do seu período normal de “gestação” ou “criação”, a fé verá diante dos seus olhos aquilo pelo qual ela colocou seu foco.

Na ciência existem coisas semelhantes. Existem seres, objetos e elementos que são considerados inobserváveis, mas podemos perceber as suas evidências – que são manifestações secundárias – mas nenhum cientista descrê que tudo isso exista, do mais inobservável ser ou partícula ao espaço e corpos celestes mais distantes. Todas essas coisas testemunham de um tipo de crença, sem provas concretas, mas com evidências, e nem por isso são descartadas como inexistentes.

A fé faz exatamente o mesmo. Ela vê e recebe o resultado evidente – que são as provas concretas – daquilo no qual ela pôs seu foco e atenção. Da mesma forma, qualquer tentativa de fazer com que se entenda que a fé é outro tipo de conceito é falaciosa, incongruente e maliciosa. É erro tácito se utilizar de senso comum para definir a fé, pois assim, se toma por empréstimo uma palavra carregada de sentido objetivo como esta e a mistura com sentimentos, ilusões, mitos e coisas afins.

Isso não passa de armadilha semântica, joguinhos de palavras e desonestidade intelectual, coisas que são bem comuns nos ambientes infectados de parca inteligência bem conhecidos pelos defensores da fé.


C. K. Carvalho
Teólogo

Referências:

COENEN & BROWN, Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.) ; [tradução Gordon Chown]. – 2.ed. – São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 809ss.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo: volume 5: Filipenses à Hebreus / Russell Norman Champlin. São Paulo: Hagnos, 2002. p. 616-619.


sexta-feira, 18 de julho de 2014


Sofrimentos, Tragédias e Caos no Mundo

Li hoje um trecho de certo livro que descrevia a maldade, a doença e a morte trágica de duas formas: como atos de Deus em punição aos humanos ou que estes mesmos males são a demonstração de que Deus não é poderoso o suficiente para eliminá-los do mundo. Portanto, o texto diz que Deus não liga para o que acontece com os seres humanos, que Ele não é bom nem onipotente. Ou seja, qualquer que seja o resultado do que aconteça por aqui, tudo é, ao final, culpa de Deus.

Mesclar uma quantidade de exemplos dos sofrimentos de pessoas reais, sofrimentos concretos pelos quais elas passaram e somar tudo isso ao nosso sofrimento e tragédia particular não nos trará as respostas que procuramos, ao contrário, acumulará mais confusão e menos discernimento sobre o foco principal de nossas questões existenciais. Frequentemente, todas as “respostas” que encontramos a partir dessas premissas e perspectivas serão equívocos sobre a natureza de Deus.

Um
Ao abordar o sofrimento humano na perspectiva humana considerando Deus como um eterno benfeitor dos homens, sem levar em consideração as próprias decisões humanas sobre a vida como um todo, e, ao mesmo tempo, quando coisas ruins ou negativas recaem sobre pessoas que consideramos “boas”, “inocentes” e “honestas”, sem levar em conta que diante de Deus não há ninguém nestas condições no planeta é cometer um tremendo equívoco quanto à santidade de Deus e quanto à distância do homem em relação a Deus.

Dois
Colocar a questão do sofrimento, doença e morte dos homens sobre a ótica do “merecimento”, onde “fazer o bem traz o bem e fazer o mal traz o mal”, ou qualificar estes mesmos males como sinais de que a bondade e o poder de Deus são insuficientes ou improváveis, é tão grotesco quanto considerar que Deus está obrigado a satisfazer todas as nossas necessidades e nos manter seguros e sadios, mesmo quando não estamos dispostos a levar em conta a sua vontade ou que Ele deva sempre agir a qualquer momento a nosso favor por apenas acharmos que fazemos a sua vontade.

Três
Procurar compreender a Deus de forma parcial – apenas na ótica da Lei e dos Profetas – sem a revelação de Jesus Cristo como o Messias e Servo sofredor das Escrituras Sagradas, somente aumentará a frustração por não entender que o próprio Deus tomou para si a capacidade de sofrer pelos homens em seus traumas mais profundos quando entregou seu Filho para morrer em nosso favor. Deus se solidarizou com o nosso sofrimento e tragédias pessoais quando pessoalmente se envolveu com a morte violenta de Jesus causada pelos homens que deveriam amá-lo.

Quatro
Não compreender a particular circunstância à qual Jesus foi exposto pela ação de Deus para corrigir os erros dos homens na cruz e em como essas ações o levaram a perceber que por causa dos pecados humanos, o próprio Deus, seu Pai, deveria olhar para o outro lado até que tudo se consumasse, e Jesus sentisse em sua alma a separação de Deus quando clamou: “Deus meu, porque me desamparaste?” é não possuir a perspicácia necessária para ver o quanto Deus se importa conosco.

Cinco
Não levar, ao final, em conta o preço do pecado original ou não acreditar que o ato de Adão foi o causador e desencadeador de todos os males da humanidade e que isso não foi culpa do Criador, mas da criatura que possuía o poder de escolha, é o mesmo que acreditar que um mundo criado por Deus, com a capacidade doada do livre arbítrio ao homem não traria com isso a possibilidade do mal, do sofrimento e do caos social. Os avisos de Deus não foram ouvidos por Adão assim como não são ouvidos pela humanidade de hoje.

Seis
A morte, não importa como ela venha, com que roupa se vista ou de que maneira seja vista – seja como doença mortal, como violência, como tragédia ou natural – sempre será a morte, o fim da existência, e, mesmo que não gostemos disso, ela será sempre o fruto de um erro humano que somente o sacrifício voluntário de Jesus poderia corrigir, mas não apenas para esta vida, porém para além dela, uma vida eterna que possibilitará vivermos sem sofrimentos, sem tragédias e sem a presença da morte.

Concluindo
As palavras de Deus que ecoaram no Éden naquele fatídico dia ainda podem ser ouvidas até hoje:
“...Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?”
Gênesis 3:11
Porque Deus já os havia avisado antes:
“Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.”
Gênesis 3:3

Portanto, a morte, por mais que rejeitemos o fato concreto sobre ela – o fruto da escolha equivocada do ser humano – sempre será nesta existência, a coisa mais vista, registrada e reconhecida por todos nós, mesmo que ela altere sua configuração e apresentação para cada tipo de pessoa ou grupo. Há no cosmo aquilo que entendemos por “constantes” ou “forças contínuas”, como a gravidade e o tempo, mas ouso dizer que a morte é uma das maiores constantes no universo.

E para não perecer que sou insensível e duro demais com o sofrimento alheio digo isto: eu e minha esposa perdemos o nosso filho (perfeito e sem doenças) por conta de um agravamento inesperado no parto que lhe parou o coração no dia do seu nascimento. Temos três maravilhosas filhas e desejávamos o nosso menino, porém jamais culpamos a Deus ou a ninguém pelo ocorrido, nem jamais procuramos “respostas” para o porquê disto ter acontecido conosco, apenas aceitamos o fato que este tipo de coisa podia ocorrer com qualquer um num universo onde o mal e a dor são uma possibilidade real, mesmo debaixo de grande sofrimento para minha esposa que ecoa até hoje em sua alma.

“Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.
Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto vivem, e depois se vão aos mortos.”
Eclesiastes 9:2-3

Para nós, diferente daqueles que não possuem uma revelação mais plena de Deus em Jesus Cristo, Deus é onipotente, todo-poderoso, bondoso, amoroso, pai, justo, santo, puro e fiel. E todos os que exercem fé simples e pura em seu amor e poder sabem que a vida não é perfeita, pois ela foi contaminada com o pecado inicial, mas que isto será plenamente solucionado por Ele no novo universo que criará para seus escolhidos.

“Ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis.”
Apocalipse 21:3-5


Bp. Carlos Carvalho
Teólogo e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica

3 de julho de 2014

terça-feira, 1 de julho de 2014

Devarim – as Palavras

Disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei.
Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir.
Deuteronômio 32.46-47

O ano é cerca de 1400 antes de Cristo. Diante de Moisés está uma multidão incontável de homens, mulheres e crianças, próximos do cumprimento da promessa que Yahweh havia feito a eles de dar-lhes uma terra para que eles se tornassem uma nação. Moisés não entrará nesta terra, mas a verá de longe. Morrerá ali no monte de onde a olhará e aquela multidão nunca mais o verá.

Diante desta realidade, Moisés está organizando os últimos detalhes para a empreitada na terra prometida e, sem saber, a sua partida desta vida. Ele dá várias orientações ao povo, aos líderes e a Josué, repete as leis e algumas reinterpretações dela para o novo tempo que virá. Antes de saber de sua morte e de liberar as bênçãos sobre as tribos, ele fala as palavras que destaquei acima.

Estas palavras foram dirigidas à congregação de Israel no deserto defronte da terra de Canaã e são ordens expressas para o povo e para seus filhos. É certo que elas são históricas, para um tempo determinado, mas possuem o que chamo de princípio espiritual imutável, que ultrapassa o tempo e a cultura local para além daquele momento específico.

Qual ou quais os princípios que podemos encontrar neste pequeno texto que serve de referencial para qualquer geração em qualquer época da existência humana? É isso que tentarei demonstrar aqui em poucas sentenças. É necessário saber que a palavra do título “devarim” é a palavra usada pelos rabinos para se referir ao livro do Deuteronômio. Ela significa simplesmente “as palavras” ou “palavras”. Isso é muito sugestivo para o propósito do livro.

São as palavras ou o conteúdo dessas palavras que se revestem de extrema importância para o povo de Deus, não somente do século XV ou XIV a.C., mas para todo o povo de Deus em cada nação e em cada época. Portanto, as palavras que foram ditas e posteriormente registradas são uma fonte inestimável de sabedoria e riquezas espirituais que podem mudar a vida do que crê nelas e aquilo que está ao seu redor. Vamos a elas.

“Aplicai o vosso coração”

Isto significa simplesmente que as pessoas deveriam prestar atenção àquilo que estava sendo dito (que seria escrito) com a finalidade que nunca deixassem de lado essas orientações e que as passassem aos seus filhos com o mesmo cuidado e reverência, pois o destino de ambos – deles e de seus filhos – dependia de como eles se relacionassem com esses ditos.
Hoje, na Nova Aliança não é diferente. É igualmente necessário atentar com cuidado para as palavras do Senhor e para os escritos dos apóstolos por causa de todos os ataques que a verdade bíblica sofre e também porque o nosso destino eterno e o de nossos filhos dependem de como lemos, de como entendemos e de como aplicamos essas verdades às nossas vidas. Ninguém ousaria dizer que as palavras de Jesus não devem ser levadas em elevada conta, ao menos um cristão genuíno.

“O cuidado de cumprir”

Eles deveriam fazer o esforço necessário para não deixar de cumprir nenhum item dos ditos e fazer com que seus filhos reproduzissem a mesma coisa. A obediência é o que está em foco aqui. Tanto o povo como a sua descendência deveriam viver em obediência às palavras que estavam sendo ditas para que esta relação de “ouvir e cumprir” trouxesse os benefícios que foram prometidos a eles.
É semelhante nos dias atuais. Em Cristo Jesus, na Nova Aliança, somos reiteradas vezes advertidos a cumprir e obedecer aos mandamentos do Senhor para cada indivíduo e para a sua igreja, tanto no particular como no coletivo. Não há alternativas atenuantes, devemos ter o mesmo princípio de obediência. Ou será que acreditamos que receberemos as promessas celestiais e a vida eterna sem nenhuma obediência?

“Esta palavra não é vã”

A ideia é que nada que Deus tenha dito, neste caso por revelação especial a Moisés, deve ser descartado como inútil ou sem sentido. Tudo o que Deus falou, tudo o que for dito e escrito que procede de Deus, todas as suas orientações e leis são úteis ao seu povo, pois elas são carregas de um propósito original e futuro. Por isso seu povo deveria possuir uma atitude correta em relação a estas palavras.
É por isso que falo de princípios supraculturais e supra-históricos, pois eles superam as barreiras do tempo e da história e falam a nós hoje, num tempo e época diferentes, a pessoas de culturas diferentes, mas com a mesma força de outrora. A palavra de Deus, as palavras de Jesus e dos apóstolos são exatamente assim, não são vãs ou inúteis, todas têm propósito e futuro.

“É a vossa vida”

Moisés disse àquelas pessoas que as palavras ditas e escritas seriam a fonte da vida delas. Isso é muito forte. Isto equivale a dizer que a própria existência de alguém está diretamente relacionada com uma palavra. Isso é poderosamente absurdo e é exatamente a ideia que Moisés queria passar. A vida de cada pessoa ali dependia daquelas palavras proferidas até aquele exato momento.
Na Nova Aliança é igual. A ideia de Deus permanece a mesma. Nós devemos viver, andar e agir de acordo com as palavras do Senhor. Elas são para os cristãos a sua fonte de vida e da própria existência. Suas palavras nos orientam e moldam nossa nova natureza. É por elas, que qualquer que diz servi-lo e amá-lo, deve guiar-se e conduzir-se pela vida e pela história. Ao final farei referência a algumas delas.

“Prolongareis os dias”

Israel como nação e cada pessoa desta nova nação somente possuiria longevidade (longos dias) relacionando-se adequadamente com estas palavras. Isso significa que a própria definição de vida longa para eles dependeria do cumprimento daquelas palavras. Obedecer às palavras de Deus traria anos de vida, paz e segurança para o povo, algo extremamente necessário para eles diante do desconhecido e do futuro proposto ao entrarem na terra prometida.
Hoje sabemos que os índices de mortalidade dos adolescentes e jovens por vezes superam o infantil e o de idosos. Isto significa que uma parte significativa de nossa geração não chegará à velhice porque têm morrido por fruto de comportamentos irresponsáveis consigo mesma, como uso de drogas, de tabaco, de álcool, da promiscuidade sexual e da entrada na criminalidade. Então, urgentemente nossa geração precisa se voltar à palavra do Senhor para que seus dias se completem e suas vidas sejam plenas.

As palavras do Senhor Jesus

Quero fazer referência a algumas palavras ditas por Jesus e a relação delas com nossa vida, com nossa existência e com nossa maneira de agir, para mostrar – mesmo sendo desnecessário a cristãos genuínos – a importância que elas têm. Faremos bem ao usarmos os mesmos princípios de “aplicar o coração e obedecer” que vimos até aqui com elas.

Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
Mateus 4.4

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.
Mateus 28.19-20 (negrito nosso)

O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida.
João 6.63

Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
João 8.51

Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.
Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar.
E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.
João 12.48-50

Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.
João 14.23-24

Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
João 15.7

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.
João 17.17

Pense nisso!


Carlos Carvalho
Teólogo e Pastor Sênior da Comunidade Batista Bíblica

27 de junho de 2014